quinta-feira, 17 de novembro de 2022

A consciência do povo?

 

Diante da crônica que fiz análise sobre o resultado das eleições presidenciais, uma atenta pessoa houve por bem se manifestar em contraposição ao meu texto, tendo alegado que o povo teria ouvido sua consciência para permitir que se operasse a democracia, sob a ótica de que pior do que se acha o Brasil não pode ficar, concluindo que teve orgulho de contribuir para derrotar o desgoverno.

Não se discute a consciência soberana do povo, que nunca foi levado pela voz da elite, mas, sim, muitas das vezes, pela vontade política, sob o estilo do recriminável coronelismo que ainda impera em determinados currais eleitorais de regiões remotas do país.

Não obstante, com base na alegada democracia, pode-se sim   questionar o resultado da consciência do povo, quando o seu voto tem repercussão nos direitos de todos os brasileiros, mesmo que parte deles tenha sido afetada, como consequência da votação notoriamente estapafúrdia, com a eleição de político sem a mínima condição ético-moral para governar o país com a grandeza de valores do Brasil.

Diante da evolução da humanidade, não é mais possível se vangloriar do princípio democrático, que é o sublime instrumento da soberania da vontade popular, para se votar em quem não preenche os mínimos requisitos de moralidade, sob os mantos sagrados da conduta ilibada, da imaculabilidade e da idoneidade, na vida pública.

Essas são as exigências da própria democracia, sob a inteligência de que nunca vai respaldar forma promíscua para se eleger político ficha suja, diante da prática do crime de improbidade administrativa, pior ainda sob a inadequada justificativa da existência de desgoverno, porque seria o mesmo que se recorrer a artifício para a tentativa da busca de respaldo para a prática de gravíssimo erro político-eleitoral.

Há pessoas que somente preferem analisar e justificar os fins para se atingir os meios, não importando de que maneira isso seja possível, como parece ser a onda avassaladora de quem elegeu para presidir o Brasil autêntico ficha suja, notoriamente envolvido em nebulosos casos de desvio de bilhões de reais, no seu governo, que a falta de memória do povo ajudou a esquecer, por completo, o que de mais grave aconteceu na gestão pública brasileira.

A bem da verdade, os atos delituosos foram confirmados e comprovados por meios de investigações policiais e julgamentos judiciais, não deixando qualquer margem de dúvidas sobre a índole criminosa predominante no governo dele, conforme comprovam os esquemas delituosos do mensalão e do petrolão.

Em que pesem as condenações judiciais terem sido anuladas, não por força do exame do mérito das ações penais propriamente, que continuam com plena validade, o que significa dizer que a suspeita da autoria dos atos delituosos continua sobre os ombros do político, que, em nome da democracia, por força de lei, precisa provar a inculpabilidade sobre esses atos, junto à Justiça, como forma da necessária obtenção do nada consta, por ser exigência legal e republicana.

Percebe-se facilmente que a questão de fundo não é tão simplista de se concluir e se afirmar que houve a confirmação da consciência democrática do povo livre, porque isso é tão somente meia-verdade, precisamente porque a operacionalização em si disso não condiz exatamente com o desiderato ínsito dos princípios democráticos, que exigem lisura em casos que tais, no sentido de que os candidatos apresentem fichas limpas.

Ou seja, é preciso que se observem o princípio da legitimidade em tudo, inclusive, em especial, no que se refere ao próprio candidato, que não pode representar o povo sendo ficha suja, mesmo que não tenha condenação judicial, não importando ao caso, porque é preciso se aquilatar se existe algo errado contra ele, na forma de questionamentos sobre desvio de conduta moral ou de processos penais correndo na Justiça.

No caso vertente, existem sim questionamentos na Justiça e isso demonstra clássica maculabilidade incompatível, em termos de moralidade democrática, com os princípios republicanos, no que se refere à prática de atividades políticas e ao exercício de cargo público eletivo.

Na verdade, nos países civilizados e evoluídos, ninguém sob suspeitas graves na Justiça, em respeito à honradez e à dignidade do eleitor, pode sequer praticar atividades políticas e, quanto mais grave ainda, disputar eleição antes de ter seu nome limpo nos tribunais.

Por fim, diante da importância das consciências cívica e cidadã, é impossível se vislumbrar ter orgulho de ser brasileiro, como de fato todos dizem ter, depois de ter votado em quem não consegue provar a própria inocência, com relação aos fatos inquinados de irregulares, cuja autoria lhe é atribuída em tribunais, porque isso é o mínimo que se espera de todo verdadeiro homem público, em respeito tanto à dignidade do Brasil como à dos honrados eleitores.

Não tem nada de verdade na conclusão de que pior do está não pode ficar, quando o governo atual pode nem fazer excelente gestão, a depender de quem o avalia, mas as contas públicas estão tendo desempenho razoável, com a inflação sob controle, todos os governos pagando as suas despesas normalmente e sem notícia sobre a comprovação de corrupção, salvo caso aqui e ali de suspeita, mas sem nenhuma confirmação como as que aconteceram no passado.

A despeito disso, o futuro do Brasil é totalmente incerto e não sabido, quando o presidente eleito sequer apresentou plano de governo, fato este que ele já inicia os trabalhos sem rumos de absolutamente nada, porque não existem metas nem projetos sobre o que precisa ser implementado em benefício do Brasil e dos brasileiros.

Assim, com absoluta certeza, não pode ser verdade que o povo tenha ouvido a própria consciência, mas se realmente essa tenha sido a intenção, ele teve o infortúnio de agredir e ferir mortalmente a democracia, por ter votado, sem o menor escrúpulo nem o brio do brasileiro, em autêntico politico ficha suja, exatamente por terem, contra ele, pendentes de julgamento pela Justiça, gravíssimos casos envolvendo suspeitas de irregularidades na gestão dele.

Brasília, em 17 de novembro de 2022

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