sábado, 5 de novembro de 2022

A lição de Maquiavel

 

O texto abaixo vem circulando nas redes sociais, cuja intenção parece não ser mera coincidência, diante do momento político que vem atravessando o Brasil, quando homem público sem a menor condição moral, em termos de qualidades e imaculabilidades políticas, acaba de ser eleito para o relevante cargo de presidente da República, para o qual se exige do ocupante os melhores predicativos de moralidade, dignidade e honestidade, entre outros, como verdadeiro modelo de gestor público correto perante os seus comandados.

Não obstante, ao contrário disso, ele se tornou o símbolo da desonestidade do administrador público, por responder a vários processos penais, na Justiça, sob a acusação de graves suspeitas de ter se beneficiado de recursos públicos, por meio do recebimento de propinas, conforme as investigações levadas a efeito e os julgamentos judiciais, que são conhecidos da opinião pública, dada a sua relevância quanto aos danos causados à sociedade.

Esses fatos são notoriamente incompatíveis tanto com a prática de atividades políticas como com o exercício de cargo público eletivo, diante da impossibilidade do indispensável atendimento, por parte do candidato eleito, aos requisitos da conduta ilibada e da idoneidade, na vida pública, em que pese o entendimento de eleitores, segundo o qual seja normal e aceitável a predominância da desonestidade na administração pública brasileira, a despeito da obrigatoriedade da observância aos princípios republicano e democrático, na administração do Brasil.

Na verdade, a configuração de constrangimento faz o Brasil, necessariamente, se voltar para o longínquo e atrasadíssimo século XV, onde o escrachado desleixo perante os princípios da moralidade e da honestidade, na administração pública, já campeava celeremente e era assinalado e decantado, em textos claros e objetivos, condenando com a necessária veemência que realmente se fazia notar, por parte das pessoas honradas e dignas já naquela época, a administração pública apenas se engatinhava.

Ao contrário disso, se passaram muitos séculos e a história mostra que o homem moderno declara, com plena convicção, nas urnas, que realmente não conseguiu aprender foi coisa alguma sobre a grandeza dos princípios da moralidade, da dignidade, da honestidade, entre outros, sobre a imperiosa obrigatoriedade da observância da integridade na vida pública, quando da escolha dos governantes, em que os bons princípios, na forma do bom senso e da racionalidade, aconselham que somente os homens públicos imaculados devem exercer cargos públicos, em proveito dos princípios republicano e democrático, que existem exatamente para serem respeitados e jamais menosprezados, como foram nestas eleições.   

Eis o magnífico texto referido na inicial: “Um povo que aceita passivamente a corrupção e os corruptos, não merece a liberdade. Merece a escravidão. Um país cujas leis são lenientes e beneficiam bandidos, não tem vocação para a liberdade. Seu povo é escravo por natureza. Um povo cujas instituições, públicas e privadas, estão em boa parte corrompidas, não tem futuro. Só passado. Uma nação, onde a suposta sociedade civil organizada não mexe uma palha se não houver a possibilidade de lucros, não é capaz de legar nada a seus filhos, a não ser dias sombrios. Uma pátria, onde receber dinheiro mal havido a qualquer título é algo normal, não é uma pátria, pois nesse lugar não há patriotismo, apenas interesses e aparências. Um país onde os poucos que se esforçam para fazer prevalecer os valores morais, como honestidade, ética, honra, são sufocados e massacrados, já caiu no abismo há muito tempo. Uma sociedade onde muitos homens e mulheres estão satisfeitos com as sórdidas distrações, em transe profundo, não merece subsistir. Só tenho compaixão daqueles bravos, que se revoltam com esse estado de coisas. Àqueles que consideram normal essa calamidade, não tenho nenhum sentimento. Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão!". De o Príncipe (Nicolau Maquiavel, 1469 a 1527).

Enfim, a importante lição de seriedade, dignidade e honestidade que se exige da sociedade, do político, do governante e do estado ainda não foi assimilada e aprendida, pelo menos, no Brasil, em que muitas pessoas ainda precisam voltar às aulas, para repetirem, em reiteração, as aulas sobre o que existe do mais nobre no homem, que é o respeito aos princípios, entre outros, os da moralidade, da honestidade e da integridade, como forma de valorização de si mesmo e da sociedade, em termos de civilidade.

Não há a menor dúvida de que a liberdade de um povo, em termos políticos, só depende dele mesmo, quando o seu voto tem o melhor  aproveitamento na escolha da pessoa certa para o lugar certo, o que, diante disso, certamente, não se pode admitir que político que responde a processos sob suspeita de prática de improbidade administrativa possa se harmonizar com a ocupação do principal cargo brasileiro.

Isso é robusta prova de leniência com a criminalidade, quando o povo tem o dever de exigir as mãos limpas, a ficha ilibada, o nome imaculado do político, sem nada pendente de julgamento na Justiça, para eleger seu representante político, mas não o fez, como foi visto na última eleição, quando homem público em total decadência moral se elege ao principal cargo do país.

Enfim, a história vem prestando importantes lições ao homem, como nesse caso, em que o sentimento de honestidade e moralidade dele não evoluiu coisíssima alguma, ao longo dos séculos, quando a sua compreensão acerca da evolução moral continua estagnada ou até mesmo depauperada, a se imaginar que a sua natural evolução, desde aqueles tempos idos, jamais se permitiria se eleger político condenado à prisão, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, para exercer o cargo de presidente da República, porque isso acentua, de forma cristalina, a regressão do próprio homem.

Assim, esperam-se que o homem se conscientize sobre a necessidade da sua purificação, em termos políticos, de modo que os cargos públicos somente sejam ocupados por quem preencher os requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, porque isso é apenas o óbvio do homem moderno.

Brasília, em 5 de novembro de 2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário