sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Em defesa da honra?

 

Uma importante jornalista paraibana saiu em defesa da honra de seus conterrâneos, sim aqueles que foram xingados, Brasil afora, pelo fato de terem votado no candidato eleito.

Achei muito interessante o esforço dessa jornalista, em tentar resgatar a lembrança de grandes paraibanos, inclusive a memória de ilustres pessoas mortas, para o enaltecimento das qualidades dos valores intelectuais e culturais da gente paraibana, no que eles têm de melhor no mundo da intelectualidade e da inteligência, sem dever nada para o resto dos brasileiros.

Realmente, os paraibanos são tudo aquilo o que a jornalista disse e muitos mais, em termos de sentimentos próprios dos sertanejos, porque o nosso povo é incomparavelmente valoroso, forte e digno do maior respeito e sobre isso não há a menor dúvida.

Não obstante, em que pese todo esse esforço, a causa não é sobre se tentar mostrar para o resto do Brasil a honra do povo da Paraíba, que tem bastante personalidade, que é exposta naturalmente, que nem precisava a invocação até mesmo de quem já não existe mais entre nós.

Isso não leva a absolutamente nada, uma vez que se trata de se discutir o sentimento da moralidade de pessoas, em que muitos paraibanos votaram em candidato que é símbolo da desonestidade brasileira, à das ações penais contra ele, nos Tribunais, e, para isso, não existe justificativa alguma, nem mesmo com menção aos mortos ilustres, uma vez que isso não passa de blasfêmia, ao se invocar os nomes deles, porque não tem efeito de causalidade.

A meu juízo, não faz o menor sentido, não somente com relação aos paraibanos, mas aos brasileiros, a invocação da beleza e da grandeza regional de um povo, mesmo se reconhecendo as suas notórias qualidades intelectuais, culturais, educacionais etc., quando ele resolve, de forma voluntária, acolher como seu candidato preferido pessoa que não tem personalidade moral, em termos políticos, como tal reconhecido pela Justiça, que o condenou à prisão, em razão de ele ter sido envolvido com atos irregulares, na gestão dele, à vista do recebimento de propinas, provenientes de dinheiro dos contribuintes.

À luz da sensatez, na melhor forma de compreensão humana, não tem o menor cabimento que pessoas consideradas as mais nobres e honradas votarem em político nessas condições para presidente da República, porque isso não é legítimo, sob o prisma do civismo e da cidadania, salvo na compreensão de quem acha que é normal a desonestidade na administração pública.

Depois de ter votado de forma fora da curva, quer queira ou não, porque os fatos mostram exatamente isso, não é justo que a pessoa venha fazer uso do poderoso álibi da honra paraibana para respaldar o seu ato diferenciado da normalidade, por meio do sentimento de ser brasileiro ou paraibano, como forma de abonar o seu voto nada republicano.

Ou seja, para quem votou em candidato que não reúne as necessárias qualidades para o exercício do cargo, isso pode ser considerado normal, mas merece censura sim, quem acha anormal tal procedimento, a exemplo da defesa promovida pela jornalista, que certamente acha isso normal.

É evidente que ninguém tem direito de ficar criticando atos de ninguém, porque cada qual é responsável por suas decisões, mas seria interessante que não fosse mascarada a realidade dos fatos, uma vez que não se justifica usar o bom nome ou a dignidade de um povo para a tentativa do acobertamento de se votar em pessoa que deve explicações à Justiça.

No caso em comento, o que se discute, por ser de justiça, é a legitimidade do voto a pessoa moralmente em declínio, em termos políticos, por falta de qualidades para o exercício de tão relevante cargo público e isso é induvidoso para as pessoas dignas e honradas, não cabendo a menor justificativa para se colocar na Presidência da República pessoa que ainda responde a processos penais, na Justiça, justamente por seu envolvimento com casos de irregularidades com dinheiro público e isso é fato notório.

Que moral tem esse povo para se invocar a honra do paraibano, que seria injustamente desonrado por abonar voto notoriamente degenerado, por ter sido endereçado a candidato legitimamente registrado, mas absolutamente incapaz de comprovar os requisitos de conduta ilibada  e idoneidade, na vida pública, que é de suma importância para o exercício do importante cargo de presidente da República, cujos requisitos são exigidos normalmente até mesmo nas piores republiquetas?

O certo mesmo é que cada qual assuma o seu voto, sem essa estupidez de ficar magoado e ainda querer apelar para a honra do ser brasileiro ou paraibano, porque, no caso, uma coisa não tem nada a ver com a outra, o que vale dizer que a honra do paraibano é algo indiscutível e não merece ser invocada, neste momento, quando o que está em jogo é a decisão de votar e se responsabilizar por isso, sem necessidade de apelação para a honra de quem não tem nada com o caso.

Enfim, trata-se de discussão absolutamente inútil, que nem deveria existir, uma vez que a honra do paraibano somente deveria ser discutida com relação àqueles que votaram em candidato que ainda precisa prestar contas à Justiça, assim exigidos por força dos atos maculados na gestão dele.

Brasília, em 4 de novembro de 2022

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