Desde
o início do decantado projeto das Unidades de Polícias Pacificadoras (UPP), em
2008, os policiais nunca tinham passado pelo vexame de ser literalmente
expulsos do território que o governo fluminense tinha classificado como “pacificado”,
mas o cenário de extrema violência se transformou, passando da esperança para à
desconfiança, ao medo e à insegurança.
A
situação se encontra caótica e incontrolável, em todos os morros e favelas, com
destaque para os morros da Cachoeira Grande e do Gambá, integrantes do Complexo
do Lins, no Rio de Janeiro, que não contam mais com bases avançadas e qualquer
ação de patrulhamento nesse território, por se encontrarem, agora, sob o
comando dos bandidos e traficantes de drogas.
A
presença dos marginais tem sido bem mais poderosa que o aparato policial, que
foi subjugado, de forma melancólica, em clara demonstração da desmoralização
das autoridades constituídas daquele Estado, fato que representa a verdadeira
decadência da segurança pública brasileira e a insegurança da população.
Ostentando
a sua condição de “donos” do pedaço, evidentemente sem o incômodo da presença
de policiais, criminosos desfilam, nas ruas, de forma majestosa, ostentando armados
de grosso calibre, como fuzis e pistolas de uso exclusivo, a qualquer hora do
dia, em traje à vontade, sem camisa e sem preocupação, segundo filmagem gravada
pelo setor de inteligência da UPP e mostrada pelo site da revista VEJA.
Um
policial lotado na UPP Camarista Meier disse que "Eles (oficiais) não vão
admitir isso publicamente, mas nós estamos fora. Essas duas favelas estão
abandonadas. Perdemos ali. Só quem entra é o COE (Comando de Operações
Especiais) e, mesmo assim, tem que ir de blindado", enquanto a
Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) confirmou que as ações realizadas
ali têm sido feitas pelo COE e a "UPP
Camarista Méier está planejando uma operação em toda a área nos próximos dias",
ou seja, a população daquelas localidades está simplesmente à mercê da
truculência da criminalidade, porque a polícia se recusa a cumprir a
incumbência de combate à criminalidade.
Segundo foi apurado
pela citada revista, existe, na proximidade daquelas localidades, uma cabine
blindada na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, permitindo acesso visual às duas
localidades, mas de acordo com desabafo chocante de um soldado: "Ficamos praticamente o dia inteiro aqui dentro, porque os bandidos
ficam vigiando todos os nossos passos. Até quando vamos ao banheiro eles sabem".
A
reportagem de VEJA comprovou a
informação do policial, tendo verificado que, da porta da cabine é possível
avistar criminosos armados, passeando a todo instante, zombando e ameaçando, quer
pelo rádio, quer balançando a pistola ou apontando como se fossem atirar e, às
vezes, atiram, à vista dos furos constantes do telhado, do lado de fora da
cabine.
Um
oficial do CPP admite que "Ainda
mantínhamos policiais baseados em alguns pontos estratégicos nas duas favelas,
mas depois não teve como manter. Eles eram atacados o tempo todo. Seria um
risco".
As
raras autorizações para as entradas nas citadas favelas tiveram como objetivo a
recuperação de cargas roubadas, sendo que, numa delas, o caminhão de cigarros
até foi recuperado logo na entrada, mas não o material.
A
equipe da revista ainda manifestou intenção de ir ao morro do Gambá, mas um
policial disse que "Não tem como ir
lá. Primeiro porque não temos autorização superior. Segundo, porque não temos
munição suficiente para sustentar o tiroteio que vai acontecer se conseguirmos
entrar lá. Tudo isso sem receber, né?!". O saldado se refere a “sem receber” em desabafo à falta do recebimento
das gratificações de periculosidade e do pagamento de horas extras que o
governo do Rio de Janeiro não paga desde meses.
O
avanço da deterioração do projeto das Unidades de Polícias Pacificadoras já é
pura realidade, cujo cenário vem se agravando de forma progressiva ano a ano,
com a intensificação dos ataques contra as bases policiais, que terminam
sucumbindo, por efetivas fragilidades humana, material e financeira, cujas
dificuldades demonstram muito bem a superioridade de organização, planejamento
e investimentos por parte da criminalidade, que vem mostrando absoluta
competência diante da decadência do Estado, que tem sido pródigo em desprezar
as prioridades na segurança pública e no combate à criminalidade e à violência,
em evidente prejuízo da manutenção da ordem pública e da proteção da sociedade.
Trata-se do fiel retrato da esculhambação,
desmoralização e desordem, pelo indiscutível reconquista do controle de morros,
que passam para o domínio dos traficantes de drogas e da criminalidade, ficando
algumas comunidades do Rio de Janeiro sem a proteção do Estado, em clara
demonstração da inversão da ordem, diante da vergonhosa e inadmissível expulsão
das autoridades constituídas do seu local de trabalho, que deixa de proteger a
sociedade, ficando à mercê da jurisdição e das ordens da bandidagem, que tem o
poder inclusive de monitorar os passos da polícia, sem ser perturbada nas suas
ações de traficância de drogas e de armas.
Os brasileiros precisam se indignar e repudiar, com
veemência, o descaso, a inépcia e a omissão das autoridades públicas incumbidas
da execução das políticas pertinentes à segurança pública, de modo que sejam
priorizadas ações de combate à criminalidade e à violência, jamais permitindo
que a bandidagem imponha seu poder sobre o policiamento do Estado. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de junho de 2016
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