sexta-feira, 17 de junho de 2016

A decadência da segurança pública


Desde o início do decantado projeto das Unidades de Polícias Pacificadoras (UPP), em 2008, os policiais nunca tinham passado pelo vexame de ser literalmente expulsos do território que o governo fluminense tinha classificado como “pacificado”, mas o cenário de extrema violência se transformou, passando da esperança para à desconfiança, ao medo e à insegurança.
A situação se encontra caótica e incontrolável, em todos os morros e favelas, com destaque para os morros da Cachoeira Grande e do Gambá, integrantes do Complexo do Lins, no Rio de Janeiro, que não contam mais com bases avançadas e qualquer ação de patrulhamento nesse território, por se encontrarem, agora, sob o comando dos bandidos e traficantes de drogas.
A presença dos marginais tem sido bem mais poderosa que o aparato policial, que foi subjugado, de forma melancólica, em clara demonstração da desmoralização das autoridades constituídas daquele Estado, fato que representa a verdadeira decadência da segurança pública brasileira e a insegurança da população.
          Ostentando a sua condição de “donos” do pedaço, evidentemente sem o incômodo da presença de policiais, criminosos desfilam, nas ruas, de forma majestosa, ostentando armados de grosso calibre, como fuzis e pistolas de uso exclusivo, a qualquer hora do dia, em traje à vontade, sem camisa e sem preocupação, segundo filmagem gravada pelo setor de inteligência da UPP e mostrada pelo site da revista VEJA.
Um policial lotado na UPP Camarista Meier disse que "Eles (oficiais) não vão admitir isso publicamente, mas nós estamos fora. Essas duas favelas estão abandonadas. Perdemos ali. Só quem entra é o COE (Comando de Operações Especiais) e, mesmo assim, tem que ir de blindado", enquanto a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) confirmou que as ações realizadas ali têm sido feitas pelo COE e a "UPP Camarista Méier está planejando uma operação em toda a área nos próximos dias", ou seja, a população daquelas localidades está simplesmente à mercê da truculência da criminalidade, porque a polícia se recusa a cumprir a incumbência de combate à criminalidade.
          Segundo foi apurado pela citada revista, existe, na proximidade daquelas localidades, uma cabine blindada na Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, permitindo acesso visual às duas localidades, mas de acordo com desabafo chocante de um soldado: "Ficamos praticamente o dia inteiro aqui dentro, porque os bandidos ficam vigiando todos os nossos passos. Até quando vamos ao banheiro eles sabem".
A reportagem de VEJA comprovou a informação do policial, tendo verificado que, da porta da cabine é possível avistar criminosos armados, passeando a todo instante, zombando e ameaçando, quer pelo rádio, quer balançando a pistola ou apontando como se fossem atirar e, às vezes, atiram, à vista dos furos constantes do telhado, do lado de fora da cabine.
Um oficial do CPP admite que "Ainda mantínhamos policiais baseados em alguns pontos estratégicos nas duas favelas, mas depois não teve como manter. Eles eram atacados o tempo todo. Seria um risco".
As raras autorizações para as entradas nas citadas favelas tiveram como objetivo a recuperação de cargas roubadas, sendo que, numa delas, o caminhão de cigarros até foi recuperado logo na entrada, mas não o material.
A equipe da revista ainda manifestou intenção de ir ao morro do Gambá, mas um policial disse que "Não tem como ir lá. Primeiro porque não temos autorização superior. Segundo, porque não temos munição suficiente para sustentar o tiroteio que vai acontecer se conseguirmos entrar lá. Tudo isso sem receber, né?!". O saldado se refere a “sem receber” em desabafo à falta do recebimento das gratificações de periculosidade e do pagamento de horas extras que o governo do Rio de Janeiro não paga desde meses.
O avanço da deterioração do projeto das Unidades de Polícias Pacificadoras já é pura realidade, cujo cenário vem se agravando de forma progressiva ano a ano, com a intensificação dos ataques contra as bases policiais, que terminam sucumbindo, por efetivas fragilidades humana, material e financeira, cujas dificuldades demonstram muito bem a superioridade de organização, planejamento e investimentos por parte da criminalidade, que vem mostrando absoluta competência diante da decadência do Estado, que tem sido pródigo em desprezar as prioridades na segurança pública e no combate à criminalidade e à violência, em evidente prejuízo da manutenção da ordem pública e da proteção da sociedade.
Trata-se do fiel retrato da esculhambação, desmoralização e desordem, pelo indiscutível reconquista do controle de morros, que passam para o domínio dos traficantes de drogas e da criminalidade, ficando algumas comunidades do Rio de Janeiro sem a proteção do Estado, em clara demonstração da inversão da ordem, diante da vergonhosa e inadmissível expulsão das autoridades constituídas do seu local de trabalho, que deixa de proteger a sociedade, ficando à mercê da jurisdição e das ordens da bandidagem, que tem o poder inclusive de monitorar os passos da polícia, sem ser perturbada nas suas ações de traficância de drogas e de armas.
Os brasileiros precisam se indignar e repudiar, com veemência, o descaso, a inépcia e a omissão das autoridades públicas incumbidas da execução das políticas pertinentes à segurança pública, de modo que sejam priorizadas ações de combate à criminalidade e à violência, jamais permitindo que a bandidagem imponha seu poder sobre o policiamento do Estado. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de junho de 2016

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