segunda-feira, 27 de junho de 2016

A fuga da responsabilidade


Um dos principais personagens da Operação Lava-Jato, ex-diretor da Petrobras, revelou ter mágoa da presidente da República afastada, tendo revelado, nas tratativas da sua delação premiada, que ele teria sido "sacaneado" e "jogado no fogo" pela petista, a quem ele chegou a classificar de "maluca".
O mencionado ex-diretor reclamou, em pelo menos dois momentos, da versão apresentada pela petista sobre a compra da refinaria de Pasadena (EUA), quando ela, na qualidade de presidente do Conselho de Administração da Petrobras, teria dito que só aprovou a aquisição porque não teve as informações disponíveis e que confiou no resumo executivo apresentado pelo ex-diretor.
Agora, em depoimento para a homologação de sua delação no Supremo Tribunal Federal – gravado em vídeo obtido pela Folha –, o ex-diretor afirmou que desconfiou das promessas do ex-senador e ex-líder do governo no Senado de interferência do governo da petista para tirá-lo da prisão e a criticou, afirmando que a presidente afastada fugiu das suas responsabilidades no caso Pasadena, que causou prejuízo milionário à Petrobras.
Ele afirmou que "Primeiro que eu conheço a Dilma, e aí eu fiquei muito cabreiro (sobre interferência). Embora eu conheça a intimidade da Dilma com o Delcídio, se a Dilma gostasse tanto assim de mim, ela não tinha me sacaneado – desculpe a expressão – há um ano, quase dois anos atrás, quando fugiu da responsabilidade dizendo que tinha aprovado Pasadena porque eu não tinha dado as informações completas. Quer dizer, ela me jogou no fogo, ignorou a condição de amizade que existia, que eu acreditava que existia – trabalhei junto com ela 15 anos – e preferiu, para (se) livrar, porque estava em época de eleição, tinha que arrumar um Cristo. Então: 'Ah, não, eu fui enganada'. É mentira! É mentira".
O ex-diretor também afirmou que a petista sabia de tudo sobre a Petrobras e que, estatutariamente, a responsabilidade na empresa pela aquisição de ativos pertence ao conselho, que foi comandado por ela.
Em outra gravação, quando explicava sua indicação para a BR Distribuidora, o ex-diretor também disparou, de forma dura, contra a presidente afastada, ao dizer que "Quando o negócio pegou fogo, a maluca da Dilma foi dizer que não sabia, que não estava informada.”.
Ele disse ainda que é impossível a petista não saber que políticos do PT cobravam propina de diretores da Petrobras.
Aos investigadores, o ex-diretor disse que não foi indicado pelo ex-presidente petista para a área internacional, mas ele concluiu que foi maneira de reconhecimento pela ajuda dele para a quitação do empréstimo de R$ 12 milhões considerado fraudulento pelos investigadores da Operação Lava-Jato.
O ex-diretor afirmou que "Eu não fui indicado. O Lula virou para os outros, o José Sérgio Gabrielli e a Dilma, e disse: e o Nestor? O que vamos fazer com ele. Não podemos deixar o cara... ele quebrou nosso galho. Arrumou milhões para pagar a dívida que o PT tinha.".
A assessoria da presidente afastada afirmou que já foi "demonstrado que a decisão adotada pelo Conselho de Administração (da Petrobras) de compra de 50% das ações foi baseada nas informações do resumo executivo. A responsabilidade por tais informações era do diretor da Área Internacional".
Também foi esclarecido que, somente em 2008, o conselho teria sido informado que os elementos necessários não tinham sido devidamente fornecidos para a tomada de decisão e que o órgão era integrado por empresários e experts de mercado, assim como por ministros do governo. Com isso, "Fica claro que o Conselho de Administração não tinha como ter conhecimento dos fatos e, portanto, agiu inteiramente dentro da legalidade".
É mais do que evidente que a presidente afastada, caso confirmados os fatos denunciados, teria agido sem o devido cuidado, uma vez que a aquisição de refinaria complemente sucateada contribuiu para a consumação de prejuízos astronômicos ao patrimônio da Petrobras, que poderiam ter sido evitados caso ela tivesse impedido a aquisição, por valores incalculáveis, de empresa obsoleta e desvalorizada.
Causa espécie que a petista é acusada da prática de crime contra o patrimônio dos brasileiros, chamada de maluca, e, pasmem, apenas esclarece que já houve demonstração de que a compra da refinaria se deu em razão de insuficiência de informações, quando, diante da relevância do cargo que ocupa, caberia a ela processar o denunciante e acusador, à vista do peso representado pelos graves fatos cuja autoria é atribuída a ela.   
Não há a menor dúvida de que, nesse imbróglio, fica bastante complicada a situação da presidente afastada, diante dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras, que esclarece, sem meias palavras, a possível verdadeira face dela sobre fatos acontecidos na estatal, que podem ter tido a participação direta ou indireta da petista, a par da sua tentativa de negação.
O certo é que pesa contra a petista o fato de que a delação tem a força e a capacidade de revelação, em princípio, passíveis de verdade, ante a necessidade da sua confirmação para a concessão do prêmio, em compensação, pelas informações prestadas à Justiça, o qual somente se materializa depois da comprovação da sua veracidade, inclusive no que se refere às denúncias contra a presidente afastada, que precisa ser mais convincente quanto à sua inculpabilidade nos casos caóticos apontados pelo mencionado ex-diretor.  
Os brasileiros precisam saber a exata dimensão dos danos causados ao patrimônio nacional, em decorrência de eventuais omissão e irresponsabilidade administrativas atribuídas à presidente da República afastada, a fim de se aquilatar o tamanho do rombo que não foi evitado, justamente diante da incapacidade da gestão dos negócios sob a sua incumbência. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de junho de 2016

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