Um dos principais personagens da Operação Lava-Jato,
ex-diretor da Petrobras, revelou ter mágoa da presidente da República afastada,
tendo revelado, nas tratativas da sua delação premiada, que ele teria sido "sacaneado" e "jogado no fogo" pela petista, a
quem ele chegou a classificar de "maluca".
O mencionado ex-diretor reclamou, em pelo menos
dois momentos, da versão apresentada pela petista sobre a compra da refinaria
de Pasadena (EUA), quando ela, na qualidade de presidente do Conselho de
Administração da Petrobras, teria dito que só aprovou a aquisição porque não teve
as informações disponíveis e que confiou no resumo executivo apresentado pelo
ex-diretor.
Agora, em depoimento para a homologação de sua
delação no Supremo Tribunal Federal – gravado em vídeo obtido pela Folha
–, o ex-diretor afirmou que desconfiou das promessas do ex-senador e
ex-líder do governo no Senado de interferência do governo da petista para
tirá-lo da prisão e a criticou, afirmando que a presidente afastada fugiu das
suas responsabilidades no caso Pasadena, que causou prejuízo milionário à
Petrobras.
Ele afirmou que "Primeiro que eu conheço a Dilma, e aí eu fiquei muito cabreiro (sobre
interferência). Embora eu conheça a
intimidade da Dilma com o Delcídio, se a Dilma gostasse tanto assim de mim, ela
não tinha me sacaneado – desculpe a expressão – há um ano, quase dois anos
atrás, quando fugiu da responsabilidade dizendo que tinha aprovado Pasadena
porque eu não tinha dado as informações completas. Quer dizer, ela me jogou no fogo, ignorou a condição de amizade que
existia, que eu acreditava que existia – trabalhei junto com ela 15 anos – e
preferiu, para (se) livrar, porque
estava em época de eleição, tinha que arrumar um Cristo. Então: 'Ah, não, eu
fui enganada'. É mentira! É mentira".
O ex-diretor também afirmou que a petista sabia de
tudo sobre a Petrobras e que, estatutariamente, a responsabilidade na empresa
pela aquisição de ativos pertence ao conselho, que foi comandado por ela.
Em outra gravação, quando explicava sua indicação
para a BR Distribuidora, o ex-diretor também disparou, de forma dura, contra a
presidente afastada, ao dizer que "Quando
o negócio pegou fogo, a maluca da Dilma foi dizer que não sabia, que não estava
informada.”.
Ele disse ainda que é impossível a petista não
saber que políticos do PT cobravam propina de diretores da Petrobras.
Aos investigadores, o ex-diretor disse que não foi
indicado pelo ex-presidente petista para a área internacional, mas ele concluiu
que foi maneira de reconhecimento pela ajuda dele para a quitação do empréstimo
de R$ 12 milhões considerado fraudulento pelos investigadores da Operação Lava-Jato.
O ex-diretor afirmou que "Eu não fui indicado. O Lula virou para os outros, o José Sérgio
Gabrielli e a Dilma, e disse: e o Nestor? O que vamos fazer com ele. Não
podemos deixar o cara... ele quebrou nosso galho. Arrumou milhões para pagar a
dívida que o PT tinha.".
A assessoria da presidente afastada afirmou que já
foi "demonstrado que a decisão
adotada pelo Conselho de Administração (da Petrobras) de compra de 50% das ações foi baseada nas informações do resumo
executivo. A responsabilidade por tais informações era do diretor da Área
Internacional".
Também foi esclarecido que, somente em 2008, o
conselho teria sido informado que os elementos necessários não tinham sido
devidamente fornecidos para a tomada de decisão e que o órgão era integrado por
empresários e experts de mercado, assim como por ministros do governo. Com
isso, "Fica claro que o Conselho de
Administração não tinha como ter conhecimento dos fatos e, portanto, agiu
inteiramente dentro da legalidade".
É
mais do que evidente que a presidente afastada, caso confirmados os fatos
denunciados, teria agido sem o devido cuidado, uma vez que a aquisição de
refinaria complemente sucateada contribuiu para a consumação de prejuízos
astronômicos ao patrimônio da Petrobras, que poderiam ter sido evitados caso
ela tivesse impedido a aquisição, por valores incalculáveis, de empresa
obsoleta e desvalorizada.
Causa
espécie que a petista é acusada da prática de crime contra o patrimônio dos
brasileiros, chamada de maluca, e, pasmem, apenas esclarece que já houve
demonstração de que a compra da refinaria se deu em razão de insuficiência de
informações, quando, diante da relevância do cargo que ocupa, caberia a ela
processar o denunciante e acusador, à vista do peso representado pelos graves
fatos cuja autoria é atribuída a ela.
Não
há a menor dúvida de que, nesse imbróglio, fica bastante complicada a situação
da presidente afastada, diante dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras, que
esclarece, sem meias palavras, a possível verdadeira face dela sobre fatos
acontecidos na estatal, que podem ter tido a participação direta ou indireta da
petista, a par da sua tentativa de negação.
O
certo é que pesa contra a petista o fato de que a delação tem a força e a
capacidade de revelação, em princípio, passíveis de verdade, ante a necessidade
da sua confirmação para a concessão do prêmio, em compensação, pelas
informações prestadas à Justiça, o qual somente se materializa depois da comprovação
da sua veracidade, inclusive no que se refere às denúncias contra a presidente
afastada, que precisa ser mais convincente quanto à sua inculpabilidade nos casos
caóticos apontados pelo mencionado ex-diretor.
Os
brasileiros precisam saber a exata dimensão dos danos causados ao patrimônio
nacional, em decorrência de eventuais omissão e irresponsabilidade
administrativas atribuídas à presidente da República afastada, a fim de se
aquilatar o tamanho do rombo que não foi evitado, justamente diante da
incapacidade da gestão dos negócios sob a sua incumbência. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 27 de junho de 2016
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