terça-feira, 7 de junho de 2016

A decrepitude moral


Já faz algum tempo que as manchetes dos jornais revelavam ao mundo o affaire do ex-presidente da República petista com sua protegida, então chefe do escritório da Presidência República, em São Paulo.
Segundo se comentavam à época, o rumoroso caso amoroso acontecia sem que a primeira-dama se importasse, em razão de conveniência, tanto é que a amante fazia, desenvoltura, as vezes da esposa legítima nas viagens presidenciais para o exterior, sem que ela nem integrasse a comitiva oficial, viajando, por 32 vezes, de forma clandestina, ou seja, em anonimato, com o único objetivo de fazer “companhia” ao então presidente do país, segundo relato da tripulação e da imprensa.
A servidora em referência se tornou famosa e era tratada carinhosamente pelos “bajuladores”, por sua aproximação com o ex-presidente, cuja relação com ele foi capaz de assegurar regalias e até poder de influência no âmbito do governo, onde conseguia aprovação de nomes para a direção de Agências Controladoras e outras vantagens na administração.
Fala-se ainda que, à vista da sua intimidade com o então presidente do país, na qualidade de segunda-dama, ela era muito respeitada e temida por sua rispidez, embora não passasse de mera badalada amante da corte.
Em novembro de 2012, a concubina caiu nas malhas da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que investigava a venda de pareceres técnicos para a liberação de obras favorecendo empresas privadas, sendo imediatamente exonerada do importante cargo e se encontra respondendo a processo.
A então segunda-dama da República volta a ser motivo de notícia explosiva nas páginas policiais, depois que o proprietário da construtora OAS, em delação premiada na Operação Lava-Jato, informou aos investigadores da força-tarefa que foi obrigado a “alcançar”, mensalmente, a quantia de R$ 50 mil para a “melhor” amiga do ex-presidente, em seguida ao estouro do affaire, que ensejou a presidente da República a enxotá-la do escritório presidencial de São Paulo. 
A notícia acrescenta que o pedido de “acolhimento” do petista não se restringiu à sua “melhor confidente”, porque o empreiteiro foi compelido a empregar o “sócio do presidente”, no negócio marital, ou seja, o legítimo marido da segunda-dama.
Por sua vez, espera-se que a explosiva revelação da mesada em apreço ajude a se tornar transparente a rumorosa denúncia abafada no Brasil de que a concubina teria transportado, no avião presidencial, para Portugal, expressiva quantia de dinheiro, com origem duvidosa, para depósito no Banco Espírito Santo daquele país, cujo episódio foi noticiado em Portugal e a amante do ex-presidente figura como pessoa central.
O país tem preito de enorme gratidão aos empresários que, mesmo por conveniência pessoal e empresarial, estão revelando a podridão ínsita dos homens públicos que ainda enchem o peito para se vangloriar de ser o mais puro e honesto do país.
Ainda bem que a máscara do ex-presidente foi melancolicamente ao chão, porque os fatos falam muito mais alto e mostram a sujeira que rola nos bastidores, que é normalmente acobertada pelo “mau-caratismo” que felizmente somente subsiste até a revelação da verdade.
Cada dia, nova história cabeluda eclode e põe no olho do furacão o principal político do Brasil, que se diz o mais honesto entre todos, mas esse episódio de se pagar mesada à amante, com dinheiro de empreiteira, se confirmado, representa inominável indignidade protagonizada por pessoa pública que deveria, ao contrário, ser exemplo de dignidade, moralidade e honestidade.
O caso em comento é bem representativo da decrepitude política e se torna ainda mais emblemático porque o executivo declara peremptoriamente que foi obrigado a "alcançar" valor mensal bastante significativa para a amante do ex-presidente, evidentemente sob pena de sofrer alguma forma de penalidade, como deixar de ser contratado pelo governo, ou seja, o petista usava a máquina pública para fins pessoais.
Os fatos deprimentes vindos à lume já não mais surpreendem, mas têm o inevitável peso de macular a imagem do envolvido, que precisa ser eliminado da vida pública, como forma de moralização das atividades políticas, uma vez que o seu péssimo exemplo do mau uso do poder, para a realização de interesses pessoais, conforme noticia a reportagem, não condiz com os princípios da dignidade e da nobreza que devem prevalecer nas atividades político-partidárias.
Os brasileiros precisam comemorar os novos tempos em os políticos endeusados, em razão da indevida e abusiva exploração populista, estão sendo inapelavelmente desmascarados por seus atos ilícitos e indignos, que jamais seriam revelados não fossem as investigações da competente força-tarefa da Operação Lava-Jato, que vem mostrando a verdadeira face das sujeiras escondidas nos porões da República, que operavam em benefício de casta dominadora do poder e ainda se passava pelo suprassumo da honestidade, quando, na verdade, seus hábitos estavam revestidos da pior imundície humana, conforme retrata com fidelidade o episódio em comento. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de junho de 2016

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