sexta-feira, 10 de junho de 2016

Urge o Revalida do Sistema Único de Saúde


A então presidente da República, bem próximo do seu afastamento do cargo, prorrogou, por mais três anos, o prazo de permanência para que profissionais estrangeiros pudessem continuar trabalhando no programa Mais Médicos, sem necessidade de validação do diploma.
Até agora, a maioria dos participantes do programa em causa foi recrutada no exterior, em contingente equivalente a 73% dos profissionais de saúde, com expressiva maioria vinda de Cuba.
No momento, trabalham no país, pasmem, 11.429 profissionais somente de Cuba e outros 1.500 médicos formados em países diferentes, além de poucos brasileiros.
Em termos financeiros, estima-se que o governo vai despender, com o programa, no corrente exercício, a cifra de R$ 2,7 bilhões.
No momento da prorrogação, a então presidente do país disse que estava de “olho no interesse da população e que nada mais justo fazer Medida Provisória que garanta horizonte mais adequado” para os mais de sete mil médicos que ingressaram no programa, na primeira fase, advindos do exterior para onde retornariam se não houvesse a renovação dos contratos de trabalho.
Como se sabe, o Mais Médicos foi criado em 2013, na tentativa de responder aos apelos das manifestações de protestos das ruas, que exigiam, entre outras reivindicações, melhoria das condições de atendimento na saúde pública, bastante debilitada, como está também no presente momento.
Não obstante, o programa, desde a sua criação, sempre foi alvo de polêmicas e críticas, surgidas, em especial, das entidades médicas que se manifestaram contrariamente ao recrutamento de profissionais estrangeiros, que ingressaram no país sem o cumprimento da obrigatoriedade do exame do Revalida, em clara demonstração de afronta à previsão legal, que vigia como mecanismo de defesa e segurança, entre outras, à qualidade da saúde pública do país.
No caso dos profissionais cubanos, o governo brasileiro firmou convênio com organização que ficaria incumbida de repassar expressiva parte dos recursos pertinentes ao governo cubano, quando o Brasil deveria firmar contrato diretamente com os profissionais, por se tratar de cristalinas relações trabalhistas, a exemplo dos contratos firmados com os médicos de outras nacionalidades.
Essa estapafúrdia situação também foi objeto de muitos questionamentos e críticas, justamente por não guardar conformidade com a legislação trabalhista pátria e por haver enorme discrepância de tratamento, em se tratando de programa que exige transparência, legalidade e tratamento isonômico entre seus integrantes, evitando-se ferimento à legislação trabalhista e caracterização de trabalho escravo, em razão do repasse do salário apenas parcial aos profissionais cubanos, quando eles fazem jus à remuneração integral, sem essa de ser entregue 70% do valor devido ao governo cubano.
Nesta triangulação arranjada, fica muito claro que os ditadores caribenhos se beneficiam indevidamente de algo que não faz jus legitimamente, porque se trata de usurpação do resultado do trabalho dos profissionais cubanos, que se sacrificam e não são devidamente recompensados, em igualdade de condição com os demais médicos estrangeiros integrantes do programa.
Não há a menor dúvida de que o governo brasileiro é conivente e cúmplice nesse explícito, vergonhoso e ilícito negócio envolvendo contratos e relações trabalhistas, que deveriam seguir a legislação de regência, tanto nacional como internacional.
É induvidoso que o sistema de saúde pública se reveste da maior gravidade de precariedade, à vista das ingentes deficiências noticiadas no dia a dia, evidenciando a falência do seu funcionamento, em que pese a alocação nele de montanhas de recursos, que são fartos de ineficiência e ineficácia, a exigir urgentes e profundas reformulações do Sistema Único de Saúde - SUS.
Quanto ao programa Mais Médico, há evidente demonstração de desperdício de recursos com investimentos na sua execução, à toda evidência empírica, sem ter por base quaisquer estudos para a garantia da convicção de que as medidas adotadas, de forma açodadas, foram as mais acertadas naquele momento, principalmente em face dos enésimos questionamentos.
Como se sabe, esse programa foi implantado às pressas, inclusive atropelando a exigência essencial, diante da exigência legal, do Revalida, que tem por finalidade assegurar que os profissionais da saúde pública estão realmente aptos e habilitados ao exercício das atividades médicas.
Por seu turno, não se previu, para o futuro, nenhuma garantia para o bom funcionamento do programa, sem a participação de profissionais estrangeiro, como, por exemplo, a formação de mais médicos brasileiros, como forma de manter a qualidade e a certeza do seu permanente funcionamento.
Para tanto, o governo poderia instituir programa estabelecendo aumento das vagas dos cursos de medicina, pelo menos em 50% dos vestibulares das universidades públicas, dando a opção para as universidades particulares, tendo por exclusiva finalidade a destinação dos médicos formados nesse programa às cidades do interior.
Os médicos selecionados por meio desse programa ficam obrigados, mediante contratos celebrados a partir da aprovação no vestibular e devidamente registrados em cartório, ao cumprimento de carga de trabalho em cidades do interior, por no mínimo três anos ou conforme a conveniência do Estado, sob pena de não receber o diploma no caso de recusa de cumprir os termos contratuais, depois de concluído o curso.
A grande vantagem dessa formação de médicos é que o governo estaria investindo em profissionais brasileiros, assegurando emprego e prestação de serviços médicos de qualidade, com profissionais genuinamente nacionais, sem necessidade de recorrer a médicos estrangeiros, que não têm a garantia e a certeza quanto à sua formação.      
 Urge que o governo se conscientize sobre a necessidade da priorização em profissionais da saúde, com o aproveitamento de recursos humanos produzidos nas universidades públicas, que precisam de maciços investimentos para a formação de médicos e profissionais da área de saúde, como forma de garantir, em caráter permanente, o atendimento ao sistema de saúde pública em todo país, a partir da  reformulação, com profundidade e abrangência  do Sistema Único de Saúde, que vem funcionando precariamente e de forma empírica, à vista do seu sucateamento e da enorme deficiência da assistência aos brasileiros, em que pesem os altos investimentos, que são aplicados sem a preocupação de efetividade, eficiência e eficácia. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de junho de 2016

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