domingo, 26 de junho de 2016

Crise econômica?


Em que pese ter decretado estado de calamidade pública, com razoável motivação sustentada na gravíssima crise econômico-financeira, o governo do Rio de Janeiro havia mantido licitação no importe de R$ 378.853,54, com a finalidade de adquirir alimentos in natura, para serem preparados e distribuídos nos seus palácios, cuja lista incluía, pasmem, frutas especiais, frutos do mar, peixes e carnes nobres, como framboesa e mirtilo, salmão e robalo, filet mignon, picanha e outros alimentos exóticos e da melhor qualidade.
A efetivação da compra em causa estava prevista exatamente em meio ao anúncio da forte crise econômica daquele governo, mas houve o bom senso para o seu cancelamento, após instantes de a rádio CBN Rio veicular informação sobre esse ignominioso ato administrativo.
Segundo o edital, os alimentos seriam usados na preparação de "refeições que são servidas durante reuniões, solenidades e demais eventos rotineiros nos Palácios Guanabara e Laranjeiras".
Entre as iguarias, estavam previstos gastos de R$ 32.000,00 com filé mignon, alcatra e picanha; R$ 32.971,00 com salmão, cherne e robalo; e R$ 30.362,30 com frutas - entre elas, cereja chilena, framboesa, amora e blueberries etc.
A licitação também incluía relação de bebidas, como, por exemplo, 6.000 cápsulas de café para máquina, entre outras. A lista também inclui legumes, verduras, molhos, e arroz de diferentes tipos (arbóreo, sete grãos, negro, selvagem), farinhas (de rosca, de trigo, de fubá de milho), chocolates, frios e laticínio, tudo do bom e melhor gosto, para manter muito bem alimentado não somente o governador e sua família, mas quantidade considerável de pessoas que são sustentadas pela sociedade, que arca com pesada carga tributária, para manter vergonhosas mordomias, país afora.
Depois que houve o vazamento sobre esses gastos abusivos, a assessoria de imprensa do governador afirmou que a medida foi cancelada, ou seja, é possível que essa providência só ocorreu em face da divulgação de ato administrativo absurdo e injusto.
Como é notório, a decisão de decretar estado de calamidade pública foi adotada justamente com a finalidade de garantir o cumprimento das obrigações estaduais com a realização da Olimpíada, que terá início em agosto vindouro.
Entre as razões apresentadas, para justificar a adoção de tal medida, o governador alegou exatamente a crise econômica que atinge em cheio o Estado, a queda na arrecadação com o ICMS e os royalties do petróleo, a dificuldade do Rio em honrar os compromissos para a realização dos jogos e as dificuldades na prestação de serviços essenciais, como segurança pública, saúde, educação e mobilidade.
Ou seja, a prestação dos serviços públicos estava sendo prejudicada exatamente pela notória escassez de recursos, mas as despensas dos palácios do governador não poderiam sofrer qualquer formar de esvaziamento dos víveres de excelente qualidade, para saciar a fome de quem não estar nem aí para as mazelas e as precariedades dos serviços públicos, que dizem com a população e não podem prejudicar as mordomias palacianas.
O certo é que a plebe sequer tem o que comer e ainda é prejudicada ante a falta de serviços públicos, a inflação que corrói os bolsos dos pais de família, o alarmante desemprego e tantas outras mazelas que alimentam, em especial, a crise econômica.
Não obstante, percebe-se que a insensibilidade dos governantes tem a capacidade de promover o abastecimento das despensas dos palácios, com o melhor da gastronomia, em completa contradição com a situação de lamúria da sociedade, que implora por medidas de austeridade e modicidade na aplicação dos recursos dos contribuintes, mas os fatos mostram exatamente o contrário da ansiedade social.
A sociedade precisa repudiar, com veemência, a forma abusiva referente ao esbanjamento com recursos públicos, inclusive com o abastecimento das despensas existentes nos palácios, com a aquisição de alimentos exóticos e de primeiríssima qualidade, como se o país estivesse às mil maravilhas e não houvesse crise econômica, o que se exige que os administradores públicos sejam obrigados a enxergar a realidade econômica do país, inclusive dos estados, que também passam por crise de toda ordem, como, em especial, a econômica. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de junho de 2016

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