quinta-feira, 9 de junho de 2016

Enfim: uma chance à vida


O presidente da República interino ordenou que a Força Aérea Brasileira (FAB) mantenha, em estado permanente, à disposição de uma aeronave para atuar no transporte de órgãos e tecidos humanos, destinados a transplantes.
Causa estranheza que a medida somente tenha sido tomada com bastante atraso em razão de reportagem publicada pelo jornal O Globo, que versava sobre informação de que não havia aeronave da FAB para o transporte de emergência de órgãos para um transplante, fato que demonstra, até então, total descaso das autoridades incumbidas de cuidar da saúde pública, que apenas agem depois dos estragos causados às vidas humanas, muitas das quais poderiam ter sido salvas se já houvesse a aeronave disponibilizada para tal finalidade. 
A publicação relatou a rotina de dificuldades de equipes médicas do país para viabilizar o transporte aéreo de órgãos e tecidos doados para salvar vidas de pessoas que aguardam na fila de transplantes.
O presidente disse que "Assinei um decreto, que será publicado amanhã (terça), onde se determina à Aeronáutica que se mantenha permanentemente um avião no solo à disposição para qualquer chamado para transporte desses órgãos. Ou ainda, se for para transportar aquele paciente para o local onde está o órgão ou tecido, que assim também se faça".
Os casos de perdas de órgãos que poderiam salvar vidas já se tornaram frequentes e as autoridades incumbidas pelos zelo e cuidado da saúde pública simplesmente se faziam de moucas, ignorando por completo situação de extrema importância, por se tratar da possibilidade de salvar vidas humanas.
Enquanto existiam carências de aeronaves para prestar assistência aérea à vida humana, de forma paradoxal, os céus tupiniquins se encontravam congestionados com o tráfego de autoridades se deslocando tranquilamente para o ócio de final de semana nas cidades de suas residências, sem nenhuma preocupação quanto à calamitosa situação da saúde pública, com vidas sendo perdidas pela omissão e irresponsabilidade do poder público.
Ante a constatação da precariedade do atendimento à saúde pública, onde as pessoas morrem à míngua, enquanto autoridades esbanjas mordomias com recursos públicos, em total reprovação da realidade de penúria brasileira, o presidente interino poderia aproveitar o ensejo, como forma de demonstrar sensibilidade para a completa falta de priorização dos serviços públicos, que compromete seriamente a gestão pública competente, no sentido de moralizar o uso de aeronaves oficiais, acabando de vez com a farra dos ministros no final de semana, feita a seu talante, quando cada qual pega um jatinho, como se fosse propriedade particular, para apenas se deslocar para suas cidades.
O presidente interino precisa ser sensato, à luz do princípio patriótica, para perceber que se trata de uso abusivo do patrimônio público, em forma de privilégio somente concedido de maneira injustificável a poucos servidores, que podem perfeitamente, sem o menor sacrifício, se deslocar para onde bem entender fazendo uso dos voos comerciais, ressalvados os casos onde não têm escalas regulares, devidamente comprovável.
O presidente do país poderia fazer uso da racionalidade e do bom senso para entender que, em pleno século XXI, o uso de aeronaves oficiais não existe nas nações sérias e desenvolvidas nem mesmo nas republiquetas, onde há imperioso respeito ao dinheiro dos contribuintes e a sociedade exige austeridade na aplicação dos recursos públicos.
Urge que a administração pública brasileira evolua em alta velocidade, para que sejam possíveis as salutares práticas da racionalização, do aperfeiçoamento e da modernização da administração pública, de modo que os governantes vislumbrem a imperiosa necessidade da priorização das políticas governamentais, no sentido da urgente eliminação das mordomias, dos privilégios, das regalias e dos demais benefícios absolutamente injustificáveis e dispensáveis, e da implantação de medidas objetivando a eficiência e a eficácia das ações públicas, como forma da sua efetividade e economicidade, em exclusivo benefício do interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de junho de 201

Nenhum comentário:

Postar um comentário