O ex-presidente da OAS já teria antecipado que vai
confirmar, em delação, que os questionados sítio e tríplex são propriedades do
ex-presidente da República petista, cujas informações hão de robustecer o
arsenal de provas levantado contra ele, mas os novos elementos estão sendo considerados
a “bala de prata” capaz de aniquilá-lo.
Os
procuradores entendem que a delação do citado empresário poderá representar o
tiro de misericórdia sobre a celeuma que envolve as investigações acerca dos
mencionados imóveis, à vista do variado cardápio de revelações ofertado por
ocasião das tratativas para o acordo de delação premiada, por parte do
mencionado empresário, que é um dos sócios do grupo OAS.
Conforme foi apurado por ISTOÉ junto a integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato, a disposição
para detalhar os fatos relacionados com as obras e reformas no sítio de Atibaia
e no tríplex do Guarujá fortalece a convicção de que, já há razoável motivo
para se concluir que, com base nos elementos levantados com antecedência, as
provas a serem entregues agora pelo delator constituem algumas das peças
restantes e importantes ao fechamento do quebra-cabeças montado desde o surgimento
das primeiras digitais do petista, no esquema do petrolão, que estão
relacionadas com as contrapartidas aos favores prestados pela empreiteira a ele.
Segundo o empreiteiro, em troca das obras no sítio
e no tríplex, o petista se ofereceu para praticar tráfico de influência em
favor da OAS, no exterior, notadamente com relação ao incremento de negócios
com o Peru, o Chile, a Costa Rica, a Bolívia, o Uruguai e nações africanas.
À vista da sua desenvoltura no trânsito com esses
países, o petista teria se prontificado a ajudar a construtora nos negócios,
facilitando a abertura das fronteiras dos países amigos, com vistas à
instalação dos canteiros de obras no exterior, que até então eles eram
inexistentes no mercado internacional, diferentemente de hoje, que a
construtora mantém 14 escritórios e executa 20 obras em outros países, sendo
que boa parte delas foram conseguidas por força das articulações feitas pelo
petista, segundo informações fornecidas pela própria empresa.
Impende frisar que tráfico de influência, quando
praticado por agente público, tem a caracterização de crime, cujo ato torna-se
ainda mais grave quando ele é praticado em troca de auxílio ou ofertas de favores
privados provenientes de empresa que se encontra implicada em um dos maiores
escândalos de corrupção da história recente do país, conhecido como petrolão.
Na opinião de procuradores da Lava-Jato, as informações
prestadas pelo ex-presidente da OAS têm o peso de ferir de morte o
ex-presidente, que poderá ficar muito próximo de ser formalmente acusado pelos
crimes de ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro e tráfico de influência,
cujo julgamento poderá resultar em condenação superior a dez anos de reclusão.
Nas negociações sobre o acordo de delação premiada,
o empreiteiro se prontificou também a detalhar o que ele denominou de episódio mal
contado referente ao aluguel patrocinado pela OAS de 10 contêineres destinados
ao armazenamento do acervo museológico do ex-presidente, que resultou no
dispêndio de cerca de R$ 1,3 milhão para guardar os objetos retirados do
Palácio do Planalto, do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto, por ocasião da
questionada mudança do petista e da sua família.
O empreiteiro disse que parte dos itens ficou
acondicionada em ambiente climatizado, em um depósito da transportadora Granero
e o restante foi armazenado a seco, em outro balcão, na capital paulista, de
onde o material foi transportado para o sítio em Atibaia, sobrelevando o
especial cuidado para dissimular a operação, com vistas a escamotear o seu real
beneficiário, cujo contrato celebrado pela OAS com a transportadora Granero
teve o custo mensal de R$ 21.536,84, que foram pagos por cinco anos, como se tratasse
da “armazenagem de materiais de
escritório e mobiliário corporativo de propriedade da Construtora OAS Ltda.”.
Segundo foi apurado por ISTOÉ, o empreiteiro confirmou se tratar de mais um préstimo ao
petista, cujas negociações com ele ocorreram em dezembro de 2010, quando a
Presidência da República ainda era ocupada pelo petista.
Caso sejam realmente confirmadas as informações a
serem reveladas na delação do ex-presidente da OAS, pode-se intuir que será
possível se acreditar que o petista teria obtido favores financeiros, vantagens
e benefícios, pavimentados por meio de espúrias relações com sede em troca de tráfico
de influência em favor da OAS, inclusive quando ele ainda era o mandatário do país.
A delação premiada poderá pôr por terra o argumento
segundo o qual não houve venda de influência política pelo petista no exterior
para empresas privadas nacionais, porque se tratava da atuação de ex-servidor
público, mas os fatos mostram que ele já negociava com a construtora OAS quando
o petista se encontrava no exercício de suas funções como presidente da
República.
Convém que o delator não somente esclareça os fatos
como também apresente provas cabais e substanciais sobre os depoimentos de
acusação, sem as quais o benefício da colaboração não se efetiva na forma como
acordada com o Ministério Público, mas os investigadores já foram
tranquilizados de que o empresário já acenou que os documentos estão
devidamente guardados e serão fornecidos oportunamente.
Por
meio de relatos e documentos apresentados pelo empreiteiro, será provado que o
petista se beneficiou pessoalmente do dinheiro desviado pelos esquemas que
fraudaram a Petrobras, cujos elementos hão de reforçar uma das denúncias contra
o ex-presidente que a Lava-Jato pretende apresentar por crimes relacionados ao
petrolão. Em termos de elementos comprobatórios, já existe farta documentação,
segundo investigadores, capaz de implicá-lo por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, à vista dos favores recebidos tanto da OAS como da Odebrecht, para as
quais o petista teria agido em troca de benefício.
Há enorme expectativa de que o ex-presidente da OAS
faça a delação nos termos já esquadrinhados juntos aos investigadores, de modo
que possa prevalecer somente a verdade sobre os fatos nebulosos que
emporcalharam o governo petista e ainda tenha o condão de contrapor à insidiosa
afirmação da superioridade moral segundo a qual “não há ninguém mais honesto” do que o petista, com o que ele poderá
ser destronado do pedestal ético erguido por ele próprio, que tem a
contribuição e a complacência de seus fiéis e ingênuos simpatizantes.
Não há a menor dúvida de que os brasileiros estão
na maior ansiedade, não exatamente com à possível prisão do principal líder
político tupiniquim, porque isso faz parte da vida democrática de um povo que
se desenvolve e prima pelo aperfeiçoamento dos princípios republicanos e pelo
fim da impunidade, que tem sido a marca de eterno atraso do país, que sempre
conviveu com os vergonhosos mantos dos privilégios e do tráfico de influência,
próprios da dominação política, mas sobretudo quanto à necessidade de vir à
tona a verdade real sobre os fatos que não podem mais ficar entremuros, em
danosos prejuízos aos princípios democrático, republicano e da transparência,
que não condizem com a modernidade e os avanços humanitários. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 25 de junho de 2016
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