O
procurador-geral da República enviou ao Supremo Tribunal Federal parecer
favorável ao prosseguimento de duas investigações contra o presidente do PSDB e
senador por Minas Gerais, sendo que uma delas, já aberta, apura se o tucano
recebeu propina desviada de contratos com a empresa Furnas, subsidiária da
Eletrobrás, enquanto a outra envolve a suspeita de que ele manipulou dados do
Banco Rural para blindar aliados políticos no mensalão.
As
denúncias em apreço têm por base informações da delação premiada do ex-senador e
ex-líder do governo afastado, no âmbito da Operação Lava-Jato.
Causa
estranheza que o tucano alegue que não há elementos novos que justifiquem os
processos em tela, uma vez que, no mês passado, foi apresentada defesa "espontânea" sobre ambos os casos e,
com base nela, o STF resolveu devolvê-los para o procurador-geral da República,
para que ele reavaliasse a necessidade de instauração das investigações contra
o tucano.
Na
ocasião, a decisão preliminar causou surpresa à Procuradoria Geral da
República, por ter sido considerada "inusitada".
Nessa
nova manifestação, o procurador-geral da República alega que teria juntado aos
pedidos de abertura de inquéritos diversas provas novas, em aditamento ao teor
da delação do ex-senador, fato que enseja a necessidade de investigações mais
aprofundadas sobre as denúncias contra o tucano.
O
tucano foi acusado pelo ex-senador petista a receber propina do ex-diretor de
Furnas, em esquema de desvio de recursos na estatal semelhante ao investigado
pela Operação Lava-Jato. O caso se torna mais emblemático porque denúncia nesse
sentido já havia sido objeto da delação de um lobista, que disse que político do
PSDB teria recebido 4 milhões de reais em propina da diretoria de Furnas, que teria
sido influenciada pelo senador tucano, que recebeu recursos por meio de uma de
suas irmãs.
Já
no caso do mensalão, o ex-senador petista disse ao Ministério Público que dados
do Banco Rural teriam sido supostamente manipulados para se evitar atingir
"em cheio" o tucano e a
seus aliados. O delator foi o presidente da CPI dos Correios, que investigou o
caso no Congresso Nacional, e disse ter "segurado a barra" para que não viesse à tona a movimentação
financeira das empresas do operador do mensalão, no Banco Rural.
Em
se tratando que o senador acaba de ter sido o principal homem público da
ex-oposição, nada melhor que ele exija que todas as denúncias sobre possíveis
fatos irregulares contra ele sejam imediatamente apuradas, com vistas ao
levantamento em definitivo dos fatos pertinentes, de modo que não reste mais
dúvida sobre a existência dos mesmos fatos, principalmente se eles já foram
objeto de apuração, como forma de dá um basta às especulações sobre a sua
conduta político-administrativa.
Esta
é excelente oportunidade para o senador tucano provar que é inocente, em um
contexto que as denúncias explodem por todos os lados, nada melhor do que
exigir que as investigações sejam amplas e abrangentes, como forma de se
aquilatar a verdade sobre os fatos denunciados. O que não se pode é admitir que
a Justiça simplesmente acredite na mera contestação do acusado, sem que se faça
a devida apuração sobre os fatos delatados.
Se
o senador tucano tivesse o mínimo de convicção sobre a sua inocência, ele seria
o primeiro e principal defensor das investigações sobre os fatos denunciados,
sobretudo porque o resultado das apurações tem o condão de mostrar a lisura e a
legitimidade de seus atos e isso tem o peso de importante relíquia, em se
tratando que ele é detentor de precioso legado político, que precisa, a todo
instante, provar a sua conduta límpida e inquestionável.
O
Brasil precisa ser passado a limpo e a melhor maneira para que isso possa ser
viabilizada é se promoverem as investigações sobre todas as denúncias, por mais
que elas já tenham sido objeto de apuração, tendo em vista a superveniência de
eventuais novos elementos e informações que precisam ser averiguadas e checadas
as suas verdades, não importando a relevância dos homens públicos envolvidos,
porque a moralização do país impõe que não fique pedra sobre pedra e que os fatos
possam ser esmiuçados de vez, sob pena de a esculhambação continuar imperando no
país de faz de conta. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 02 de junho de 2016
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