Causa enorme perplexidade o escândalo
conhecido por “joiasgate”, em que o último ex-presidente do país teria sido
envolvido, como principal alvo, nos possíveis acontecimentos, tanto no
recebimento das joias, na forma de presentes de país amigo, sob o entendimento de
que se tratava de caráter pessoal, como na venda de algumas delas, tudo caracterizando,
em princípio, algo bastante estranho,
que exige, no mínimo, minuciosa justificativa perante a sociedade, no caso dos
primados republicano e democrático.
O certo é que o envolvimento do ex-presidente
do país, relacionado com esse escândalo, foi objeto de notícias com destaque na
imprensa internacional, nas últimas semanas, diante de os fatos estarem sob a investigação
da Polícia Federal, cujo desfecho pode resultar em complicação para o principal
envolvido, que até o momento não conseguiu apresentar justificativa convincente
e plausível sobre os fatos.
Um jornal do Reino Unido noticiou que a
investigação sobre as joias foi ampliada na forma da Operação Lucas 12:2, dizendo
que "‘Todo Rolex conta uma história’, afirmou certa vez o fabricante de
relógios de luxo. A polícia brasileira acredita que esse slogan é
particularmente verdadeiro quando se trata do relógio cravejado de diamantes no
centro de uma investigação sobre a suspeita de furto de presentes oficiais de
alto valor por pessoas próximas de Jair Bolsonaro - e possivelmente pelo
próprio ex-presidente".
Esse jornal cita também que o nome escolhido para a
operação, que faz referência a um versículo da Bíblia (Lucas 12:2), dizendo que
“Não há nada oculto que não venha a ser revelado, ou escondido que não venha
a ser conhecido. O nome parecia ser uma referência zombeteira a um dos
principais bordões de Bolsonaro, do Evangelho de João: ‘Conhecereis a verdade,
e a verdade vos libertará’.".
Outro jornal, este dos Estados Unidos, noticiou a
operação policial, dando destaque ao valor supostamente recebido pela venda de
presentes de luxo, algo em torno de US$ 70 mil.
Um jornal da França destacou que o ex-presidente do
país é suspeito de ter desviado presentes para a Presidência da República para
seu benefício pessoal, tendo explicado que ele teria levado algumas dessas joias
para os Estados Unidos da América.
Já outro jornal, de Portugal, declarou que as
denúncias colocam o ex-presidente brasileiro em "maus lençóis",
tendo destacado forte suspeita do envolvimento do ex-ajudante de ordens dele, na
venda de parte dos presentes em apreço.
Por fim, um jornal da Espanha publicou artigo intitulado
"A ironia de Bolsonaro que está se afogando no escândalo das joias de
ouro e diamantes", em clara alusão à diferença entre o discurso
anticorrupção do ex-presidente brasileiro e as acusações de envolvimento no
suposto esquema de venda de presentes.
O texto lembra que parece irônico que o ex-presidente
possa ser preso pelo caso das joias e não por atitudes citadas como mais
graves, como "a tentativa de golpe de Estado ou sua zombaria com a
epidemia de covid".
À toda evidência, esse episódio referente às joias
não poderia ter sido mais degradante para a figura de ex-presidente da República,
que não consegue se desvincular de escândalo tão desonroso para relevante autoridade
do país, uma vez que as joias foram transportadas escondidas no fundo de
mochila conduzida por militar da confiança do mandatário, quando se tratava de
objetos preciosos e raríssimos, a exemplo de colar de diamantes para a então primeira-dama,
que ainda está retido na alfândega do Rio de Janeiro.
Trata-se, como se vê, de acontecimento policial extremamente
desagradável, bastante comparável à operação envolvendo traficante de joias,
mesmo que se tratem se presentes legais e oficiais, que jamais deveriam ter
sido transportando senão pela via republicana, por meio dos canais diplomáticos
competentes, sob a responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores, em que
tudo seria devidamente declarado, na forma como manda a liturgia da
correspondência presidencial.
Quando se deixar de serem observados os trâmites da
legalidade, que é o caso em comento, à vista de transporte visivelmente
clandestino, com desejo de ludibriar o sistema alfandegário, não se poder
inferir diferentemente de algo anormal e esquisito, quanto à legalidade exigia
o transporte das joias pela mala diplomática, de forma transparente e absolutamente
inquestionável, como deve proceder o verdadeiro estadista.
Os fatos mostram, de forma cristalina, o possível
envolvimento do ex-presidente brasileiro nesse lamentável e deprimente escândalo,
por caracterizar procedimento, em princípio embaraçoso e induvidosamente constrangedor
para a maior autoridade do país, que não teve o menor escrúpulo em se envolver
em situação extremamente suspeita de irregularidade.
Pouco importa se o ex-presidente teve vantagem
pecuniária nesse imbróglio das joias, uma vez que está em jogo é a sua reputação
como homem público, que, em hipótese alguma, poderia ter sido envolvida com
algo escabroso como o transporte sob suspeita de irregularidades e posterior
venda delas.
O certo é que a imagem de importante representante do
povo fica bastante manchada, eis que as atividades públicas exigem total
respeito à insuspeitabilidade sobre seus atos, que devem submissão aos
princípios da moralidade, da honorabilidade e da dignidade, não se permitindo
qualquer deslize de conduta, como nesse espetaculoso caso das joias, que pende
de justificativas perante a sociedade, em especial.
Brasília, em 20 de agosto de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário