sexta-feira, 5 de março de 2021

Chorando até quando?

 

Muitas têm sido as crônicas que venho escrevendo sobre o mar da tragédia que se abateu sobre os brasileiros, que estão perdendo a vida em tresloucada sequência ao largo das autoridades públicas incumbidas, na forma da Constituição Federal, de cuidar e zelar pelas saúde e vida dos brasileiros, a exemplo da insensibilidade de quem produziu a pérola a seguir, pasmem, dita ontem para o mundo ouvir, em tom de indignação contra as pessoas que lamentam as perdas de milhares de vidas para a Covid-19, nestes termos: “Chega de frescura, de mimimi, vamos ficar chorando até quando?”.

No mundo civilizado, em que as pessoas têm sentimento e sensibilidade, em termos de respeito ao ser humano, a classificação de montanhas de vidas humanas perdidas como frescura, em se chorar diante da tragédia, só pode ser considerada forma explícita de desvio de racionalidade, em nítido negacionismo sobre realidade nua e crua de descontrole da situação que envolve o bem mais precioso da humanidade: a vida de pessoas.

Que tristeza de não se admitir, no âmbito mais sublime do sentimento humano, sequer se lamentar profundamente pela destruição de vidas, que poderiam ser em quantidade sensivelmente menor, caso houvesse o mínimo de cuidados com a compra de vacina, com a devida antecipação.    

Na linha do meu mais intenso sofrimento como pessoa com capacidade de discernimento sobre o certo e o errado, registro a mensagem de pessoa que perdeu ente querido para a Covid-19 e sente até na alma a dor que muitas pessoas preferem ignorar, como forma de evidenciar sentimento desumano e indiferença ao caos da saúde pública.

Essa pessoa, de muita sensibilidade humana, escreveu, diante de um de meus textos, o seguinte: “Eu assisti esse vídeo ele relatando sobre esses assuntos, acho ele muito frio sem sentimento, não se comove com nada, fala com uma naturalidade como nada tivesse acontecendo, rindo o tempo todo, tirando brincadeiras com a imprensa. Isso é falta de consciência humana, não saber escolher entre o sim e o não. Tristeza o que estamos passando tantas perdas com esse vírus. Muitas crianças órfãs, pais perdendo filhos, irmãos, avós amigos e etc... Vamos orar pedir proteção ao altíssimo Deus, toque no coração do nosso presidente que sensibilize e tome providências quanto antes para amenizar o sofrimento dos nossos irmãos só Deus poderá nos salvar!! Chegamos no limite de tantos mortes por covid-19, cada dia aumentando os números de óbitos, as UTI's estão lotadas sem nenhuma solução de nada. Precisamos de vacinas com urgência!! Meus sentimentos as famílias e amigos que se foram vítimas da covid-19. Descansem em paz!!! Misericórdia meu Deus.”

Em resposta à tão sentida mensagem, eu disse que não poderia haver mais dura realidade do que esta impingida aos brasileiros e o pior de tudo é que muitas pessoas insensatas e desumanas ainda se conformam com o status quo, achando tudo muito lindo e maravilhoso, enquanto a tragédia predomina livre, leve solta, arrasando corações de multidão de pessoas, que somente têm o direito de chorar e lamentar imensurável a desgraça humanitária.

Meu repúdio ao descaso, à insensibilidade e à desumanidade que não deveria se harmonizar-se com o verdadeiro sentimento da maioria dos brasileiros, que infelizmente se calam e aceitam tamanho infortúnio na vida humana indefesa, cuja pandemia veio justamente em momento coincidente em que há a prevalência do perverso e inadmissível negacionismo imperando no coração rochoso de muitas pessoas.

Espero que os brasileiros que, têm sentimento sobre o verdadeiro valor do ser humano, nunca se esqueçam de tanta maldade nos corações de homens públicos que têm obrigação tanto constitucional como humanitária de fazer não apenas o possível, porque isso é mais do que normal, mas o impossível, o sobre-humano para salvar todas as vidas que se foram e não deveriam ter ido se tivessem havido vontade política e interesse humanitário na preservação da saúde e da vida dos brasileiros.

Bastava apenas ter o mínimo de sensatez e amor no coração, a parte mole e sensível do sentimento humano, para se entender o enorme prejuízo causado pela Covid-19, não somente para o país, mas em especial para os familiares e amigos, que ficaram sem importante parte da sua vida, com a perda das pessoas que estão partindo prematuramente, na sua maioria, do nosso convívio terrestre.

O momento é de extrema dor no coração das pessoas que têm sentimento e sofrem profundamente com situação muito mais animalesca do que humana, se bem que os animais demonstram imenso pesar, em forma de sentimento no íntimo quando um dos seus morre e eles são solidários, diferentemente do que vem acontecendo no Brasil, em que a população é simplesmente dizimada por conta de terrível vírus e cada pessoa é apenas objeto de estatística fria, servindo apenas como números e nada significando como o bem mais valioso que se tem como parte da família e da sociedade.

Acredita-se que, nos países onde os governantes, imbuídos do seu dever cívico e do sentimento humanitário, se preocuparam em adquirir vacinas com bastante antecedência, na certeza de que somente a imunização seria capaz de proteger a população da catástrofe que varre o território nacional, exatamente por culpa da omissão e da incompetência administrativas.

É evidente que os governos competentes e realmente interessados em proteger o povo, se precaveram no cuidado com a antecipação da reserva do imunizante suficiente para a vacinação da população, no entendimento de que a prevenção seria capaz de poupar vidas humanas.

Curiosamente é que ontem mesmo, o presidente brasileiro, em demonstração de evidentes desespero e desconforto, disse que iria comprar vacina na casa de quem se dirigiu a ele, sob pressão pela indiscutível falta de vacina no mercado para vender.

É verdade que, em momento crucial como o atual, realmente não pode ter vacina sendo oferecida para se comprar no mercado da esquina, fato este que implica que o presidente precisa assumir, de vez, a desídia praticada por seu ministério, que deveria ter comprado o imunizante desde o meado do ano passado, quando os laboratórios estavam batendo às portas dos governos, oferecendo seus produtos, a exemplo da Pfizer, que ofereceu 70 milhões de vacinas para o Brasil, que nem mereceu resposta para a sua oferta, conforme assegurou representante da empresa a parlamentares brasileiros.

Nesse caso, é mais do que cristalina a culpa, por omissão e incompetência, cuja campanha de vacinação da população tem a característica da lentidão, da ineficiência, em condições de deprimente e decepcionante, sob procedimento de verdadeira marcha-lenta, em evidente demonstração de coerência com os negacionismo e desinteresse de proteger a população, porque a demora na imunização tem como consequência importantes perdas de vidas, que vêm sendo tratadas apenas na medida do possível e ainda quando isso é apenas possível, como nesse caso da imunização, que somente Deus sabe quando o governo tem condições para vacinar os brasileiros, como é do seu dever constitucional.

É preciso que os brasileiros se conscientizem de que o povo tem sim também expressiva culpa na desordem, na incompetência e na maneira insensível e desumana como vem sendo administrado o combate à pandemia do novo coronavírus, por simplesmente aceitar candidamente a calamidade que grassa no território nacional e ainda achar engraçado alguém pedir para se parar de chorar por milhares de vidas consumidas por diminuto vírus, que poderia ter sido combatido com a aceitação da realidade, competência e, em especial, e os sentimentos de sensibilidade e humanidade.

Brasília, em 5 de março de 2021

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