terça-feira, 30 de março de 2021

Na cabeça do presidente

 

O presidente da República promoveu surpreendente mudança no comando do Ministério da Defesa e isso pode simplesmente acarretar a imediata mudança nos comandos das três Forças Armadas, compreendidas pelos Exército, Marinha e Aeronáutica.

Em circunstâncias como essa, o comportamento ético sinaliza que nem precisa que o presidente do país exonere o conjunto representativo do alto comando das Forças Armadas, porque fica claro que a queda do principal comandante implica a saída do resto dos comandantes, como forma de limpeza da área, ficando o caminho livre para a implantação da nova filosofia de trabalho de incumbência desses órgãos.

A exoneração do ministro da Defesa deixou a tropa preocupada e alerta, tanto por integrantes da ativa como da reserva das Forças Armadas, porque isso sinaliza que o presidente do país deseja ter maior influência política nos quartéis, algo que ele não estava conseguindo até o momento.

Nas palavras de um interlocutor próximo do general exonerado, o presidente o pressionava por engajamento maior das Forças Armadas no governo, mas não encontrava ressonância aos seus anseios, porque havia preocupação nos comandos das Forças Armadas quanto aos movimentos de politização dos quartéis, que é algo que tem sido evitado com muito empenho, em especial pelo comando do Exército.

Desde algum tempo, o presidente não esconde a insatisfação com relação à permanência do comandante do Exército, porque ele, em novembro do ano passado, afirmou que os militares não querem "fazer parte da política, muito menos deixar a política entrar nos quartéis", afirmação esta que desagradou bastante o comandante-em-chefe, que gostaria muito de contar com o decisivo e declarado apoio das Forças Armadas aos seus projetos de governo, em todos os sentidos.

Diante disso, o vice-presidente da República, que é general, ressaltou que a política nos quartéis acaba com a disciplina e com a hierarquia, tendo afirmado que o comandante do Exército “verbalizou o nosso modo de pensar. Não admitimos política nos quartéis, pois isso acaba com os pilares básicos da instituição — a disciplina e a hierarquia".

Por seu turno, integrantes do alto escalão das Forças Armadas avaliam como perigosas as manifestações do presidente da República que possam estimular a quebra de hierarquia, que é um dos pilares fundamentais da organização dos militares.

O certo é que constantes manifestações do presidente do país têm causado grande mal-estar entre militares, a exemplo do seu discurso recente, quando ele disse que “O meu Exército não vai para a rua obrigar o povo a ficar em casa”, em contraposição às medidas restritivas sociais adotadas por governadores.

Não há a menor dúvida de que a mudança dos comandos das Forças Armadas é claro sinal de que o presidente do país tentou e não conseguiu implantar medidas de exceção, contrárias aos princípios republicano e democrático, mas compatíveis somente com a mentalidade dele, à vista das graves crises imperantes na saúde pública e no seu relacionamento com o Supremo Tribunal Federal e os governadores, mas não obteve o necessário respaldo delas, justamente porque, por certo, os militares ainda estão escaldados com as fortes lembranças do regime militar, que precisa ser esquecido, com a maior urgência possível.

Acontece que a mentalidade retrógrada, em termos políticos, do presidente do país se encontra vivamente atrelada aos sentimentos desse passado de muitos questionamentos, que já devia ter sido considerado página virada da história brasileira, exatamente porque o Brasil precisa progredir e se desenvolver também quanto aos princípios políticos e administrativos, o que não será possível quando se tem os olhos voltados para o passado que até pode ter sido importante, mas o Brasil se encontra em nova de fase completamente diferente de modernidade que precisa ser vivida com a sua verdadeira realidade e intensidade.

Conforme a nova estruturação das Forças Armadas, é possível que o presidente do país se entusiasme ao máximo e tente a implantação de medidas malucas e antiprogressistas, que ele tem na cabeça fervilhante de ideias cujas consequências só Deus pode adivinhar seus resultados, ao se imaginar que ele já implorou o apoio do povo para fazer estripulias e maquiavelismos, em conformidade com a vontade do povo.

Ou seja, ao que tudo indica o presidente brasileiro precisa contar com apoio do povo e o respaldo das Forças Armadas para revolucionar ao seu estilo estabanado de compreensão do que seja realmente correto, na linha apenas imaginada por ele, que já demonstrou que não segue orientação senão a dele mesmo, que já demonstrou completa falta de sintonia dela com a cartilha do preparado, equilibrado e inteligente estadista, na condução dos negócios do Estado brasileiro.

É bem possível que a presente reforma no âmbito das Forças Armadas pode suscitar surpresas bastantes desagradáveis, notadamente porque ela se esquadra precisamente na linha do sentimento perseguido pelo presidente do país, que entende que precisa fazer algo diferente, tendo por finalidade agradar seus fiéis seguidores, que vêm exigindo exatamente que ele demonstre autoridade no comando da nação, que é algo que ele, até aqui, não tem encontrado ressonância nos quartéis.

Não tenham a menor dúvida, senhores brasileiros, de que o futuro do Brasil é extremamente incerto, muito mais diante do estado de desequilíbrio emocional que permeia a mente do presidente do país, que pode ensejá-lo a enveredar por caminhos que não sejam os melhores para os destinos dos brasileiros.

Há a esperança de que o presidente se tranquilize e, antes de usar a caneta, conforme já foi ameado por ele, nenhum ato extravagante seja assinado por ele, sem o aval de pessoas sensatas, equilibradas e inteligentes, de modo a se permitir discutir prévia e precisamente as consequências dele, porque, depois de sancionado, só Deus para compreender as suas reais motivações e consequências.      

Brasília, em 30 de março de 2021

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