quarta-feira, 3 de março de 2021

Desumanidade?

 

O Brasil experimentou dois indesejáveis e lamentáveis recordes, neste último dia 2, quais sejam, o de 1.726 mortes por Covid-19, em apenas 24 horas, o equivalente a uma vida perdida para a doença em cada 50 segundos, e o da média móvel diária de óbitos, que atingiu o ápice de 1.274.

De acordo com o boletim das 20h do consórcio de veículos de imprensa, formado pelos principais meios de comunicação do país, que reúne diariamente informações das secretarias estaduais de Saúde, a pandemia já matou, pasmem, 257.562 pessoas no país.

O dia de ontem registrou o quarto seguido em que a média móvel de mortes bateu seguidos recordes, em que a taxa de 1.274 é 23% maior do que a registrada 14 dias antes, o que indica tendência de alta, já que a variação passa dos 15%, cujo índice está acima dos mil, desde 21 de janeiro.

O total da doença, no país, subiu para 10.647.845 e somente em 24h foram confirmadas 58.237 novas infecções, registrando-se média móvel diária de diagnósticos positivos em 55.318, com aumento de 22%, em relação à taxa de duas semanas atrás.

A Fiocruz publicou boletim especial, com alerta de que, pela primeira vez, o país inteiro apresenta piora de indicadores da Covid-19, cujos aspectos analisados estão o crescimento do número de casos e de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de Síndrome Aguda Respiratória Grave (SRAG), a alta positividade de testes e a sobrecarga dos hospitais.

A Fiocruz afirmou que, até então, a doença se apresentava em estágios diferentes disso nos estados.

De acordo com o aludido boletim, o cenário alarmante representa apenas “a ponta do iceberg de um patamar de intensa transmissão no país”, principalmente pela constatação de que, das 27 unidades da federação, 19 apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI acima de 80%.

Diante da forte incidência da Covid-19, no Brasil, o Imperial College, de Londres, que faz monitoramento semanal da doença, apontou, nesta terça-feira, que a taxa de transmissão (Rt) do novo coronavírus, aqui no país, subiu para 1,13, o que significa que cada 100 pessoas infectadas transmitem o vírus para outras 113.

Aquela entidade havia constatado que o índice divulgado em 23 de fevereiro tinha sido de 1,02, o que demonstração muita preocupação, à vista do entendimento de que, qualquer resultado acima de 1, indica que o contágio está fora de controle.

Em se tratando que o contágio da Covid-19 se encontra fora de controle, no Brasil, causa terrível perplexidade, no seio da humanidade com o mínimo de sensibilidade e sensatez, por enxergar cristalino e indiscutível império da decadência e do absurdo que chegou a dominação de tragédia sobre a saúde e a vida dos brasileiros, que, literalmente, não têm a quem recorrer, diante de lamentável situação.

Diante de calamidade que se abate sobre a saúde pública brasileira, se o governo tivesse o mínimo de consciência humanitária, já teria adotado importantes medidas da sua alçada, em demonstração não somente da normal preocupação ante a gravidade do problema causado pela Covid-19, mas sim em face dos extremos desespero e inquietação, exatamente no sentido da necessidade da urgente mobilização não somente dos órgãos sob o seu comando, mas também das entidades e dos organismos civis brasileiros, na tentativa de se buscar mecanismos capazes para enfrentar com todos os instrumentos a peste de doença que martiriza os brasileiros.

As medidas urgentes que já deveriam ter sido tomadas pelo governo se mostram imprescindíveis em evidenciação ao fiel cumprimento da sua obrigação institucional como, em especial, em prova da sensibilidade para com a vida humana, que vem sendo cuidada com o máximo de zelo, carinho e amor pelos governos das nações que estão se empenhando com todas as forças no combate da pandemia do novo coronavírus, o que não é o caso do Brasil, que tem um ministério para cuidar precisamente das políticas de saúde pública, mas a desgraça invade o território brasileiro e esse órgão finge que a tragédia não tem nada a ver com as suas atribuições constitucionais e o mais grave é que o presidente do país aquiesce candidamente com tamanha maluquice e nada faz para solavancar a consciência de pessoas tão indolentes e distanciadas de seus deveres de bem cuidar da vida dos brasileiros.

É bem possível que haja pessoa ideologicamente fanatizada a alegar que, diante de catástrofe com a dimensão da Covid-19, não adiante se fazer absolutamente nada, muito menos se pensar em mobilizar a sociedade para a tentativa de, ao menos minorar o incontrolável caos na saúde pública, como vem acontecendo à luz solar e nada se vislumbra contra tamanha insensibilidade, mas o mínimo de interesse por parte do governo federal já poderia dá a evidência de que ele tem conhecimento dos fatos da maior gravidade que vem infernizando a saúde e a vida dos brasileiros.

Ou seja, qualquer iniciativa vinda do governo, diferente do status quo, mesmo que nem possa contribuir para resolver nada, já se traduz em alívio para os brasileiros, por saberem que há a consciência de que a Covid-19 vem arrasando, com muita atrocidade, a saúde da população, que se sentia menos traumatizada, pela certeza de que tudo foi feito para impedir que os estragos da tragédia fossem bem menor, mas, ao contrário disso, a dor só se multiplica, diante do desprezo resultante da omissão e da irresponsabilidade administrativas, que somente não as ver quem tem no peito os mesmos sentimentos de insensibilidade e desumanidade.

Enfim, o momento atual do Brasil é de muita tristeza, pelo abandono das causas mais sublimes dos brasileiros, exatamente quando há forte devastação da vida da população, diante da visível falta de iniciativa das autoridades públicas e políticas, aquelas são denominadas representantes do povo, que poderiam ter a dignidade de aparecer perante seus representados, para a confirmação da integridade e da responsabilidade cívicas de lutar bravamente em seu nome, por meio da apresentação de medidas prioritárias e abrangentes contra o avanço da Covid-19, como absoluta demonstração de interesse pela vida dos brasileiros.

Urge que os brasileiros que amam o Brasil e o seu povo lancem protestos de repúdio à visível inércia, à insensibilidade e ao desprezo aos princípios humanitários, pela falta de iniciativa à altura do necessário combate à truculência da Covid-19, quando o momento exige, no mínimo, a mobilização e a aglutinação das forças nacionais capazes de contribuir para a busca de solução, na medida do possível, para tão grave crise da saúde pública brasileira, tendo a liderança e a coordenação dos poderes da República, de quem se espera o cumprimento do dever constitucional de zelar pela integridade da vida do ser humano.    

Brasília, em 3 de março de 2021

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