terça-feira, 2 de março de 2021

Pelo amor ao Brasil!

 

Os Secretários de Saúde dos Estados divulgaram nota conjunta, contendo sugestões sobre medidas urgentes contra o iminente colapso das redes públicas e privadas de saúde, ante o aumento progressivo das doenças causadas pela Covid-19.

Em síntese, os secretários afirmam que: a) o Brasil vive o pior momento da pandemia, com patamares altos em todas as regiões; b) falta condução nacional unificada e coerente da reação à pandemia; c) é preciso proibir eventos presenciais, inclusive atividades religiosas; d) é preciso suspender aulas presenciais em todo o país; e) é preciso adotar toque de recolher nacional;  f) convém fechar bares e praias; g) é preciso ampliar testagem e acompanhamento dos infectados; h) é aconselhável a  criação de Plano Nacional de Comunicação, para esclarecer a população sobre a gravidade da situação pandêmica.

O comunicado à nação vem a público no exato momento em que a doença bate recordes alarmantes no país, com consecutivos e crescentes casos de mortes e infecções, e após o presidente brasileiro ter criticado o uso de máscara e ainda ter provocado aglomerações e ameaçado governadores com medida que envolve o corte de repasse de recursos, no caso da implantação do severo isolamento social, de adoção de medidas mais severas contra a circulação de pessoas.

No dia anterior à divulgação em apreço, entidades médicas também divulgaram veemente apelo, pedindo a adoção de medidas urgentes contra o agravamento da pandemia, notadamente em defesa do uso de máscara, a par de criticarem, indiretamente, a postura do presidente do país, que tem se mostrado insensível à gravidade da incidência da Covid, em que pese o alarmante número de mortes.

As entidades médicas disseram que "Direcionamentos contrários (ao uso das máscaras) desconstroem, confundem e agravam a situação do país", ou seja, as opiniões contrárias ao combate à Covid-19 somente contribuem para o aumento dos casos de infectados e, por via de consequência, do agravamento do atendimento médico-hospitalar, ante a superlotação de doentes.  

A verdade é que, nos últimos dias, os governadores também reagiram às atitudes de insensibilidade lideradas pelo presidente da nação e se manifestaram em demonstração de fortes reações contra o governo federal, a exemplo de carta aberta assinada por 19 deles, que responderam à postagem do mandatário sobre repasses de recursos para os estados.

Inconformados com a distribuição, sob conta gotas, das vacinas pelo governo federal, os governadores se mobilizaram para comprarem o imunizante independentemente da União, como tentativa de agilizar o programa “tartaruga” controlado pela Ministério da Saúde, que nem deveria mais ter esse nome, ante o seu trabalho indiscutivelmente contrário aos interesses da saúde dos brasileiros.

Diante do apelo quase desesperador dos secretários de saúde estaduais, a ilação que se pode tirar do caos na saúde pública é o de que os brasileiros estão sendo tratados em estado de verdadeiro abandono, quando é visível a falta de coordenação, em nível nacional, das políticas indispensáveis ao combate efetivo da Covid-19.

Compete ao governo federal, na forma do disposto no art. 196 da Constituição Federal, a liderança e a coordenação das medidas necessárias aos cuidados da saúde dos brasileiros e isso implica que o ministério existente para a execução das ações tivesse a iniciativa de agir proativamente, quer por vontade própria ou por ações conjuntas com os estados e municípios, tendo por objetivo à busca de medidas capazes de contribuir para o verdadeiro combate à pandemia da Covid-19, mas, desde o início dessa desgraça até agora, esse órgão somente agiu quando era comandado por especialista, até quando o presidente tinha alguém para se indispor contra o seu trabalho.

Depois disso, com o seu comando por leigo sobre saúde pública ou sanitarismo, o ministério ficou acéfalo e resultado é exatamente isso que se vê, onde há a grita de que falta coordenação sobre as políticas de saúde pública federal e de medidas capazes para o efetivo combate à pandemia, em visível abandono da causa pública da maior importância para a saúde e vida dos brasileiros.  

No âmbito das atribuições e da competência constitucionais, é muito ruim, para não dizer péssimo demais, que seja preciso que secretários de estado e entidades de classe fiquem fazendo apelo ao governo federal ou a quem mais se fizer necessário, para lembrar sobre providências ou ações que poderiam ter sido efetivadas sem necessidade de ninguém dizer que a situação se encontra precária exatamente porque as autoridades públicas não estão cumprindo as suas obrigações institucionais, tendo como consequência precisamente os interesses dos brasileiros, que ficam relegados a planos secundários, confundidos com causas eleitoreiras.

Diante dos fatos, convém que o governo federal se conscientize, com o máximo de urgência, de que a gravidade da pandemia do novo coronavírus exige muita humildade - para pôr em suspensão, pelo menos momentaneamente, a sabedoria que até agora não contribuiu para nada -  e o extremo do empenho e da dedicação em benefício do interesse público, de modo que o ministério que existe para cuidar das políticas públicas de saúde mostre as suas reais importância e capacidade de trabalho proativamente à saúde dos brasileiros, no sentido de liderar e coordenar, em altíssimo nível, todas as ações indispensáveis ao efetivo combate à letal Covid-19, com embargo da mesquinharia política da reeleição ou de outras causas.

Ou seja, a situação se tornou gravíssima demais, a ponto de somente haver a hipótese da convergência de pensamentos voltados exclusivamente para o combate ao Covid-19, em que seja possível a união nacional para o fortalecimento de medidas unificadas, onde todos os interesses individuais, políticos, empresariais, ideológicos ou outros sejam postergados nas suas lutas principais, em nome da única finalidade de trabalho pelas saúde e vida dos brasileiros.

Esse esforço de união nacional seria a atitude mais nobre que os mais ilustres brasileiros poderiam se dispor a fazer, em nome da causa mais sublime que se espera de quem realmente ama o Brasil e o seu povo.        

Brasília, em 2 de março de 2021

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