O presidente da República, mantendo o enviesado e nada
elegante costume, voltou a atacar, em sua live semanal, o endurecimento das
restrições no combate à pandemia, fazendo severas críticas, em especial, ao
governador de São Paulo, um de seus preferenciais inimigos políticos.
O presidente do país entende que o efeito colateral
do lockdown é mais danoso do que o próprio vírus, em posicionamento pessoal
onde não se indica qualquer estudo ou base científica a respeito de tão importante
tema.
O presidente voltou a apontar os impactos do
fechamento das atividades sobre o emprego, tendo como potencial consequência o
aumento das tensões sociais.
O presidente afirmou que “Temos um ano de
lockdowns e o vírus continua aí”, tendo, na sequência, apresentado matérias,
atribuídas ao site R7, que noticiam aumento nos casos de abuso infantil em São
Paulo, que é a “cidade que mais fecha”, a par de outros problemas
referentes aos conflitos familiares e assédio sexual.
Ele disse ainda que “Ninguém quer morte,
lamentamos toda e qualquer morte, agora saúde e economia andam juntos. Não pode
criar massa de desempregados enorme no Brasil porque daí não vamos ter recursos
para fazer nada, nem para comprar vacina”.
Aproveitando as aludidas citações, o presidente
ressaltou, em tom de alerta, que “A pessoa com fome perde a razão, topa tudo”.
O mandatário afirmou ainda que não quer ser acusado
de estimular a violência, mas disse que vê “problemas sérios” pela frente
e concluiu sua live afirmando que “Nós sabemos quem está provocando esse
problema”, numa clara referência aos governadores que decretaram lockdowns.
Sempre que o presidente do país pousa para criticar
as medidas adotadas pelos governadores, ficam cada vez mais acentuadas as nobrezas
exponenciais da incompetência palaciana para cuidar, com racionalidade e
competência, as questões relacionadas com o combate à pandemia do coronavírus.
Caso tivesse os mínimos de boa vontade e interesse
para realmente se encontrar a melhor solução para os problemas duramente criticados
pelo mandatário, em termos de esforços conjuntos da União e dos estados, como normalmente
devem fazer as nações sérias e evoluídas, em termos administrativos, não seria
de hoje que o presidente procurasse tratar a pandemia como assunto de Estado,
com embargo de questões políticas colocadas em primeiro plano, como fica muito
claro na sua fala, em que a rusga é, em especial, com o governador de São
Paulo, em clara e absurda discussão que não leva a absolutamente nada, senão
mais complicação do que ajuda para se tentar resolver tão grave problema de
saúde pública.
A ideia que venho defendendo, com muita clareza, diz
respeito à promoção de reuniões conjuntas entre representantes da União, dos estados
e municípios, sob as liderança e coordenação do governo central, em especial
porque compete a ele, nos termos da Carta Magna, a iniciativa das políticas de saúde
pública, tendo por finalidade a precisa e primordial discussão sobre as
melhores medidas para o combate à pandemia da Covid-19, em todos os seus matizes,
de modo que o resultado dessas reuniões pudessem servir para se encontrar, exclusivamente,
de maneira racional, inteligente, sensível e responsável, evidentemente sem
críticas a ninguém, a construção de medidas que possam beneficiar a população e
contribuir efetivamente para o salvamento de vidas humanas e, ao mesmo tempo, da
economia, como forma de satisfazer ao interesse público, que é a razão, na
essência, dos representantes que são eleitos pelo povo, para trabalharem com
essa salutar finalidade.
Por seu turno, essa maneira de entendimento sobre
os impactos do fechamento das atividades até pode ser correta, mas o presidente
apenas defende a abertura, precisamente em clima de parcialidade emotiva sobre
o tema, sem levar em conta aspectos importantes que têm muito a ver com o mesmo
assunto.
Faço referência precisamente sobre a responsabilidade
dos governantes perante a saúde e a vida dos brasileiros, que certamente são
poupadas por meio dessas medidas prudenciais de isolamento, que infelizmente o
mandatário as ignora, estranhamente em nome da saúde da economia, como se esta
apenas tivesse valor para o seu governo, de tantos e notáveis fracassos no combate
à gravíssima pandemia da Covid-19, a exemplo da imunização.
Ressalte-se que a vacinação já começou muito tardiamente,
continua em marcha-lenda e pode até parar, exatamente por falta do principal produto:
a vacina, o que somente expõem desorganização e falta de planejamento para a
condução de política da maior importância, considerada prioritária no momento,
por envolver a tentativa do salvamento de importantes vidas humanas, que exigem
o envolvimento da boa vontade, da tolerância, da competência e principalmente do
trabalho conjunto e convergente, com a exclusiva finalidade de se alcançar o
bem comum dos brasileiros.
Os fatos mostram, a bem da verdade, que muitos
governantes, conscientes sobre os reais efeitos danosos da pandemia do novo
coronavírus, cuidaram de comprar e estocar imunizantes, em quantidade
suficiente, com a devida antecedência, justamente como forma de tentar proteger
a população contra a Covid-19.
É bem possível que o presidente brasileiro tivesse
uma nesga de razão se seu governo dispusesse, em forma de cooperação, para os
estados e municípios elementos capazes de se evitar as inaceitáveis montanhas
de mortes para a Covid-19, a exemplo de normas capazes de orientá-los a
proceder quando o pique da doença contribui para colapsar o atendimento médico-hospitalar,
que já se encontra no limite, mas ele não estar à frente diretamente - quiçá
nem indiretamente - do grave problema que a saúde pública é obrigada a enfrentar,
já em condições normais de precariedade, que não chega a ser novidade para ninguém,
salvo para o governo.
Ou seja, a inexplicável lacuna deixada pelo governo,
quanto aos problemas que afetam gravemente a saúde pública, sinalizam que o
presidente seria muito mais elegante em permanecer em silêncio, porque não se vislumbra
nenhuma contribuição vinda, em especial, do principal órgão que deveria tratar
da saúde pública, embora essa seja a sua incumbência constitucional, de modo
que a omissão nesse caso somente contribui para prejudicar o interesse da
população, que deixa de receber a prestação de serviços qualificados, que
seriam de extrema importância para o salvamento de vidas humanas.
Enfim, parece conveniente e correto que, diante da relevância
da autoridade pública, em termos de gerenciamento da nação, o presidente da República
precisa entender a importância do cuidado com as suas afirmações e críticas, em
especial em se tratando de tão grave doença da Covid-19, sendo o mais razoável ficar
calado, quando não se tem elementos plausíveis, como estudos ou orientações científicas,
para justificar as suas argumentações sobre o tema, porque, ao contrário disso,
as suas opiniões têm o condão de conturbar ainda mais o que já está supercomplicado.
Brasília, em 12 de março de 2021
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