sexta-feira, 12 de março de 2021

Críticas infundadas?

 

O presidente da República, mantendo o enviesado e nada elegante costume, voltou a atacar, em sua live semanal, o endurecimento das restrições no combate à pandemia, fazendo severas críticas, em especial, ao governador de São Paulo, um de seus preferenciais inimigos políticos.

O presidente do país entende que o efeito colateral do lockdown é mais danoso do que o próprio vírus, em posicionamento pessoal onde não se indica qualquer estudo ou base científica a respeito de tão importante tema.

O presidente voltou a apontar os impactos do fechamento das atividades sobre o emprego, tendo como potencial consequência o aumento das tensões sociais.     

O presidente afirmou que “Temos um ano de lockdowns e o vírus continua aí”, tendo, na sequência, apresentado matérias, atribuídas ao site R7, que noticiam aumento nos casos de abuso infantil em São Paulo, que é a “cidade que mais fecha”, a par de outros problemas referentes aos conflitos familiares e assédio sexual.

Ele disse ainda que “Ninguém quer morte, lamentamos toda e qualquer morte, agora saúde e economia andam juntos. Não pode criar massa de desempregados enorme no Brasil porque daí não vamos ter recursos para fazer nada, nem para comprar vacina”.

Aproveitando as aludidas citações, o presidente ressaltou, em tom de alerta, que “A pessoa com fome perde a razão, topa tudo”.

O mandatário afirmou ainda que não quer ser acusado de estimular a violência, mas disse que vê “problemas sérios” pela frente e concluiu sua live afirmando que “Nós sabemos quem está provocando esse problema”, numa clara referência aos governadores que decretaram lockdowns.

Sempre que o presidente do país pousa para criticar as medidas adotadas pelos governadores, ficam cada vez mais acentuadas as nobrezas exponenciais da incompetência palaciana para cuidar, com racionalidade e competência, as questões relacionadas com o combate à pandemia do coronavírus.

Caso tivesse os mínimos de boa vontade e interesse para realmente se encontrar a melhor solução para os problemas duramente criticados pelo mandatário, em termos de esforços conjuntos da União e dos estados, como normalmente devem fazer as nações sérias e evoluídas, em termos administrativos, não seria de hoje que o presidente procurasse tratar a pandemia como assunto de Estado, com embargo de questões políticas colocadas em primeiro plano, como fica muito claro na sua fala, em que a rusga é, em especial, com o governador de São Paulo, em clara e absurda discussão que não leva a absolutamente nada, senão mais complicação do que ajuda para se tentar resolver tão grave problema de saúde pública.

A ideia que venho defendendo, com muita clareza, diz respeito à promoção de reuniões conjuntas entre representantes da União, dos estados e municípios, sob as liderança e coordenação do governo central, em especial porque compete a ele, nos termos da Carta Magna, a iniciativa das políticas de saúde pública, tendo por finalidade a precisa e primordial discussão sobre as melhores medidas para o combate à pandemia da Covid-19, em todos os seus matizes, de modo que o resultado dessas reuniões pudessem servir para se encontrar, exclusivamente, de maneira racional, inteligente, sensível e responsável, evidentemente sem críticas a ninguém, a construção de medidas que possam beneficiar a população e contribuir efetivamente para o salvamento de vidas humanas e, ao mesmo tempo, da economia, como forma de satisfazer ao interesse público, que é a razão, na essência, dos representantes que são eleitos pelo povo, para trabalharem com essa salutar finalidade.

Por seu turno, essa maneira de entendimento sobre os impactos do fechamento das atividades até pode ser correta, mas o presidente apenas defende a abertura, precisamente em clima de parcialidade emotiva sobre o tema, sem levar em conta aspectos importantes que têm muito a ver com o mesmo assunto.

Faço referência precisamente sobre a responsabilidade dos governantes perante a saúde e a vida dos brasileiros, que certamente são poupadas por meio dessas medidas prudenciais de isolamento, que infelizmente o mandatário as ignora, estranhamente em nome da saúde da economia, como se esta apenas tivesse valor para o seu governo, de tantos e notáveis fracassos no combate à gravíssima pandemia da Covid-19, a exemplo da imunização.

Ressalte-se que a vacinação já começou muito tardiamente, continua em marcha-lenda e pode até parar, exatamente por falta do principal produto: a vacina, o que somente expõem desorganização e falta de planejamento para a condução de política da maior importância, considerada prioritária no momento, por envolver a tentativa do salvamento de importantes vidas humanas, que exigem o envolvimento da boa vontade, da tolerância, da competência e principalmente do trabalho conjunto e convergente, com a exclusiva finalidade de se alcançar o bem comum dos brasileiros.

Os fatos mostram, a bem da verdade, que muitos governantes, conscientes sobre os reais efeitos danosos da pandemia do novo coronavírus, cuidaram de comprar e estocar imunizantes, em quantidade suficiente, com a devida antecedência, justamente como forma de tentar proteger a população contra a Covid-19.

É bem possível que o presidente brasileiro tivesse uma nesga de razão se seu governo dispusesse, em forma de cooperação, para os estados e municípios elementos capazes de se evitar as inaceitáveis montanhas de mortes para a Covid-19, a exemplo de normas capazes de orientá-los a proceder quando o pique da doença contribui para colapsar o atendimento médico-hospitalar, que já se encontra no limite, mas ele não estar à frente diretamente - quiçá nem indiretamente - do grave problema que a saúde pública é obrigada a enfrentar, já em condições normais de precariedade, que não chega a ser novidade para ninguém, salvo para o governo.

Ou seja, a inexplicável lacuna deixada pelo governo, quanto aos problemas que afetam gravemente a saúde pública, sinalizam que o presidente seria muito mais elegante em permanecer em silêncio, porque não se vislumbra nenhuma contribuição vinda, em especial, do principal órgão que deveria tratar da saúde pública, embora essa seja a sua incumbência constitucional, de modo que a omissão nesse caso somente contribui para prejudicar o interesse da população, que deixa de receber a prestação de serviços qualificados, que seriam de extrema importância para o salvamento de vidas humanas.  

Enfim, parece conveniente e correto que, diante da relevância da autoridade pública, em termos de gerenciamento da nação, o presidente da República precisa entender a importância do cuidado com as suas afirmações e críticas, em especial em se tratando de tão grave doença da Covid-19, sendo o mais razoável ficar calado, quando não se tem elementos plausíveis, como estudos ou orientações científicas, para justificar as suas argumentações sobre o tema, porque, ao contrário disso, as suas opiniões têm o condão de conturbar ainda mais o que já está supercomplicado.  

Brasília, em 12 de março de 2021

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