sábado, 6 de março de 2021

Que país é este?

            Em crônica recente, analisei a lamentável postura do presidente da República, que fez apelo para que os brasileiros deixassem de “frescura”, pelo choro diante das perdas de vidas de entes queridos, evidenciando com seu gesto desumano forma mais agressiva e indelicada de negativismo sobre a mais intensa monstruosidade impingida pela Covid-19 contra a vida da população.

Causa perplexidade que é da natureza do estadista, em princípio, dispensar, nos seus atos públicos, conduta a mais atenciosa, compreensiva e amável para com o infortúnio do seu povo.

Diante desse contexto, uma conterrânea minha, que vem se destacando com colocações, por meio de mensagens, contra as insensibilidades e injustiças sociais, disse o seguinte: ‘’Senhor presidente, tenha a compostura e respeito por aqueles que choram e sofrem a falta de seus entes queridos! Existem famílias que perderam 2, as vezes até 3 pessoas em decorrência do vírus! Respeite, não zombe do sofrimento dessas pessoas. Frescura porque não é ele que teve todos seus direitos cortados, enfrenta uma pandemia sem leitos vagas nos hospitais, vê seus familiares morrer sem direito a despedida, está sem emprego, alimentação, remédios e os combustíveis aumentando diariamente. A insensibilidade dessas palavras me rasgam no peito de dor. Não ê possível que o povo brasileiro que sempre se mostrou solidário, ouça isso e ache normal. Imagina caírem três aviões por dia e todos os ocupantes morrerem e a companhia aérea dizer que não pode parar. Quando os pilotos pedem providências, ouvem para pararem de frescura, de mimimi. Isso não pode passar impunemente. Boa tarde amigo. Jesus lhe proteja”.

Em resposta ao expressivo recado para o mandatário do país, eu me lembrei que, certa vez, o conjunto Legião Urbana fez música cujo título revolucionário é "Que país é esse?”, certamente abismado com as disparidades sociais que já grassavam no pobre Brasil da prevalência da falta dos princípios da caridade e do amor ao ser humano, tal e qual eles deixam de ser observados no presente momento.  

Fazendo apologia ao famoso grupo musical, agora, indago, igualmente estarrecido: “Que país é este?”, ante os absurdos que os brasileiros estão vivendo, em que a banda da ruindade do mundo desaba sobre a população, na mais agressiva prática de martírio humanitário e, como forma de “lenitivo”, o presidente do país, além de nada fazer para combate-la,  em forma de comandar verdadeira revolução contra a Covid-19, apenas demonstra revolta ante o choro por causa das perdas dos entes queridos, em consonância com o pior sentimento para se mostrar tristeza pelo desastre que se abate sobre as pessoas desamparadas da saúde pública e de medidas preventivas de maior grau possível.  

Acredita-se que nem nas piores republiquetas exista igual banalização de insensibilidade e desumanidade tal qual tem se verificado sob a visão das pessoas normais sob o prisma da não aceitação da tragédia disseminada com o beneplácito de quem tem o dever de cuidar da saúde e da vida dos brasileiros, à luz do normal consentimento de que está bom, está tudo bom demais, não precisando se preocupar nem fazer absolutamente nada diferente do que se encontra, porque é tudo o que se pode oferecer, para que todos possam morrer com a paz de Deus, sob a “inteligente” compreensão de que todos vão morrer mesmo.

Não há a menor dúvida de que é desesperador e angustiante se conviver nesse quadro de completa agonia, quanto à falta da necessária sanitização, e a principal autoridade pública ainda ter indigna coragem de cobrar que o povo deixe de chorar, como se a desgraça não tocasse o seu coração de ser humano?

A tristeza maior ainda é que não há uma única alma viva, um homem público com o mínimo de perspicácia, com inteligência, coragem e algo diferente da ruidosa moldura prevalente, para se opor contra esse estado inadmissível de deplorabilidade, que consiste em pura e tocante desumanidade, deixando que prevaleçam mórbidas perversidade e insensibilidade, para se ter o altruísmo com vistas a dar o grito ensurdecedor de basta à nítida indiferença contra a importante vida dos brasileiros.

Seria conveniente que o homem público se empenhasse, com a força da brasilidade, e mostrasse, neste momento de angustiante para o povo, destemor,  dignidade e amor aos princípios humanitários, para tentar pôr freios em tudo isso que acontece de muita violência e crueldade contra a vida da população, que merece dignidade como ser humano que é a principal razão da existência do Brasil.

Convém que haja urgente mobilização da sociedade, com a convocação da inteligência nacional, com experiência em saúde pública e sanitarismo, para se opor à mentalidade de aceitação tácita de situação completamente inadmissível no mundo moderno e desenvolvido, onde a primazia dessa evolução tem sido justamente a incessante busca do aprimoramento das questões de interesse do ser humano, que exige e merece ser tratado com os melhores cuidados e recursos existentes na face da Terra, independentemente de interesses pessoais.

Ou seja, o que se pretende é algo diametralmente diferente do que se passa no país tupiniquim, onde o diminuto vírus tem a capacidade para potencializar a intimidade do sentimento de pessoas, da pior maneira possível, no sentido de ser capaz de apagar de suas mentes os mais sagrados dos princípios, que são o respeito e o amor ao seu semelhante.

Na verdade, tais procedimentos negativistas põem por terra a grandeza da dignidade humana, à vista da nítida incapacidade de sensibilização diante da tragédia que representa milhares de mortes de brasileiros, quando uma única perda de vida já era mais do que suficiente para a iniciação de medidas revolucionárias de todos os matizes, precisa e cuidadosamente na busca de solução para a gravíssima crise da saúde pública.

É justamente com essa finalidade que se propõe a participação da sociedade em oposição aos atos ineficientes postos em prática pelo governo, contra a agressiva da Covid-19, para que, pelo menos em termos de ideias, possa se encontrar urgentes medidas práticas, na tentativa de se minimizar o sofrimento dos brasileiros, que foram completamente desprezados justamente por parte de quem tem o dever constitucional de cuidar e proteger os interesses da população, em especial no que refere às suas saúde e vida.

          Brasília, em 6 de março de 2021

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