Em
uma live, o presidente da República fez acusações, ataques, críticas e menção ao
uso das Forças Armadas, tendo aproveitado o ensejo para dizer que faz "o
que o povo quiser", em clara referência que espera o sinal verde dos
brasileiros para agir com a liberdade de salvador da pátria que passa na cabeça
dele.
Sem
perceber que mente, o presidente brasileiro voltou a afirmar que nunca se
referiu à Covid-19 como uma "gripezinha", quando ele utilizou
o termo gripezinha duas vezes, sendo uma em entrevista no dia 20 de março do
ano passado, exatamente nestes termos: "depois da facada, não vai ser
uma gripezinha que vai me derrubar, não".
Em
24 do mesmo mês, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, ele
declarou, verbis: “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta,
caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria
ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho".
O
presidente do país reafirmo também que nunca foi contra a vacina, o que igualmente
não procede, porque há registro de diversas manifestações dele se posicionando contra
a vacinação, como o que foi feito em 29 de outubro de 2020, quando disse: "Ninguém
vai tomar tua vacina na marra, não, tá ok? Procura outra. E eu, que sou
governo, não vai comprar sua vacina também não. Procura outro pra pagar sua
vacina".
Em
15 de dezembro de 2020, o presidente afirmou: "Eu não vou tomar vacina
e ponto final. Minha vida está em risco? O problema é meu".
Em
13 de janeiro último, enquanto Um homem falava sobre a importância da vacina
contra a Covid-19, o presidente disse, rindo: “Essa de 50% é uma boa?”,
evidentemente se referindo à CoronaVac, que acabara de ser aprovada pela
Anvisa.
Na
mesma data, o presidente ironizou a eficácia de 50,38% da CoronaVac, dizendo
que a "verdade" está aparecendo, sem especificar a que se
referia, mas repetiu que o governo comprará qualquer vacina que tenha o
registro da Anvisa.
Em
22 de janeiro último, o presidente instruiu
a população a ler sobre as particularidades de cada vacina, antes de se
imunizar, nestes termos: "Peço que o pessoal leia a bula, os contratos
com as empresas para tomar pé de onde chegaram as pesquisas, porque não se
concluiu ainda dizendo que uma vacina é perfeitamente eficaz".
O
presidente também voltou a fazer menção às Forças Armadas e ao período da ditadura
militar no Brasil, tendo afirmado que "Eu faço o que o povo quiser.
Digo mais: eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. As Forças Armadas
acompanham o que está acontecendo. As críticas em cima de generais, não é o
momento de fazer isso. Se um general errar, paciência. Vai pagar. Se errar, eu
pago. Se alguém da Câmara dos Deputados errar, pague. Se alguém do Supremo
errar, que pague. Agora, esta crítica de esculhambar todo mundo? Nós vivemos um
momento de 1964 a 1985, você decida aí, pense, o que que tu achou (sic) daquele
período. Não vou entrar em detalhe aqui".
O
presidente aproveitou o ensejo para fazer críticas aos governadores, com
destaque para os de São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, por causa
de medidas restritivas que estão sendo adotadas para tentar conter a disseminação
do novo coronavírus.
Ele
disse que o governador fala que não é, mas é “estado de sítio", ao
comentar o toque de recolher noturno em vigor no Distrito Federal.
O
presidente disse ter como "garantir a nossa liberdade" e que
ele é o "garantidor da democracia", além de ser "a
pessoa mais importante neste momento".
Ele
disse que os governadores "Usam o vírus para te oprimir, para te
humilhar, para tentar quebrar a economia. Quanto mais atiram em mim, de forma
covarde, mais você está enfraquecendo quem pode resolver a situação. Eu tenho
que ter apoio. Se eu levantar minha caneta BIC e falar 'shazan', vou ser
ditador".
Ainda
na live, o atual presidente xingou o ex-presidente da República petista, a quem
chamou de jumento e canista (bebedor de cana).
Em
forte réplica à afirmação do petista, no sentido de que o mandatário brasileiro
é “terraplanista”, este se pôs em frente a um globo terrestre na mesa,
para declarar que "O canista mandou dizer que a terra é redonda".
É
evidente que não se pretende que o presidente do país seja insensível em tudo,
mas não é de bom tom que a autoridade da República representada por ele se
disponha a se nivelar por baixa, ao ficar retrucando em público adjetivações
nada compatíveis com a relevância do cargo, que precisa ser dignificado por
meio de bons exemplos de equilíbrio, maturidade e principalmente de tolerância
e humildade, procurando compreender a fraqueza e o desespero de seus adversários
políticos.
Por
outro lado, é extremamente lamentável que o presidente do país, diante do registro
dos fatos, ainda tente ignorar as marcantes declarações nada respeitosas ao
combate ao Covid-19, porque os brasileiros sabem perfeitamente como ele vem se
comportando, diante dessa tristeza que se abateu sobre as cabeças deles.
A
bem da verdade, em momento algum o mandatário se houve, nesse caso do combater
à pandemia, com sensibilidade e dignidade de verdadeiro estadista, que tem dever,
em forma de compromisso intrínseco de trabalhar devota e incansavelmente somente
em defesa das causas da população, com a abnegação própria de quem foi eleito
exatamente para ser escravo do seu mandato mesmo que a sua índole seja
diferente, porque isso é natural, mas não é normal que o comportamento pessoal possa
influenciar ou prevalecer sobre o interesse público.
Ao
contrário disso, desde o início da pandemia, o presidente foi o primeiro a
vincular o desastre de que se trata em tema político, elegendo governadores e
até prefeitos como inimigos dele, em campanha que precisa de unidade e compromissos
perante a sociedade.
Ao
contrário disso, a autoridade do presidente do país tem o dever de liderar a
maior aproximação dos políticos, notadamente em situação tão grave, não importando
partidos nem ideologias, em torno da causa principal de combate à doença
terrivelmente letal, tendo em vista que se trata de verdadeira guerra que não
se ganha quando seus principais generais estejam lutando em terrenos contrários,
que é exatamente a estratégia encampada pelo presidente, que sempre coloca mais
lenha na fogueira, quando o ideal para o momento seria que todos estivessem
unidos na mesma ala de combate, quando todos têm o único compromisso em
derrotar o inimigo comum do coronavírus.
Na
verdade, o que não é novidade para ninguém que governo, que tem o órgão a nível
ministerial, somente evidencia falta de iniciativa em combate ao coronavírus,
porque não se conhece absolutamente nada que tenha sido apresentado como medida
efetiva no combate à doença.
Não
obstante, em contraposição, praticamente, todos os dias surgem criticadas pesadas
contra quem age em benefício da população, ou seja, a notável contribuição do
presidente do país tem sido o de criticar o que ele acha que está errado, mas
ele não tem a iniciativa de convocar os governadores e prefeitos, para, juntos,
encontrarem alguma alternativa que possa minimizar a tragédia que só aumento ao
meio das queixas e críticas inúteis e nada produtivas.
Se
o presidente entende que o isolamento social total é pior do o próprio vírus,
como já afirmou nesse sentido, sem que ele tenha nada para apoiar o que diz,
por que então o governo federal não apresenta medida que possa, ao menos, atenuar
a deplorável situação, quando as críticas somente servem para potencializar o
inaceitável estado de incompetência, diante da inexistência de ideias úteis?
Ao
dizer que “Eu faço o que o povo quiser”, o presidente deixou muito claro
que ele simplesmente está boiando na poltrona presidencial, não tendo qualquer
noção sobre a essencialidade do seu dever presidencial, porque o estadista
consciente das suas atribuições jamais se dignaria a se oferecer a tão
irresponsável entendimento presidencial.
É
tão irrealista essa afirmação presidencial, porque, nesta altura do campeonato,
o povo talvez queira que ele ceda o seu lugar para quem tenha competência para
cuidar e zelar da saúde e da vida dos brasileiros, com plenos esforços, dedicação
e amor à causa humanitária, mas certamente que ele não vai fazer o que o povo
quiser.
O
povo quer que o presidente se transforme em mandatário que seja apenas sensível
aos princípios humanitários e se empenhe além da sua índole pessoal no combate
à pandemia, sendo compreensível ao máximo aos problemas causados pela Covid-19
e gentil com os governadores e demais autoridades, no sentido da construção de
entendimento único para se alcançar medidas úteis e viáveis ao combate à doença,
mas certamente que ele não vai fazer o que o povo quer, porque o seu coração já
disse que ele se satisfaz ao seu modo de desprezo àqueles princípios, à vista
dos fatos já conhecidos pelos brasileiros, no curso da pandemia.
Por
outro ângulo de interpretação mais aguda da sinalização de “bondade” do
presidente, no sentido de que ele faz o que o povo quiser, parece que essa
ideia maquiavélica tem algo mais voltado com golpe à democracia, em que as
maciças manifestações populares têm, no seu bojo, o desejo ou a forma de intenção
de autorizar que ele decida em nome do povo em adotar ato de exceção, sob o argumento
de que nada foi feito contra a democracia senão com respaldo na vontade soberana
dos brasileiros.
Na
verdade, ao dizer que “Eu faço o que o povo quiser”, o presidente pede
carta branca para adotar medidas com cunho de ruptura do Estado Democrático de
Direito, sob a alegação de que ele não é ditador, precisamente porque teria agido
simplesmente em atendimento à vontade do povo, a quem ele, nesse caso, se diz que
é escravo e que precisava agir, com urgência, para se evitar crises ainda maiores
para a administração do país.
Pessoalmente,
compreendo que o presidente da nação precisa sim fazer tudo o que o povo
quiser, mas apenas no que se refere ao atendimento do interesse público, em
estrita observância ao regramento constitucional e legal e em conformidade com
os princípios republicanos e democráticos, incluindo-se nesse entendimento o
extremo zelo com a saúde e a vida dos brasileiros, na melhor maneira de se
cuidar do integral combate à pandemia do corona, por exemplo.
Por
último, penso que não seria de bom tom se fazer ou praticar qualquer medida
extrema apenas por achar que o povo quer, sendo imprescindível, em atenção aos
princípios do contraditório, do bom senso, da racionalidade e da civilidade, que
a sociedade seja previamente consultada, pela via constitucional do plebiscito,
porque mostra seriedade e respeito aos princípios republicano e democrático, de
se possibilitar que as pessoas se manifestem acerca da aceitação ou não da medida
a ser implantada, à vista do seu cabimento, em termos de atendimento do
interesse público.
Enfim,
os brasileiros esperam apenas que o presidente da República realmente faça o
que o povo quer, em especial, quanto à preocupação em ficar em silêncio e procurar
apenas exercer, com fidelidade, o seu mandato, exatamente na estrita
observância às cartilha e agenda inerentes às atribuições constitucionais e
legais, com relação ao zelo e aos cuidados pertinentes aos interesses do Brasil
e dos brasileiros, sendo responsável pelos próprios atos, sem o insensato comprometimento
da sociedade nas medidas relacionadas ao cargo presidencial.
Brasília,
em 14 de março de 2021
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