O ex-presidente da República petista voltou a fazer
duras críticas aos responsáveis pela Operação Lava-Jato, tendo declarado, sem
citar nomes, que os "meninos da
Operação Lava-Jato" tiveram responsabilidade na morte da sua mulher,
ocorrida no começo deste ano.
Ele disse que "Esses meninos da Operação Lava-Jato têm responsabilidade com a morte
dela, porque você não pode dedicar uma vida inteira a cuidar de filho, a fazer
política, solidariedade, e de repente, da forma mais banal possível, mais
cretina possível, você ser tachada de corrupta. Não tem explicação".
A ex-primeira dama morreu após sofrer AVC (acidente
vascular cerebral). Ela era ré em ação penal junto com o marido, na aludida operação,
os quais respondiam pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em
contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht.
Causou espanto que, em pleno velório, o político tivesse
classificado de "facínoras"
aqueles que "levantaram leviandades"
contra a sua ex-mulher.
As acusações contra a ex-primeira-dama foram
extintas pelo juiz federal, logo após o falecimento dela, tendo declarado pela
extinção da punibilidade dela.
Como o político tem audiência, no próximo dia 13,
com o juiz da Lava-Jato, durante a passagem da sua caravana pelo Nordeste, ele
tem evitado, de forma estratégica, criticar diretamente o juiz federal nos
palanques, mas, como se vê, não tem poupado elevar o tom contra a Lava-Jato,
com destaque para os procuradores.
O ex-presidente fez o discurso mais duro da
caravana sobre a operação, chamando os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato
de "canalhas”, tendo acrescentado que “Já
tenho 20 horas gravadas de Jornal Nacional; dezenas de capas de revistas; já
tenho dezenas, dezenas, centenas de páginas de jornais, entrevistas de rádio,
e, até agora, nenhum canalha teve coragem de dizer que teve uma coisa errada na
minha vida".
Como
se sabe, o ex-presidente é réu em seis processos, já tendo sido condenado em
primeira instância em um deles, no âmbito da Lava-Jato, sob a acusação de ter
se beneficiado de propina, na aquisição e reforma do tríplex do Guarujá (SP),
cujo recurso pende da decisão do Tribunal de Apelação, que dirá se ele é
realmente culpado ou inocente.
Ele também disse que "É muito difícil construir o que construímos nesse país, para depois ver
meia dúzia de meninos, que o único serviço prestado à nação foi ter feito um
concurso, tentar destruir tudo isso. Se eles estão acostumados a mexer com
político corrupto que enfia o rabo no meio das pernas e fica quieto, comigo
eles vão ter que provar".
É
lamentável que ainda, em pleno século XXI, existam políticos com a mentalidade capaz
de imaginar que ficar se vitimando e se passando por perseguido político pode
sensibilizar a opinião pública e ganhar eleição, como se somente isso fosse
suficiente para suplantar o mar de lama que ainda precisa ser desvendado e
removido, porque ainda há muitos fatos irregulares pendentes de esclarecimentos
e de julgamentos, visto que seus autores não podem ficar impunes, diante da
majestosa roubalheira perpetrada na Petrobras, que foi aparelhada no governo do
político, resultando no maior desvio de recursos públicos que se tem
conhecimento na história da República.
Trata-se
de discursos absolutamente toscos, agressivos, ameaçadores e destoantes da
realidade da política moderna, edificante e adequada ao país que precisa virar
a página da tragédia da desmoralização, da incompetência, da ineficiência e da
destruição da administração e dos princípios da probidade, moralidade,
dignidade, entre outros conceitos ínsitos da gestão pública sob o pálio da responsabilidade
e da licitude.
Agora,
essa de achar de culpar a ação da Lava-Jato pela morte de sua ex-mulher é algo
que transcende ao senso crítico e à razoabilidade, além de mostrar gravíssimo
sentido de extrema apelação e de falta de equilíbrio, sensatez e
responsabilidade pública, quanto em se tratando de quem já foi presidente da
República, que tem o dever de ser justo e ponderado, evitando se emitir juízo
de valor sobre algo que não se possa ter condições de provar, porque não comum alguém
fazer acusação leviana e irresponsável.
Só
que a maior gravidade dessa agressão à Lava-Jato é que esse lamentável discurso
foi proferido diante do povo sofrido e calejado pelas intempéries do Nordeste,
que certamente não merece ouvir tanta lamúria e comiseração de quem, na
verdade, deveria ter ficado na sua casa, cuidando de se defender de tantas
acusações sobre a prática de graves crimes contra a administração pública.
Em
última análise, aproveitar discurso político para culpar procuradores da Lava-Jato
pela morte de sua ex-mulher é absolutamente inadmissível, porque isso fere e
agride os bons sentimentos dos nordestinos, que merecem total respeito e tratamento
da melhor dignidade da sua pureza.
Certamente
que, diante da chacoalhada que o político foi forçado a passar, à vista do
sufoco das denúncias, diga-se de passagem, graves para quem se considera
absolutamente inocente, embora não tivesse convencido sobre isso o principal
responsável pela condução da Operação Lava-Jato, na primeira instância, tanto
que já foi condenada à prisão por ele, justa ou injustamente, e quem vai dizer
sobre a correção da condenação é a Corte de Apelação, que tem poder para
confirmar ou rever o veredicto já sentenciado.
Esperava-se
que a experiência do político fosse orientá-lo a seguir, no Nordeste, a
terrinha onde ele diz que mais se identifica com a pobreza, porque sabe falar a
mesma linguagem do sertanejo, linha mais amena e bem comportada de humildade de
pessoa que tivera excelente aprendizado na vida pública, mas, ao contrário
disso, essa de pôr a culpa da morte da sua ex-consorte aos competentes procuradores
do Ministério Público, na Lava-Jato, diz tudo aquilo que os nordestinos e, de
resto, os brasileiros, jamais gostariam de ter ouvido, com tanta ênfase como se
tudo isso fosse verdadeiro, porque se trata de acusação muito forte,
considerando, principalmente, que ela tinha histórico médico de que o aneurisma
já se encontrava instalado nela, por bastante tempo, e isso poderia ser motivo
de algo mais complicado, a qualquer tempo.
Não
se pode mudar os fatos, porque eles são imutáveis e eternos, mas seria muito
menos grave se, a bem da verdade, o político tivesse apenas dito que uma das
causas mortis da sua então companheira teria sido o seu envolvimento e o dela
nas investigações da Lava-Jato, a saber que esta operação apenas cumpre a sua
missão, na forma do dever institucional, de apurar os fatos compreendidos no
âmbito da sua jurisdição, com origem no escândalo com epicentro na Petrobras,
de onde saiu bastante dinheiro para políticos, executivos, empresários etc.,
objeto das investigações sob a incumbência daquela operação.
Na
verdade, é de toda justiça que os procuradores integrantes da força-tarefa da Operação
Lava-Jato exijam que o político prove a sua acusação, eis que o silêncio deles
implica na aceitação tácita da culpa por tão gravíssimo infortúnio. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de agosto de 2017