Segundo
a revista ISTOÉ, a futura chefe do
Ministério Público Federal se reuniu com integrantes da Operação Lava-Jato, a
maior força-tarefa de combate à corrupção e a impunidade da história brasileira,
que levaram para o conhecimento dela grave denúncia, tendo como epicentro do escândalo
a entourage do ainda procurador-geral da República.
A
reportagem de que se trata se reporta a relatos de que, por volta de um ano e
meio, o procurador-geral e sua equipe desenvolveram roteiro paralelo às
investigações da Lava-Jato, tendo por objetivo favorecer o PT e seus principais
líderes.
Consta
que, sem a anuência da força-tarefa, o grupo do procurador-geral houve por bem protelar
a homologação da delação da OAS, que contém, no seu bojo, explosivo de pura nitroglicerina
contra o ex-presidente e o PT, cuja matéria já está à disposição da Procuradoria
Geral da República, para ser enviada ao Supremo Tribunal Federal, há alguns
dias, para dar prioridade máxima à conclusão de forçados acordos com o
ex-deputado e ex-presidente da Câmara e o doleiro-operador do PMDB.
Na
verdade, fala-se que o objetivo da ação seria o de fortalecer suposta nova
denúncia contra o presidente do país, mas para isso os aliados do
procurador-geral querem, a qualquer preço, que as delações do doleiro e do
ex-deputado envolvam o peemedebista e a cúpula do PMDB, mesmo que, para tanto,
seja preciso agir ao arrepio da lei.
Os
interlocutores da futura procuradora-geral vislumbram, nos citados métodos nada
ortodoxos, movimento cristalino, objetivo e com alvo muito bem direcionado, embora
com fins nada republicanos, que consistem em esquema montado e conduzido pelo
procurador-geral da República para favorecer o ex-presidente e os principais
líderes petistas nos processos em que são alvos, permitindo que as delações da
OAS, que comprometem definitivamente o petista e a ex-presidente, consistentes
na descrição de detalhes sobre o tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia, casos
em que o ex-presidente, em um já foi condenado à prisão e em outra figura como réu,
ficam para as calendas.
Por
sua vez, as delações ainda sem provas concretas que possam comprometer o
presidente do país e seus aliados são aceleradas, mas as medidas nada
republicanas estão sendo reveladas, à vista de desabafo de integrantes da
força-tarefa da Lava-Jato, segundo a qual: “Agora
se sabe que a operação montada por Janot só não dominou completamente a Lava-Jato
porque houve uma forte resistência do pessoal de Curitiba”.
O
esquema em comento, que funciona desde meados de 2015, foi robustecido depois
do impeachment da ex-presidente, mas, nas últimas semanas, enfureceu os
procuradores mais próximos do coordenador da força-tarefa do MPF, cujo estopim
foi ameaçado incendiar com as tratativas para a delação do ex-presidente da
Câmara, que estaria sendo convencido a informar sobre uma conta ou um truste
mantido em paraíso fiscal que pudesse ter ligação com o presidente do país,
tendo oferecido ao ex-deputado a possibilidade de ser colocado em liberdade até
o final do ano, com o que os procuradores de Curitiba não concordam, por serem
contrários se oferecer ao ex-deputado os benefícios da delação premiada, porque
as informações já são de domínio da força-tarefa.
De
acordo com os relatos feitos ao grupo da futura procuradora-geral, no início da
Lava-Jato, o esquema do procurador-geral tinha por objetivo dificultar as
delações que apontassem para os líderes do PT, mas, depois de sacramentado o
impeachment da petista, o grupo dele passou a facilitar as delações que
envolvessem adversários do PT, segundo a reportagem.
Um
procurador disse que se objetivava interferir nos votos contra a então
presidente: “Ficou claro que há um
direcionamento das delações. Num
primeiro momento, para procurar evitar o impeachment colocando os líderes de
todos os partidos em um mesmo saco. Agora, o roteiro de Janot é o de levar a
pique o governo”.
Com
a rejeição da denúncia contra o presidente pela Câmara e a ascensão da nova
procuradora-geral, a reportagem disse que o esquema do “xerifão” vem ruindo
como castelo de cartas e há quem diga que ele, “Aos poucos, ele vai virando uma rainha da Inglaterra. Ninguém mais o
obedece”.
Diante
dessa situação, até a propalada segunda denúncia contra o presidente do país estaria
comprometida, porque, segundo um procurador, “Sem as novas delações, falta substância e até apoio interno para uma
nova investida contra o presidente”.
A
reportagem diz que o mais flagrante esquema de favorecimento ao PT, implantado
pelo procurador-geral, foi comprovado com a delação do empresário do grupo JBS,
que mereceu críticas da força-tarefa de Curitiba, que também condenou o acordo estabelecido,
permitindo que os irmãos ganhassem liberdade plena, sem tornozeleira eletrônica
e com direito ao exílio dourado em Nova York.
Um
investigador disse a ISTOÉ que os
empresários da JBS não entregaram o que prometerem e, apesar disso, continuam
usufruindo os benefícios como se os tivessem cumprido e mais: “Não havia motivo para conceder tantos
privilégios a um grupo que cometeu crimes graves”.
O
procurador-geral é acusado de conceder salvo conduto a um empresário da JBS, por
não ter ficado nem um dia preso, diferentemente do que acontece com os demais
delatores. Além desses benefícios exagerados, delegados criticam a falta de
provas nos acordos dos sócios da JBS, notadamente no que se refere às investigações
de contratos com o BNDES.
Há
quem afirme que o objetivo do grupo do procurador-geral, ao acelerar a delação
da JBS, era o de desestabilizar a gestão do presidente do país, às vésperas da
votação das reformas e obter elementos para forçar denúncia oficial contra ele.
A
reportagem esclarece que, diante do escândalo, o grupo da nova procuradora-geral
já definiu que essa delação vai passar por pente fino e, se houver revisão, ela
será bastante rigorosa, principalmente no que diz respeito à exigência do
cumprimento da comprovação das acusações que foram feitas.
Segundo
a revista ISTOÉ, o esquema pró-PT se
intensificou quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura de processo de impeachment
contra ex-presidente. Antes disso, o grupo agia de forma discreta para impedir a
homologação das delações envolvendo a cúpula petista.
Um
procurador revelou que o procurador-geral e seu grupo eram rigorosíssimos na
busca de provas para os fatos delatados, a exemplo das confissões do ex-senador
petista e então líder do governo, que somente foram aceitas após exaustiva
investigação da Polícia Federal, que confirmou suas declarações por intermédio
dos sistemas de segurança de restaurantes e cópias de passagens aéreas.
Os
diretores de empreiteiras como Andrade Gutierrez e UTC só obtiveram os
benefícios da delação premiada após apresentarem cópias de extratos bancários e
de longas perícias feitas na contabilidade das empresas.
Um
procurador disse que havia extremo rigor em tudo e “As exigências eram muitas e boa parte da investigação só foi avante
devido ao posicionamento do juiz Sérgio Moro e o respaldo encontrado por ele
nos desembargadores do Tribunal Regional Federal”.
Pelo
bem do País e do estado democrático de direito, que hoje resvala no estado de
exceção, os dias da atual gestão à frente da PGR, pelo visto recheada de
questionamentos, estão contados.
Caso se confirmem as manobras denunciadas na
reportagem, é preciso que se apure com rigor e profundidade as
responsabilidades por atitudes extremamente prejudiciais aos interesses do país
e principalmente da verdade sobre os fatos denunciados, porque isso tem o ranço
inescrupuloso da impunidade, que é cria dos governos responsáveis pelos
esquemas criminosos de corrupção, impunidade e abuso do poder.
A nova procuradora-geral da República, agora
sabedora das manobras espúrias, tem obrigação de promover as devidas
investigações sobre os fatos denunciados, não somente para desmascarar os
mentores de inadmissíveis movimentos lesivos à verdade, mas principalmente para
o seu restabelecimento, que deveria ter sido revelada e mostrar os reais
motivos pelas quais tais indignidades foram protagonizadas no âmbito de órgão
que, ao contrário, tem o dever constitucional de zelar pelas transparência e
dinâmica das investigações sobre fatos irregulares, para o bem das instituições
brasileiras.
Enquanto isso não acontece, o procurador-geral da
República deve muitíssimas explicações para o país, uma vez que os casos
citados na reportagem são de extrema gravidade e põem em xeque a lisura da
Procuradoria Geral da República sob seu comando, principalmente porque os fatos
mostram conjunto de ações ou omissões que podem ter contribuído para favorecer
pessoas e partidos, com vistas à impunidade, em cristalina evidência de desvio
de finalidade e completo menosprezo aos princípios ínsitos dos deveres
funcionais dos servidores públicos da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de agosto de 2017
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