Já se acostumando com a cogitação para ser
candidato à Presidência da República, um ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal afirmou que está mesmo propenso a disputar o Palácio do Planalto, no
próximo ano, e questionou: “Será que o
Brasil está preparado para ter um presidente negro?”, conforme declarações feitas
a uma jornalista do jornal Folha de S.Paulo.
O ex-magistrado, que se notabilizou nacionalmente
por ter sido relator do julgamento do mensalão, chegou a admitir que a sua filiação
a partido e a articulação da sua candidatura estavam na “esfera de deliberação”.
Ele declarou que já havia conversado sobre a
questão com “líderes de dois ou três
partidos políticos”, entre os quais a Rede da ambientalista, que é outra potencial
candidata ao Planalto, e o PSB, que foi o principal partido da base aliada do
presidente da República.
Em que pese a hesitação, o ex-ministro vem se
reunindo com grupos de intelectuais, artistas, políticos, empresários, entre
outros segmentos sociais.
Aos interlocutores, ele pontuou que não tem “dinheiro nem ninguém atrás de mim com
recursos”, o que dificultaria uma campanha presidencial. O magistrado
também pontua que goza “dessa liberdade
na sua plenitude”, de poder falar e fazer o que quiser, o que torna ele
mesmo “o maior obstáculo à ideia”. No
entanto, ao admitir a possibilidade há quinze dias, deixou claro que se
considera alguém “um cidadão brasileiro,
um cidadão pleno, há três anos livre das amarras de cargos públicos”.
É
simplesmente lamentável a pergunta em referência: “Será que o Brasil está preparado
para ter um presidente negro? Pela evidente descaracterização de fundamento
e também de desrespeito à dignidade do ser humano, ante a inexistência de diferença entre
brancos, amarelos, negros, índio ou qualquer outra etnia ou cor da pele, porque
o homem somente consegue se distinguir por sua verdadeira índole, que pode se
tornar, se for o caso, arredia aos salutares princípios humanitários e
contrários aos fundamentos da fraternidade, da paz e do amor.
O que se precisa questionar não é a cor ou qualquer
outro quesito senão as qualidades de competência, idoneidade, conduta ilibada,
honestidade, dignidade, moralidade, decoro e tudo o mais que seja compatível
com o exercício do principal cargo da República, que não pode ser ocupado por
pessoa que suscite receio sobre o preenchimento dos requisitos exigidos
constitucionalmente para se tornar presidente do país, no caso, em razão da sua
cor, fato este que não passa de pura aberração.
É extremamente lamentável que esse cidadão levante,
moto próprio, dúvida quanto à sua capacidade para o exercício desse relevante cargo,
ao indicar, pasmem, a cor da sua pele, como se ela fosse o elemento essencial
capaz de sopesar na escolha do titular do cargo em apreço.
Esse fato demonstra extrema tibieza por parte dele,
por evidenciar que ele ainda não está preparado para enfrentar as dificuldades
próprias da disputa presidencial, que, ante o Estado Democrático de Direito, é
sempre livre e salutar se indagar, expor e evidenciar temor quanto ao fator
raça.
É preciso que o ministro aposentado do Supremo
Tribunal Federal se conscientize de que não existe país mais racista na face da
terra do que os Estados Unidos da América e lá teve, bem recente, presidente
negro, que conseguiu governar, com relativa competência, o país considerado a
primeira potência mundial, dando exemplo às nações no sentido de que a cor da
pele não teve a menor influência quanto ao seu desempenho no mais relevante
cargo de presidente de grande um país.
À toda evidência, a pergunta se o Brasil está
preparado para ter um presidente negro não faz o menor sentido e o seu efeito é
bastante devastador, em relação à avaliação sobre a personalidade do seu autor,
por dá a nítida ideia de inferioridade racial, ante o receio de ser rejeitado
tão somente em razão de pertencer à raça negra, que jamais deveria se
envergonhar dessa condição, porque esse fator é de somenos importância quando a
pessoa demonstra aptidão e capacidade para o desempenho de quaisquer cargos da
República.
É importante que os brasileiros sejam comandados
por pessoa que tenha na pele, no corpo e na alma os requisitos intrínsecos que representem,
em síntese, a dignidade, a honestidade, o decoro e sobretudo a competência,
independentemente de ser preto, branco, amarelo etc., porque os brasileiros já
se cansaram de ser governados por brancas mentirosos, ladrões, inescrupulosos,
incompetentes e com enorme desprezo aos conceitos de capacidade e honestidade, entre
outros, conforme mostram os fatos investigados pela Operação Lava-Jato e
delatados em colaboração à Justiça, contendo múltiplas denúncias sobre
irregularidades versando sobre a existência do envolvimento das principais
autoridades da República e não se tem notícia que algum negro tenha sido pego
com a boca na botija, na prática lesiva aos cofres públicos.
O certo é que os brasileiros precisam evoluir
bastante, para se atingir o patamar necessário da confiança desejável, com
desprezo aos preconceitos que são formados entre aqueles que se julgam
inferiores, a exemplo do questionamento em referência, que jamais deveria ter
sido formulado, em razão da importância humana do seu autor, pelo tanto que ele
já demonstrou que certamente é capaz de contribuir para o bem comum e o
interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 8 de agosto de 2017
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