terça-feira, 8 de agosto de 2017

Desprezo aos preconceitos

Já se acostumando com a cogitação para ser candidato à Presidência da República, um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal afirmou que está mesmo propenso a disputar o Palácio do Planalto, no próximo ano, e questionou: “Será que o Brasil está preparado para ter um presidente negro?”, conforme declarações feitas a uma jornalista do jornal Folha de S.Paulo.
O ex-magistrado, que se notabilizou nacionalmente por ter sido relator do julgamento do mensalão, chegou a admitir que a sua filiação a partido e a articulação da sua candidatura estavam na “esfera de deliberação”.
Ele declarou que já havia conversado sobre a questão com “líderes de dois ou três partidos políticos”, entre os quais a Rede da ambientalista, que é outra potencial candidata ao Planalto, e o PSB, que foi o principal partido da base aliada do presidente da República.
Em que pese a hesitação, o ex-ministro vem se reunindo com grupos de intelectuais, artistas, políticos, empresários, entre outros segmentos sociais.
Aos interlocutores, ele pontuou que não tem “dinheiro nem ninguém atrás de mim com recursos”, o que dificultaria uma campanha presidencial. O magistrado também pontua que goza “dessa liberdade na sua plenitude”, de poder falar e fazer o que quiser, o que torna ele mesmo “o maior obstáculo à ideia”. No entanto, ao admitir a possibilidade há quinze dias, deixou claro que se considera alguém “um cidadão brasileiro, um cidadão pleno, há três anos livre das amarras de cargos públicos”.
É simplesmente lamentável a pergunta em referência: “Será que o Brasil está preparado para ter um presidente negro? Pela evidente descaracterização de fundamento e também de desrespeito à dignidade do ser humano, ante a inexistência de diferença entre brancos, amarelos, negros, índio ou qualquer outra etnia ou cor da pele, porque o homem somente consegue se distinguir por sua verdadeira índole, que pode se tornar, se for o caso, arredia aos salutares princípios humanitários e contrários aos fundamentos da fraternidade, da paz e do amor.
O que se precisa questionar não é a cor ou qualquer outro quesito senão as qualidades de competência, idoneidade, conduta ilibada, honestidade, dignidade, moralidade, decoro e tudo o mais que seja compatível com o exercício do principal cargo da República, que não pode ser ocupado por pessoa que suscite receio sobre o preenchimento dos requisitos exigidos constitucionalmente para se tornar presidente do país, no caso, em razão da sua cor, fato este que não passa de pura aberração.  
É extremamente lamentável que esse cidadão levante, moto próprio, dúvida quanto à sua capacidade para o exercício desse relevante cargo, ao indicar, pasmem, a cor da sua pele, como se ela fosse o elemento essencial capaz de sopesar na escolha do titular do cargo em apreço.
Esse fato demonstra extrema tibieza por parte dele, por evidenciar que ele ainda não está preparado para enfrentar as dificuldades próprias da disputa presidencial, que, ante o Estado Democrático de Direito, é sempre livre e salutar se indagar, expor e evidenciar temor quanto ao fator raça.
É preciso que o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal se conscientize de que não existe país mais racista na face da terra do que os Estados Unidos da América e lá teve, bem recente, presidente negro, que conseguiu governar, com relativa competência, o país considerado a primeira potência mundial, dando exemplo às nações no sentido de que a cor da pele não teve a menor influência quanto ao seu desempenho no mais relevante cargo de presidente de grande um país.
À toda evidência, a pergunta se o Brasil está preparado para ter um presidente negro não faz o menor sentido e o seu efeito é bastante devastador, em relação à avaliação sobre a personalidade do seu autor, por dá a nítida ideia de inferioridade racial, ante o receio de ser rejeitado tão somente em razão de pertencer à raça negra, que jamais deveria se envergonhar dessa condição, porque esse fator é de somenos importância quando a pessoa demonstra aptidão e capacidade para o desempenho de quaisquer cargos da República.
É importante que os brasileiros sejam comandados por pessoa que tenha na pele, no corpo e na alma os requisitos intrínsecos que representem, em síntese, a dignidade, a honestidade, o decoro e sobretudo a competência, independentemente de ser preto, branco, amarelo etc., porque os brasileiros já se cansaram de ser governados por brancas mentirosos, ladrões, inescrupulosos, incompetentes e com enorme desprezo aos conceitos de capacidade e honestidade, entre outros, conforme mostram os fatos investigados pela Operação Lava-Jato e delatados em colaboração à Justiça, contendo múltiplas denúncias sobre irregularidades versando sobre a existência do envolvimento das principais autoridades da República e não se tem notícia que algum negro tenha sido pego com a boca na botija, na prática lesiva aos cofres públicos.
O certo é que os brasileiros precisam evoluir bastante, para se atingir o patamar necessário da confiança desejável, com desprezo aos preconceitos que são formados entre aqueles que se julgam inferiores, a exemplo do questionamento em referência, que jamais deveria ter sido formulado, em razão da importância humana do seu autor, pelo tanto que ele já demonstrou que certamente é capaz de contribuir para o bem comum e o interesse público. Acorda, Brasil!    
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 8 de agosto de 2017

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