Uma
herdeira da família fundadora do banco Credit Suisse decidiu, em ato de extrema
magnanimidade, lançar movimento de apoio financeiro ao ex-presidente da
República petista, em razão do bloqueio de seus bens, no valor de R$ 16
milhões, pelo juiz da Lava-Jato, para a garantia de multa que lhe foi aplicada
no bojo da condenação de nove anos e seis meses de prisão, no caso do tríplex
do Guarujá (SP).
A
neta do banqueiro suíço se dispôs, inicialmente, a abrir a bolsa, o closet e o
cofre para fazer doação pessoal ao petista, no valor de cerca de R$ 500 mil em
dinheiro, joias e objetos de valor, cuja quantia, diante da repercussão mais
que polêmica, foi dobrada para R$ 1 milhão.
Ela
justifica sua generosidade, ao afirmar que, "Com o bloqueio dos bens de Lula, Moro tenta inviabilizá-lo tanto na
política quanto pessoalmente. Vou fazer uma doação para que o presidente possa
usar conforme as necessidades dele", esquecendo ela que o político
teve o valor de R$ 10 milhões em planos de previdência e contas bancárias bloqueados,
ou seja, quem tem esse valor, em princípio, não precisa de doação de espécie
alguma.
Ela
teria sacado da bolsa Hermès cheque, ao portador, no valor de 28 mil francos
suíços (cerca de R$ 91 mil), oriundo da mesada que recebia do avô morto recentemente,
tendo esclarecido, em tom de ironia, que "Foi o último cheque que recebi dele e vou repassar integralmente ao
Lula. Agora, já podem dizer que ele tinha conta na Suíça, aquela que os
procuradores da Lava-Jato tanto procuraram e não acharam".
A
herdeira bilionária recheou uma mala da marca Rimowa de objetos que o
ex-presidente poderá transformar em dinheiro, tais como, entre outros, um
relógio Rolex (R$ 100 mil) e um anel de diamantes da joalheira Emar Batalha (R$
145 mil), que enfeitou um editorial da revista Vogue, afirmando que
"Lula vai poder penhorar tudo".
Na
referida mala, que ela pretende entregar pessoalmente, há ainda objetos de
desejo de blogueiras e "it girls", como uma bolsa Chanel (R$ 32 mil),
um par de sandálias Christian Louboutin (R$ 3 mil) e um vestido Dolce &
Gabbana (R$ 30 mil), que "São itens
que poderão ser leiloados em um evento em benefício ao ex-presidente".
Também
foi incluída uma bandeja de prata, com o brasão da família Luchsinger, que segundo
a doadora, é forma de protesto pelo confisco dos presentes que o político recebeu
de chefes de Estado quando estava na Presidência da República.
A
doadora justifica a sua ação com críticas ao que qualifica de "excessos" e "seletividade" da cruzada
anticorrupção empreendida pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, por
considerar que "É indevido esse
protagonismo político da Lava-Jato, que fere o sistema de pesos e contrapesos
entre os poderes da República. Perseguir
o Lula é perseguir o povo brasileiro.".
A
aludida doadora, que pretende fazer carreira política no Partido Comunista do
Brasil, disse que "Esse ódio
exacerbado contra os partidos de esquerda, principalmente contra o PT, chegou
ao ponto de cegar parte da sociedade. Virou moda se referir a Lula como ladrão.
Esses que hoje o demonizam se esquecem de que Lula foi bom para os pobres e
também para os ricos e deixou a Presidência com 90% de aprovação.".
Ela
disse que não vê incompatibilidade entre seu estilo de vida sofisticado e a
pregação de sociedade igualitária e sem classes sociais preconizadas pelos
comunistas.
Ao
que se tem notícia, o arroubo da comunista de tentar criar o que já foi
denominado “Bolsa Lula” não sensibilizou ninguém para acompanhá-la no seu gesto
generoso, quando se sabe que o recebedor das doações não está tão carente assim,
diante das gordas contas bancárias de quase 10 milhões de reais, somente do que
se tem conhecimento, ante o bloqueio desse valor.
Ao
que tudo indica, trata-se de caso de puro fanatismo, na tentativa de aparecer
na mídia, em forma de protesto contra os trabalhos com a competência comprovada
da Operação Lava-Jato, que tem o exato objetivo de mostrar a verdade que as
pessoas da esquerda procuraram ocultar, quando agem em defesa de quem já foi
até condenada à prisão pela prática de atos ilícitos.
Causa
perplexidade afirmação como essa de que “Esse
ódio exacerbado contra os partidos de esquerda, principalmente contra o PT,
chegou ao ponto de cegar parte da sociedade...”, considerando que os
integrantes desses partidos fazem questão de odiar quem não comunga com a sua
ideologia, fato esse que contraria o princípio democrático de livre pensamento
e de escolha e defesa da ideologia que melhor se adeque à sua filosofia de vida.
Isso
vale dizer simplesmente que não existe ódio de coisa alguma, salvo por parte de
quem imagina que a esquerda é algo pecaminoso, fato que não se pode discutir em
termos de preferência política, uma vez que os partidos, no Estado Democrático
de Direito, são todos iguais perante a lei, sendo diferentes, como não poderia
deixar de ser, são as suas ideologia e filosofia, por integrarem o seu programa
institucional.
Agora,
sob a ótica estritamente comunista, que prega a congregação de sociedade
igualitária, a doação em comento é simplesmente uma bofetada na cara de quem
acredita nessa vã filosofia tão desacreditada, quando, em princípio, ela
deveria distribuir seus trocadinhos de um milhão de reais para a pobreza, que
realmente carece de recursos, mas a sua preferência se destinou justamente para
o bolso de quem já dispõe de fortuna, dando a verdadeira conotação de seus
reais objetivos de aparecer na mídia.
Outra
situação extremamente estranha diz respeito à frase pronta como esta de que “Perseguir o Lula é perseguir o povo
brasileiro”, como se o político fosse a encarnação do próprio povo, quando
tem personalidade própria e precisa responder por seus atos, por força das
obrigações ínsitas de todos os homens públicos, que têm o dever constitucional
e legal de prestar contas sobre suas atividades na vida pública.
No
caso dos processos onde ele se encontra respondendo por denúncia sobre suspeita
da prática de atos irregulares, isso faz parte dos procedimentos próprios do
Estado Democrático de Direito, onde os fatos, em princípio, suspeitos de
irregularidades precisam ser investigados e os envolvidos são obrigados, se for
o caso, a justificar situações carentes de esclarecimentos, inclusive por meio
da ampla defesa e do contraditório, na forma legal, onde as questões são
normalmente contestadas por meio de provas juridicamente válidas, como acontece
normalmente nas nações sérias e civilizadas, cujo resultado das avaliações
podem até contribuir para aumentar o prestígio dos políticos, evidentemente
quando eles simplesmente se dignam a aceitar a realidade da situação e
conseguir demover todas as acusações, por meio de provas materiais, em harmonia
com os princípios da transparência e da legalidade.
Em nenhum país civilizado, há a possibilidade de
político, por mais relevante que seja, ser considerado perseguido ou vítima
pelo simples fato de ser investigado sob suspeita da prática de atos
irregulares, porque isso, no mundo moderno, além de ser difícil de acontecer,
faz parte do ritual indispensável à elucidação dos fatos, com vistas à
revelação da verdade, em atendimento aos salutares princípios da transparência e
da dignidade ínsitos dos homens públicos, que normalmente exigem que as
investigações sejam devidamente procedidas para o bem da verdade.
Convém que os brasileiros tenham consciência cívica
e patriótica para o fim de se exigir dos homens públicos a compreensão sobre a
necessidade de assumir seus erros e ter a dignidade de prestar contas, na forma
legal, de seus atos na vida pública, independentemente de ter ocupado os
principais cargos da República, conquanto mais elevados que eles tenham sido mais
acresce a responsabilidade pela comprovação da lisura e da decência nas
atividades públicas.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de agosto de 2017
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