Por
meio da sentença condenatória, o juiz da Lava-Lato conseguiu mostrar outra face
do político carismático que tinha imagem bem peculiar, criada por marqueteiros
ao longo da vida pública, bem amoldada à sua conveniência política, exatamente às
feições da pessoa pobre, carente de compreensão e de apoio, com as
características do autêntico populista que encarna de corpo e alma o próprio povo
e julga incapaz de se envolver em deslize, na vida pública.
Não
obstante, para quem teve a trajetória de vida marcada pelo pensamento da perseguição
política e vitimização, a condenação de nove anos e seis meses de prisão, pelos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não poderia ter vindo melhor
a calhar, para que ele pudesse explorar o fato em proveito político, na
tentativa de tirar dividendos a seu favor.
Trata-se
do político de excepcional trajetória da história, que partiu de mero
metalúrgico, ousou, como ele diz, encarar a supremacia gananciosa da burguesia
e ascendeu à maior liderança sindical do país.
Também
foi o sindicalista que se tornou político para lutar contra o regime militar e
se candidatar seguidamente ao cargo presidencial até ser eleito, em 2002, quando
disse, aos prantos, disse que “Fui
acusado de não ter diploma superior. Ganho como meu primeiro diploma, o diploma
de presidente da República do meu país”.
Agora,
depois de ter surfado, quando governou o país, nas ondas da glória e da fama, inclusive
nas cortes internacionais, o político se tornou o mais famoso criminoso brasileiro,
condenado injustamente, como ele diz, a prisão, por suspeita do recebimento de
propinas, por meio da aquisição e das benfeitorias de um tríplex, em troca de
influência política, conforme consta da sentença.
Trata-se
do político que existe na esfera pública motivado pelo espírito da vitimização por
causa se alguma injustiça, por força da permanente acusação da prática de
arbitrariedade, evidentemente nunca tendo aceitado ser o sujeito ativo dos
próprios infortúnios, como mostram os casos em que os fatos são reeditados para
se amoldarem às suas versões.
Imediatamente
ao anúncio da condenação histórica e inusitada, a cantilena da vitimização ganhou
destaque no seu discurso, evidentemente sem esboçar, em qualquer fase dele,
algo em contestação, de forma objetiva, às motivações que embasaram a sua
prisão, nos termos da sentença de mais de duzentas páginas.
Além
de sopesar apenas nas figuras da vitimização e da perseguição política, em
especial porque a militância nunca vai se interessar em conhecer os meandros dos
fatos descritos na histórica sentença do magistrado, o político buscou
enveredar pelo caminho que melhor desviasse desse imbróglio, ao explorar, no seu
discurso, de forma maquiavélica, os temas políticos apropriados ao eterno candidato
à Presidência, por se tratar de matéria que mais se encaixa no seu perfil
político, em clara demonstração de desprezo à respeitável decisão judicial, que
exige o maior cuidado, por questão de princípios intrínsecos dos autênticos
homens públicos, em termos de defesa da sua integridade moral.
Não
tem sido novidade que o político sempre demonstrou especial desapreço pelo
Poder Judiciário, como agora, que ele criticou o teor da sentença condenatória,
que é direito legítimo de qualquer réu, tendo aproveitado para questionar,
pasmem, a legitimidade do Poder Judiciário para julgá-lo, ao afirmar, na sua
peculiar onipotência, que “Só quem tem o
direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro”, como se ele não tivesse
direito à ampla defesa e ao contraditório.
Embora
tente demonstrar fortaleza política, o ex-presidente se encontra visivelmente debilitado
no âmbito jurídico, à vista da sentença condenatória em apreço e de mais cinco
processos em tramitação na Justiça, onde ele responde como réu, fato esse que,
ao contrário, estimulou-o a provocar a militância para exigir a sua candidatura
à Presidência em 2018 e, em momento inédito e inacreditável de humildade, fê-lo
apelar: “Senhores da Casa Grande, permitam
que alguém da senzala cuide deste povo”, em ato muito mais de pré-candidato,
agora condenado, que deveria ter sido de contrição e não de política-eleitoral.
Agora,
fica a expectativa sobre a manutenção ou não da sentença condenatória da
primeira instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, com o que o
ex-presidente será considerado inelegível ou não, caso em que o seu destino político
fica na dependência da Justiça, que tem o dever constitucional de afirmar a verdade
sobre os fatos e também de dizer se existem essas de vitimização e perseguição
política ou se trata mesmo de criminoso político que precisa pagar, na forma da
lei, por seus pecados na vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 8 de agosto de 2017
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