terça-feira, 8 de agosto de 2017

Enfim, a verdade sobre os fatos?

Por meio da sentença condenatória, o juiz da Lava-Lato conseguiu mostrar outra face do político carismático que tinha imagem bem peculiar, criada por marqueteiros ao longo da vida pública, bem amoldada à sua conveniência política, exatamente às feições da pessoa pobre, carente de compreensão e de apoio, com as características do autêntico populista que encarna de corpo e alma o próprio povo e julga incapaz de se envolver em deslize, na vida pública.
Não obstante, para quem teve a trajetória de vida marcada pelo pensamento da perseguição política e vitimização, a condenação de nove anos e seis meses de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não poderia ter vindo melhor a calhar, para que ele pudesse explorar o fato em proveito político, na tentativa de tirar dividendos a seu favor.
Trata-se do político de excepcional trajetória da história, que partiu de mero metalúrgico, ousou, como ele diz, encarar a supremacia gananciosa da burguesia e ascendeu à maior liderança sindical do país.
Também foi o sindicalista que se tornou político para lutar contra o regime militar e se candidatar seguidamente ao cargo presidencial até ser eleito, em 2002, quando disse, aos prantos, disse que “Fui acusado de não ter diploma superior. Ganho como meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país”.
Agora, depois de ter surfado, quando governou o país, nas ondas da glória e da fama, inclusive nas cortes internacionais, o político se tornou o mais famoso criminoso brasileiro, condenado injustamente, como ele diz, a prisão, por suspeita do recebimento de propinas, por meio da aquisição e das benfeitorias de um tríplex, em troca de influência política, conforme consta da sentença.
Trata-se do político que existe na esfera pública motivado pelo espírito da vitimização por causa se alguma injustiça, por força da permanente acusação da prática de arbitrariedade, evidentemente nunca tendo aceitado ser o sujeito ativo dos próprios infortúnios, como mostram os casos em que os fatos são reeditados para se amoldarem às suas versões.
Imediatamente ao anúncio da condenação histórica e inusitada, a cantilena da vitimização ganhou destaque no seu discurso, evidentemente sem esboçar, em qualquer fase dele, algo em contestação, de forma objetiva, às motivações que embasaram a sua prisão, nos termos da sentença de mais de duzentas páginas.
Além de sopesar apenas nas figuras da vitimização e da perseguição política, em especial porque a militância nunca vai se interessar em conhecer os meandros dos fatos descritos na histórica sentença do magistrado, o político buscou enveredar pelo caminho que melhor desviasse desse imbróglio, ao explorar, no seu discurso, de forma maquiavélica, os temas políticos apropriados ao eterno candidato à Presidência, por se tratar de matéria que mais se encaixa no seu perfil político, em clara demonstração de desprezo à respeitável decisão judicial, que exige o maior cuidado, por questão de princípios intrínsecos dos autênticos homens públicos, em termos de defesa da sua integridade moral.
Não tem sido novidade que o político sempre demonstrou especial desapreço pelo Poder Judiciário, como agora, que ele criticou o teor da sentença condenatória, que é direito legítimo de qualquer réu, tendo aproveitado para questionar, pasmem, a legitimidade do Poder Judiciário para julgá-lo, ao afirmar, na sua peculiar onipotência, que “Só quem tem o direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro”, como se ele não tivesse direito à ampla defesa e ao contraditório.
Embora tente demonstrar fortaleza política, o ex-presidente se encontra visivelmente debilitado no âmbito jurídico, à vista da sentença condenatória em apreço e de mais cinco processos em tramitação na Justiça, onde ele responde como réu, fato esse que, ao contrário, estimulou-o a provocar a militância para exigir a sua candidatura à Presidência em 2018 e, em momento inédito e inacreditável de humildade, fê-lo apelar: “Senhores da Casa Grande, permitam que alguém da senzala cuide deste povo”, em ato muito mais de pré-candidato, agora condenado, que deveria ter sido de contrição e não de política-eleitoral.
Agora, fica a expectativa sobre a manutenção ou não da sentença condenatória da primeira instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, com o que o ex-presidente será considerado inelegível ou não, caso em que o seu destino político fica na dependência da Justiça, que tem o dever constitucional de afirmar a verdade sobre os fatos e também de dizer se existem essas de vitimização e perseguição política ou se trata mesmo de criminoso político que precisa pagar, na forma da lei, por seus pecados na vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 8 de agosto de 2017

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