terça-feira, 29 de agosto de 2017

Sob a avaliação da sociedade

O ex-presidente da República petista aproveita a caravana que faz no Nordeste para deixar claro quais são seus inimigos eleitos pós-impeachment da sua sucessora no cargo presidencial, quando, nos seus discursos, procura sempre elevar o tom das críticas e dos ataques contra seus segmentos prediletos, quais sejam, a imprensa, as elites e o governo do peemedebista.
Causa estranheza que o seu principal alvo, o juiz da Operação Lava-Jato, só mereceu uma única citação, mas já se sabe que se trata de jogada estratégica, motivada pelo fato de que ele "não gostaria de falar dele (juiz)" porque o político vai prestar depoimento naquela operação, no próximo dia 13, noutro processo que figura como réu, embora, nos últimos dias, ele passou a criticar duramente os integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, alegando que ela nada apontou de errado contra ele.
Os jornalistas são mencionados com frequência pelo político, nos seus discursos, com destaque, como não poderia ser diferente, para os profissionais da Rede Globo, mas ele tem atacado de forma mais genérica para desqualificar profissionais de imprensa em geral, sem citar nomes.
Prova disso é que ele disse que "Eu respeito muito os jornalistas, mas não respeito nada quando eles são desonestos. É por isso que eles sabem que, se por acaso um dia eu voltar a ser presidente da República, certamente têm algumas coisas que precisam acontecer".
Nessa viagem, há visível distanciamento dele com os profissionais da imprensa, ante a falta de entrevistas coletivas dadas por ele, salvo com relação a casos específicos, como a entrevista concedida a uma televisão pertencente ao governo da Bahia (emissora estatal) e outros casos esporádicos.
Alguns profissionais de imprensa já foram hostilizados por militantes, que insistentemente usam o termo "mídia golpista", possivelmente instruídos pelas lideranças para se manter bem acirrado o clima de animosidade com os jornalistas.
Em discurso para jovens, ele atacou as TVs, afirmando que "Não é possível que este povo se informe pela rede Globo, por televisões que só passam filmes brasileiros em horário nobre. Neste país, até debate político acontece quase à meia-noite, quando o povo está dormindo. Parece que eles são só para formadores de opinião".
Por seu turno, o político joga flechas venenosas em direção às elites, quando disse que os grandes empresários do país ganharam muito dinheiro em seu governo, mas seriam mal-agradecidos, tendo feito grave acusação contra eles, nestes termos: "Empresário gosta de duas coisas: pegar dinheiro emprestado no Banco do Brasil e não pagar depoisO rico, além de pegar financiamento, sai falado mal da gente, é ingrato. Quando dá R$ 20 a uma pessoa humilde, ela agradece e vai levar comida para casa".
De forma sistemática, nos seus discursos, o político frequentemente faz menção ao pronome "eles", evidentemente para se referir aos inimigos preferidos dele, a exemplo das seguintes menções, que são ditas com frequência: "Eles sabem que posso consertar o país", "eles me perseguem", "eles não gostam de quem gosta de pobre". 
Trata-se de velha e surrada tática, sempre repisada para marcar seu sentimento político, na tentativa de mostrar ódio à elite e conquistar o apoio das classes sociais mais baixas, culpando os "segmentos inimigos", tendo elencado alguns motivos pelos quais a elite não gosta dele, tais como: "Eles não se importam com o fato de termos criado 22 milhões de empregos com carteira assinada. A elite não nos perdoa porque todas as categorias tiveram por 12 anos aumento real. Não nos perdoa porque aumentamos o salário mínimo em 74%. Não nos perdoa porque transformamos a empregada doméstica de verdade, com direito. Não me perdoam porque os pobres passaram a ocupar aeroporto, frequentar shopping. Ele deixou de comer acém para comer filé, contrafilé; porque deixou de comer pescoço e pé para comer coxa, sobrecoxa e peito de frango. Os pobres começaram a comprar computador, laptop, a ter aquilo que todo ser humano tem direito de ter".
Sobre o governo do peemedebista, o político “reclama dos cortes no orçamento e das reformas propostas e diz que ele não representa o povo, ele representa uma parte da imprensa - que trabalhou contra a Dilma - e representa os deputados picaretas que votaram no impeachment".
O político não se cansa de repetir que o governo está arruinando o país e chegou a dizer que o Brasil está "sem governo. Ninguém governa comprando senador, deputado, cortando orçamento dos programas sociais. Eles estão destruindo tudo de bom que deixamos. Não é justo que o trabalhador pague a culpa da desgraça desse país".
Ele disse que "Agora a fome está voltando porque o Brasil está sem governo", citando que, mesmo com a maior seca dos últimos 100 anos, não se vê saques ou pessoas passando sede ou fome no Nordeste.
O político também lembrou as dezenas de faculdades que criou em seu governo e diz que "o PT fez mais que todos os governos anteriores juntos".
É muito estranho que o político critique agora, de forma agressiva e pejorativa, as "elites", incluindo aí os empresários que povoavam o seu mundo palaciano quando estava no poder e faziam parte do ciclo de amizades, obviamente por patrocinarem as milionárias campanhas eleitorais, tendo como expoentes, em especial, os executivos já manjados das empreiteiras Odebrecht, OAS, JBS, e todas as que estão envolvidas com a Operação Lava-Jato, assim como ele próprio.
Só que agora, além de muitos empresários estarem sendo investigados por atos de corrupção, acabaram as mamatas dos financiamentos eleitorais, fato este que facilita o político descer o malho neles, evidentemente diante da impossibilidade de haver as famosas relações espúrias do caixa 2.
Com relação à imprensa, a forma odiosa e ameaçadora como o político se refere a ela demonstra a real dimensão do quanto ele não gosta que os fatos sejam informados exatamente na forma verdadeira como a notícia precisa ser transmitida para a sociedade, quanto mais no que diz respeito aos fatos relacionados com a Operação Lava-Jato, onde ele já foi condenado à prisão e responde a processos como réu, por vários crimes.
Ou seja, a sua repulsa ao trabalho da imprensa não é à toa, visto que, informando a verdade sobre os fatos, principalmente com relação a ele e o seu partido, seus projetos políticos são afetados e prejudicados, como mostraram os resultados da última eleição municipal, com completo naufrágio de seu partido nas urnas.
Agora, não parece justo que ele ameace em fazer regulação da mídia, que tem a cara e o jeito da censura própria dos tiranos, que não gostam que a imprensa faça o seu trabalho de informar a verdade, porque isso não condiz com a transparência e as conquistas da humanidade.
Falta humildade para o político que se esforça para tentar transmitir seu pensamento que se contradiz com a realidade da sua personalidade ideológica, quando tenta mostrar, até de forma desesperada, situação que não condiz com o que aconteceu no seu governo, quando ele mesmo confirma que os empresários aproveitavam das mamatas dos empréstimos vantajosos e depois nem pagavam e ainda se passavam por verdadeiros ingratos, ou seja, ele reconhece a promiscuidade do seu governo com relação àqueles que agora são seus inimigos, para mostrar para os poucos ouvintes que ele agora é autêntico povo, que encarna a sina do povo sofrido do Nordeste, que ele teria conseguido elevar, no seu governo, ao patamar de gente civilizada, porque “... os pobres passaram a ocupar aeroporto, frequentar shopping. Ele deixou de comer acém para comer filé, contrafilé; porque deixou de comer pescoço e pé para comer coxa, sobrecoxa e peito de frango. Os pobres começaram a comprar computador...”.
Não passa de insensata demagogia se afirmar que pobre mudou de vida, para melhor, num passe de mágica, quando se viu que a classe mais sofrida, em todos os governos, é a do pobre, que tem sido cada vez mais castigada.
No fundo, o político faz o papel que ele acha que melhor se adeque à sua filosofia política, embora caiba à sociedade refletir e avaliar se essa forma de pensamento condiz com os princípios da ética, honestidade, dignidade, entre outros que precisam corresponder aos anseios de mudanças nas práticas administrativas de eficiência, eficácia, competência, responsabilidade e principalmente compromisso com a satisfação do interesse público, com embargo das mentiras, dos conchavos, das alianças espúrias, das coligações interesseiras, do fisiologismo, e de tudo que seja contrário às práticas saudáveis na administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de agosto de 2017

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