quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A esperança precisa prevalecer

Com duras críticas ao juiz da Operação Lava-Jato, advogados e especialistas em direito lançaram o livro "Comentários a uma Sentença Anunciada: o Processo Lula".
O livro reúne 103 artigos que cuidam de apontar problemas e equívocos na sentença que condenou o ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá (SP).
Um dos autores da obra disse que "Vivemos um momento terrível, doloroso. Mas não podemos ficar com sentimento derrotista, porque isso não leva a nada.".
O petista ex-prefeito de São Paulo afirmou que "Estamos aqui para defender não um homem, mas uma causa, que é a da justiça. É preciso lutar para reverter a sentença e garantir Lula na urna em 2018".
A Folha disse que foi apurado por ela que a defesa do político tem evitado se associar ao livro, por considerar que há irregularidade de rigor técnico entre os textos, principalmente porque os 122 autores têm diferentes níveis de experiência.
Não obstante, os defensores do político não se opuseram à publicação, mas também não fizeram manifestações públicas de apoio à obra nem contra ela, neste último caso talvez por não atrapalhar o lucro pretendido pelos autores.
Na opinião de um deputado petista, os advogados do ex-presidente foram descritos como "combativos e aguerridos. Foram humilhados nesse processo. Queremos demonstrar nossa solidariedade".
Um dos autores do livro disse que "Nós, juristas, estamos preocupados com a ordem jurídica no país, temendo um Estado de exceção. A preocupação é que se faça justiça fora do direito."
Outro colaborador da obra tem o mesmo nome do juiz da Lava-Jato, que foi cognominado, em discursos de colegas como "o Moro do bem" e que o "Moro do mal" foi chamado, no evento, o magistrado responsável pela Lava-Jato em Curitiba, que se tornou alvo das críticas.
Um dos autores do livro afirmou que "Ele (o juiz da Lava-Jato) passou a ser um juiz a favor do golpe da presidente Dilma. Não foi mera casualidade", em referência à polêmica divulgação do áudio de um telefonema da ex-presidente ao ex-presidente, considera como interceptação ilícita.
Outro autor do livro disse que "O enfrentamento à corrupção tem que ocorrer dentro das garantias constitucionais", para quem o Judiciário é conivente com "os abusos e o excesso de jogo midiático" da operação.
São 122 pomposos advogados que demonstram indignação diante da atuação competente e corajoso de juiz de primeira instância, que ousou simplesmente, com base no resultado das investigações, evidentemente materializando os fatos denunciados, conseguir interromper o ciclo de impunidade historicamente garantida pela Justiça brasileira, com relação àqueles que têm poder e influência.
A ação efetiva e implacável do magistrado tem o condão de incomodar e contrariar interesses de quem não consegue obter sucesso nos recursos contra as decisões do magistrado de Curitiba, que tem sido vitorioso na quase plenitude de seu trabalho contra as magistrais corrupção e impunidade defendidas pelos causídicos autores desse livro, que certamente deve virar best seller,  justamente por defender criminoso condenado, na primeira instância, por nove anos e seis meses de prisão, pelos crimes de corrução passiva e lavagem de dinheiro, cujo recurso pende do veredicto da Corte de apelação.
Por sua vez, parece sintomático que a qualidade do livro chegue a ser censurada até mesmo pelos advogados do criminoso, que não apoiaram a publicação, dando a entender que existem fatos que mais incriminam do que defendem o ex-presidente, dando a entender que seus autores embarcaram em jornada sem se inteirar devidamente do seu exato roteiro e que as conclusões dos textos podem não condizer exatamente com os fatos objeto da sentença condenatória, o que levaria a prejudicar o político, caso sua defesa respaldasse o conteúdo da obra.
Por certo, o livro deverá ser estrondoso sucesso para aqueles que insistem em enxergar os fatos sob o prisma de que o imaculado jamais deveria ser investigado, quanto mais julgado por seus atos na vida pública, sem ao menos se cogitar no sentido de que o político tem direito, amparado constitucional e legalmente,  à ampla defesa e ao contraditório, podendo demonstrar, de forma cabal e definitiva, a sua inculpabilidade nos fatos denunciados à Justiça, desde que consiga provar, por meios juridicamente válidos, a sua inocência. 
Parece soar bastante pretenciosa e estranha a afirmação de que "Estamos aqui para defender não um homem, mas uma causa, que é a da justiça", justamente porque, no caso, a causa da justiça é defender senão o combate à corrupção e à impunidade e que o homem envolvido precisa comprovar a sua inocência, não com palavras, mas com contraprova sobre a materialização da denúncia, uma vez que o juiz seria incompetente e imatura se julgasse um ex-presidente se não houvesse presente nos autos os elementos essenciais a respaldar a sua sentença, sob pena de incorrer no crime de prevaricação, com implicação no seu afastamento do cargo ou até mesmo na perda dele.
É até possível que profissionais do direito acreditem mesmo na inocência de quem foi condenado, sob os potentes holofotes da opinião pública, da pressão das autoridades e dos poderosos e da imprensa, por simples perseguição, injustiça ou vitimização, com o exclusivo objetivo de prejudicar a carreira política de político de expressão mundial, mas não se pode menosprezar o veredicto seguinte da Corte de apelação, que poderá dizer se o político é culpado ou não.
Pelo visto, é grande a expectativa pela importante decisão do Tribunal de apelação, que deverá examinar e julgar o recurso contra a sentença do juiz da primeira instância, quando então se saberá se houve ou não os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso, a demonstrar, finalmente, a competência da Operação Lava-Jato, que tem sido até agora a esperança de que prevaleça a verdade sobre o mar de lama que enxovalhou a dignidade dos brasileiros, além de ter causado substanciosos prejuízos ao patrimônio do Brasil. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 24 de agosto de 2017

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