quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Revisão da fraqueza moral?

O presidente da República teria revelado a aliados políticos que tem esperança de que as delações dos executivos das empresas da JBS, tendo-o como pivô das suspeitas de irregularidades, sejam revistas após o atual procurador-geral da República deixar o cargo.
Uma jornalista do G1 revelou que a prioridade da revisão recai com relação à delação do empresário da JBS que entregou aos procuradores a gravação da conversa com o peemedebista, onde consta que ambos discutiam estratégias para convencer o ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, que se encontra preso, a deixar de fazer delação premiada.
Como é sabido, a revelação do conteúdo dessa conversa, em maio último, causou o maior reboliço na República e desencadeou uma das piores crises políticas do atual governo.
O texto a que se refere a intenção presidencial sinaliza para que seja encontrado ambiente "menos hostil" a ele no âmbito da Procuradoria Geral da República, após a saída do atual titular, à vista de o presidente já ter pedido ao seu advogado que providenciasse elementos com capacidade para contestar a delação da JBS, cuja entrada do processo naquele órgão será feita após a substituição a ser promovida no meado do próximo mês.
Embora não tenha qualquer conexão entre fatos, por se tratar um caso ocorrido em conversa havida em jantar numa residência particular, enquanto a questionada conversa ocorreu no Palácio do Jaburu, residência oficial do presidente, este cogita usar a gravação da mulher de um empresário da JBS, para solicitar a revisão da delação, somente porque, naquele caso, ela desmente o conteúdo do áudio onde teria sido tratado o repasse de propina para um político potiguar.
Ao insinuar pela revisão das delações nas quais foi citado, o presidente do país não somente se afasta do pedestal do que seria um estadista, que se obriga a respeitar o processo legal e, nas circunstâncias, ele tem sido o pivô de grave e inadmissível escândalo, diante da degeneração da relevância da titularidade do principal carga do República, como tenta desqualificar e despersonificar a nova procuradora-geral da República, como se ela tivesse o poder de mudar, num passe de mágica, o curso dos fatos deletérios e desabonadores ricamente descritos nas fitas de vídeo de que tratam as delações dos executivos do grupo JBS, reiteradamente confirmada a sua autenticidade não somente pelos próprios autores como por peritos da Polícia Federal.
O presidente brasileiro se conduziria perante a nação, com a devida dignidade, se, ao contrário, assumisse seus gravíssimos deslizes nesse deplorável imbróglio envolvendo os donos da JBS, diante da notória incompatibilidade dos fatos denunciados com o império da ética e da moral que precisa ser observado por quem exerce cargo público, ainda mais em se tratando do príncipe da República.
Os brasileiros anseiam por que o presidente do país se conscientize de que qualquer tentativa de maquiar as desastrosas delações em tela somente contribuirá para aleijar ainda o caso que foi capaz de mostrar a monstruosidade da sua fraqueza moral, como homem público ocupante do principal cargo da República, que jamais deveria ter aceitado encontro cujo resultado não poderia ter sido tão deletério para os interesses nacionais, diante da pobreza e da inutilidade dos assuntos tratados e discutidos  na ocasião, que somente contribuíram para pôr na lama os saudáveis princípios republicano e democrático. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de agosto de 2017

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