sábado, 12 de agosto de 2017

O povo que exploda!

Mesmo enfrentando sérias dificuldades financeiras, com os cofres na lona, e sem pagar os servidores estaduais há quase três meses, o governo do Estado do Rio de Janeiro lançou edital para contratar serviços de jatinho (taxi aéreo), no valor estimada de R$ 2,5 milhões, com a finalidade de transportar o governador, nas viagens pelo país.
O edital prevê contrato com a vigência de um ano e especifica que o avião deve ter capacidade para, pelo menos, seis pessoas e autonomia de voo de três horas e meia.
No edital, consta como exigência que os passageiros precisam ter o necessário conforto, com a especificação de banheiro, poltronas giratórias “para possíveis reuniões” e altura mínima da cabine de passageiros de 1,65 metro, “a fim de proporcionar requisitos mínimos de conforto”.
Segundo levantamento promovido pelo jornal O Globo, o valor orçado possibilita o pagamento de cerca de 1.094 passagens de ida e volta por ano a Brasília, com o serviço pretendido no edital - o equivalente a 91 viagens por mês, ao longo de um ano.
Diante do questionamento da despesa em tela, o governo do estado declarou que “é imprescindível garantir que os integrantes do Poder Executivo tenham flexibilidade de horários de voos e disponibilidade de aeronaves para deslocamentos de trabalho e emergências”.
O governo informou ainda, na tentativa de justificar a economia no negócio, que se não houver necessidade de usar todos os voos previstos no contrato, o estado vai pagar menos pelo serviço, e que a contratação é necessária porque terminou o contrato anterior, no valor R$ 3,4 milhões.
Trata de medida que demonstra completa irresponsabilidade do governador, caracterizando crime contra a eficiência da administração pública, diante da insensibilidade do agente público que sabe que servidores do estado estão trabalhando sem receber vencimentos, vivendo praticamente da caridade alheia e alguns passando privações de toda ordem, enquanto as autoridades do estado esbanjam em puro conforto, gastando em verdadeira luxúria, às custas do dinheiro público.
Muitas pessoas até nem censuram tamanha excrescência, sob o argumento de que a criatura sinistra é obra e graça do povo, que não teve consciência suficiente para perceber que a sua indicação nas urnas o trairia pela insensibilidade sobre as dificuldades financeiras, mas, na verdade, a culpa é do povo, que elege, e não dele, tanto que o governador nem se condoeu com o clamor e as críticas, entendendo que o seu conforto não tem nada a ver com a falta de recursos do Estado.
Já outras dizem que o povo precisa entender que a culpa é de quem o colocou no poder e ele não tem nada com isso, ficando apenas a lição para que o povo aprenda a escolher seus representantes, para que estes tenham dignidade e humildade para compreender que, em se tratando de crise econômico-financeira, todos devem arcar com o sacrifício da superação.
O Estado do Rio de Janeiro e sua população maravilhosos não merecem tamanha tragédia, com a sequência de governos insanos, insensatos e irresponsáveis, que secaram suas fontes financeiras e conseguiram arrebentar a dignidade de seu povo, mas essa história de jatinho, nas circunstâncias, é clara demonstração de pura monstruosidade e falta de caráter do governador, que faz administração desastrada, fracassada e desprovida de sentimentos públicos.
Em razão de medida insana como a de se pretender contratar serviços aéreos especiais e diferenciados, quando o Rio de Janeiro tem linhas aéreas comerciais a todo instante, para toda parte do país, e ainda passa por trágica crise financeira, em total estado de falência econômica, fica a clara evidência de que já passou da hora de o povo fazer autêntica reforma política, de modo que sejam aprovadas regras sérias e civilizadas, começando por eliminar, em  definitivo, as mordomias de quem ocupa cargo público eletivo, não importando a relevância dele, mesmo que seja o de presidente da República.
Todos os servidores públicos eletivos são simplesmente stricto sensu servidores públicos pagos pelos cofres públicos e precisam trabalhar 40 horas semanais e receber estritamente a remuneração do cargo, sem mais nada, muito menos mordomias e vantagens injustificáveis.
Quem precisar viajar a serviço, o Estado deve providenciar as suas passagem e hospedagem, com acréscimo apenas do pagamento das custas de diárias pertinentes.
Os ocupantes de cargos públicos eletivos precisam morar na própria casa e se dirigir ao trabalho por seu meio de transporte, sem segurança nem qualquer forma de mordomia ou regalia pagas pelo Estado, acabando de vez com as excrescências palacianas, que não se justificam em momento algum, muito menos nas situações de crises econômico-financeiras.
Tem que ficar claro que servidor público é para servir ao público e não para se servir do público, como é o que acontece na atualidade, em que a inversão da ordem virou a casa da mão Joana, onde todos os homens públicos se acham no direito de ser o próprio dono do patrimônio do Brasil, por terem nas mãos a chave do Tesouro para promover orgias com o dinheiro dos prejudicados contribuintes, que são obrigados a arcar com escorchante carga tributária, além da sua capacidade contributiva e ainda receberem, como triste recompensa, péssima prestação de serviços públicos, quando ela ainda há, deixando a população à míngua de saúde, educação, segurança pública e todos os serviços essenciais que o Estado tem a incumbência de prestar, com boa qualidade.
Diante da penúria de recursos do Estado do Rio de Janeiro, compete aos órgãos de controle e fiscalização defenderem os interesses e os direitos básicos dos cidadãos, como lídimos defensores dos direitos humanos e da integridade do patrimônio público, evitando-se farras e desperdícios do dinheiro do contribuinte, como nesse vergonhoso caso de contratação de aeronave, quando o Estado se encontra quebrado.
Enfim, convém que os brasileiros se conscientizem sobre a urgente necessidade da aprovação de medidas duras, porém compatíveis com a realidade econômica do país que se impõe, no sentido da moralização da administração pública, consistente em que todo governante ou agente público que contrariarem os saudáveis princípios da economicidade, moralidade, dignidade e demais conceitos de serventia do bem comum e do interesse público serão incontinenti afastados de seus cargos e ainda ficam proibidos de exercer cargos públicos em definitivo, como forma clara de que os recursos públicos são sagrados e somente devem ser aplicados exclusivamente na satisfação do interesse da população, que infelizmente é obrigada a manter a máquina pública sobrecarregada de pessoas incompetentes, que ignoram as dificuldades financeiras do Estado e têm a insensatez e a indignidade de provir o conforto do seu trabalho, dando a impressão de que o povo que se exploda. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 12 de agosto de 2017

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