A revista Época publica vasta documentação revelando
o funcionamento da contabilidade da propina do grupo JBS para políticos e
partidos brasileiros, consistentes de planilhas com o detalhamento dos
pagamentos, cujo material se destina à Procuradoria Geral da República, por força
do seu acordo de delação premiada.
A documentação contém informações abrangendo
doações desde a eleição municipal de 2006 até a campanha de 2014, com a revelação
de que, nos últimos 11 anos, houve o repasse do montante de R$ 1,1 bilhão, conforme
recibos, planilhas, demonstrativos e outros comprovantes.
Consta dos documentos que, dessa extraordinário
quantia de pagamentos, o valor de R$ 301 milhões foi entregue em dinheiro em
espécie, outros R$ 395 milhões diretamente a empresas indicadas por políticos
e, menos da metade, o valor de R$ 427,4 milhões foi repassado como doações
oficiais, nos termos da legislação aplicável à espécie, conforme comprovantes
bancários, notas fiscais e contratos colocados à disposição do Ministério
Público.
Em atendimento aos pedidos de recursos feitos pelo
presidente da República à JBS, a reportagem informa que houve o repasse do
valor de R$ 21,7 milhões para aliados dele, enquanto o ex-presidente da Câmara
dos Deputados teria sido beneficiado com o montante de R$ 50 milhões e o
senador tucano mineiro teve o merecimento do valor de R$ 18 milhões, entre
outros beneficiários, com menores valores.
Não obstante, ao PT, segundo a documentação, a JBS foi
bem mais condescendente e generosa, ao transferir para o partido as quantias de
US$ 151 milhões, em conta do exterior, e R$ 111,7 milhões, em repasses no país.
Os valores, em expressiva parcela de propina, já não
eram novidade, porque um executivo delator da JBS havia revelado o financiamento
de campanha a, pelo menos, 1.829 candidatos eleitos.
É evidente que, como de praxe, os políticos, cujos
nomes foram citados na reportagem, negaram seus envolvimentos nos esquemas
fraudulentos e afirmaram somente terem recebido doações legais, embora os
documentos não deixem dúvida sobre as ilicitudes devidamente descritas, em cada
caso.
A reportagem esclarece que, ao invés de utilizar
esquema sofisticado para cuidar do sistema de propina da empresa, nos moldes da
Odebrecht, a JBS tinha apenas dois funcionários, sendo que um cuidava das
planilhas com os gastos e o outro se encarregava das entregas dos valores.
O certo é que os pagamentos ou repasses ilícitos feitos
aos políticos influentes, como forma de “investimento” na política,
proporcionaram para a JBS extraordinário crescimento econômico, no período de
2006 a 2014, o equivalente, pasmem, a 2.800% em receita líquida.
Como corolário e isso faz parte do jogo, as
quantidades distribuídas em forma de propina também tiveram formidável aumento
da ordem de 4.900%, sendo que a maioria dos pagamentos era feita com dinheiro
em espécie.
Exemplo clássico dessa astronômica evolução de propina
se percebe facilmente com o total do repasse feito pela JBS para a campanha à
reeleição do ex-presidente da República petista, na desprezível mixaria de R$
12,5 milhões em propina, em comparação aos repasses feitos em 2014, ano da
reeleição da sucessora dele, quando saíram dos cofres daquele grupo, pasmem, a
fortuna de R$ 617 milhões para a campanha dela.
O que mais intriga a consciência dos homens
honrados é a percepção de que os políticos desavergonhadamente são pegos em
situação nada republicana, com a comprovação de suas falcatruas devidamente
organizada, conforme vasta documentação entregue ao Ministério Público, pela
JBS, mas ninguém, absolutamente ninguém, tem humildade, dignidade e honestidade
dos homens decentes para assumi-las, mesmo tendo se beneficiado das propinas
nas suas campanhas eleitorais, de forma irregular, ou as desviando para atendimento
de outros interesses nada republicanos.
No caso da JBS, à vista da absurda quantidade de
políticos envolvidos, muitos representados pela nata da classe política dominante,
que se beneficiaram de dinheiro de propinas repassadas para o atendimento de
seus questionáveis projetos políticos, fica muito clara a desmoralização
imperante no seio deles, uma vez que a empresa não era só boazinha por liberar
dinheiro a torto e direito, porque a sua estratégia se voltava mesmo para a conquista
e o usufruto do tráfico de influência próprio do poder, para a facilitação de contratações
com o governo e de empréstimos oficiais milionários, a juros subsidiados e em condições
especiais de pagamentos nunca oferecidos pelos bancos privados.
Os documentos entregues ao Ministério Público são
as provas da verdadeira degeneração do caráter e da dignidade dos homens
públicos de se prostituíram em troca de propina, mas o pior é que, diante de
fatos irrefutáveis, todos juram inocência, dando a entender que os ingênuos dos
brasileiros vão acreditar em fajutas e frágeis negativas, diante da
desavergonhada praxe existente de longa data na política tupiniquim.
Neste momento em que as investigações produzidas
pela Lava-Jato sempre confirmam os fatos suspeitos de irregulares, conviria que
os homens públicos tivessem humildade, sensibilidade e dignidade para se dignar
a reconhecer suas falhas e assumi-las, mesmo que isso os leve aos Tribunais, porque
a negação, nas circunstâncias em que a verdade termina vindo à tona, não fica
bem para eles, que podem incorrer na prática do segundo crime, igualmente grave,
da negação da verdade cristalina, ante a comprovação material dos fatos, que
será aquilatada pelo Ministério Público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 5 de agosto de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário