quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O choro de um professor

Importante constitucionalista brasileiro e professor de Direito, formado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), escreveu em sua página no Facebook, em tom de bastante revolta, mensagem dura criticando a homenagem que esse educandário prestará ao ex-presidente da República petista, por meio da concessão do título de “Doutor Honoris Causa”.
Talvez a indignação do professor tenha se dado com mais razão pelo fato de o político ter sido condenado, recentemente, pelo juiz da Lava-Jato, a nove anos e seis meses de prisão, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no clamoroso caso do tríplex.
As palavras do professor não deixam dúvidas quanto ao seu acerbado inconformismo com relação à questionada decisão, conforme os excertos da sua lavra a seguir: “Hoje não tem ‘Bom Dia’ nem ‘Bonjour’. Após uma noite insone, intercalada de pesadelos infernais, acordei com a sensação de que a realidade havia se transformado, ela mesma, em pesadelo. Dediquei 30 anos de minha vida à Universidade Federal da Paraíba. A Instituição patrocinou meus estudos de Pós-graduação (mestrado e doutorado) na UFSC e em Toulouse/França. Quando terminei, dediquei-me integralmente a ela, tal qual um amigo fiel e respeitoso. Ontem, soube, pelas redes sociais, que a UFPB vai conceder o título de ‘doutor honoris causa’ a um perigoso meliante, que iniciou o processo de destruição gerencial do país e que, ao lado de outros canalhas da mesma estirpe, apoiou o movimento ‘bolivariano’, que levou parte da América Latina à ruína, ao descalabro e ao autoritarismo. A Venezuela representa, hoje, o final dessa crônica de uma tragédia anunciada”.
O professor continuou com o seu desconsertado desabafo contra o político, tendo afirmado que “Esse cara, cujo nome é sinônimo de farsa, fanatismo, corrupção e empáfia, está sendo processado e julgado pela prática de crimes de grande magnitude, que envolvem não apenas ele, mas uma quadrilha que se locupletou avidamente nos cofres públicos, levando a Nação à pobreza, ao desemprego e à desesperança. Agora, a UFPB, povoada de fanáticos petistas, quer reverenciar esse bandido, em afronta a todos aqueles que lutaram por seu engrandecimento. É uma atitude desrespeitosa e insana, bem como um deboche em relação à sociedade e, particularmente, à Justiça! Choro por ti, UFPB, como já chorei pelo CCJ, entregue à sanha petista e em profunda decadência ética e acadêmica. Choro por ti, Lynaldo Cavalcanti, e pela destruição de teu sonho. Choro, enfim, por todos aqueles que se dedicaram à causa de uma grande Universidade e que são, hoje, vítimas desse desrespeito”.
Esse choro sofrido, sentido e doído tem o acompanhamento de milhões de brasileiros honrados que imaginaram a vida inteira que a honraria do título de “doutor honoris causa” fosse a sublime expressão literal de “por honra de causa”, como pretende patentear, por justiça, o texto latino, nas o rancor extravasado do mestre paraibano mostra que, ainda nos dias atuais, em pleno século XXI, há espaço para a deturpação dos sentimentos da dignidade, na tentativa de acentuar situações completamente incompatíveis com  a realidade dos fatos, onde uma universidade ousa resgatar a imagem de criminoso da Justiça, para lhe atribuir o honroso título de “doutor honoris causa”.
No stricto sensu, “honoris causa” é o recurso que as universidades de prestígio despõem para homenagear pessoas ilustres, dignas, em reconhecimento aos seus consagrados legados, por meio da concessão do título de honra, para sublinhar a importância do esforço ou do trabalho delas, de forma marcante, em determinados setores da humanidade e que a sua notável contribuição seja capaz de desenvolver estímulos ao desenvolvimento social, político e outros, em benefício geral.
Na verdade, nos países sérios, civilizados e evoluídos social, político e democraticamente, a concessão de título honoris causa somente faz sentido em função da real importância da sua instituição, que realmente justifique a sua indicação com a figura do homenageado e jamais à importância política como fator determinante da sua outorga.
Nesses casos, a seriedade chega ao ponto de se vincular a outorga do título aos verdadeiros méritos, virtudes ou atitudes de dignidade reconhecidos pelo conselho universitário, em que o “doutor” homenageado recebe o mesmo tratamento e desfruta dos privilégios como se tivesse concluído o curso de doutorado acadêmico convencional, como que justificando o peso da honraria outorgada.
Não obstante, não fica bem para a universidade, que perde prestigio, quando se atreve a conceder tão honroso título a cidadão que não desfruta do conceito compatível com a representatividade do título de “Doutor Honoris Causa”, como parece ser o caso em comento, em que o homenageado acaba de ser condenado pela Justiça, pela pratica de graves crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, dando cabal mostra de que não tem conduta exemplar, idoneidade moral e mérito suficientemente para fazer jus à honraria, como modelo de homem público capaz de transmitir lição de decência, honestidade, dignidade e moralidade para os alunos dessa universidade, que perdeu sua compostura com tão promíscua escolha do homenageado.   
Quando a universidade se atreve a atribuir o doutoramento honoris causa a pessoa considerada desqualificada pela opinião pública, a outorga em si demonstra o baixo prestígio do educandário, tendo ainda o peso de conspirar contra o conceito acadêmico da instituição, por não ter tido o devido cuidado de colocar a sua reputação no olho do furacão da indignidade.
À toda evidência, na atualidade, o ex-presidente, na qualidade de criminoso da Lava-Jata, não serve de parâmetro positivo para os padrões de qualidade de ensino superior do país, fato que expõe a consagração das mazelas que deveriam ter sido eliminadas ao longo da história da educação.
Urge que os brasileiros, à luz dos verdadeiros sentimentos de civismo e patriotismo, repudiem e protestem, com veemência, contra as iniciativas de universidades federais de concederem título de “doutor honoris causa” a pessoas que não condigam, em dignidade e conduta moral, com os reais significados da instituição para a outorga, que somente deve ser homologada em razão da comprovação dos mérito, dedicação e trabalho em benefício das causas efetivamente humanitária, política, social, econômica, administrativa, entre outras que possam contribuir para o desenvolvimento humano em geral. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 16 de agosto de 2017

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