segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A calmaria das ruas

A calmaria das ruas tem causado verdadeiro paradoxo e ainda motivado a intriga dos institutos de pesquisa e de expressiva parcela dos meios de comunicação e da opinião pública.
Esse importante segmento de avaliação do comportamento social demonstra inquietação pelo fato de que o presidente do país, extremamente impopular como o atual, que tem o governo avaliado como “bom” ou “ótimo” por, pasmem, apenas 5% dos brasileiros, segundo a mais recente pesquisa do instituto Datafolha, não seja motivo capaz de causar alvoroço social e mobilização de entidades sociais, na forma a ensejar os protestos das pessoas, por meio de movimentos nas ruas, com a finalidade da sua destituição do cargo, nos moldes do que foi feito nos protestos a partir de 2013, que foram adensados nos anos seguintes, até o impeachment da presidente afastada.
A verdade é que a desastrada e perigosa gestão da petista, caracterizada sobretudo pela incompetência, ineficiência, autoritarismo, prepotência, arrogância e má-fé, sob a marca indelével da irresponsabilidade administrativa, com destaque para os rombos nos orçamentos que contribuíram para levar o país ao fundo do poço, à vista da pior recessão econômica desde 1948 – quando o Produto Interno Bruto (PIB) passou a ser calculado pelo IBGE –, deram aos brasileiros as razões objetivas para o descontentamento que transformou ruas do país em instrumento importante para a manifestação da sua insatisfação e do seu repúdio ao verdadeiro desgoverno de então.
Em princípio, as manifestações surgidas em 2013, com o valor da indignação contra o governo desastroso, ganharam relevância pela insurgência contra a fragilidade na solução das graves crises geradas pelo governo inabilidade e incapacitado, que se perdia diante da recessão econômica, da desindustrialização, do desemprego, do rombo nas contas públicas, da péssima prestação dos serviços públicos, entre tantas mazelas que afloravam juntamente com o desespero das pessoas, diante da inflação, da perda do poder aquisitivo, do medo de perder as conquistas sociais e econômicas.
Na realidade, a aparente acomodação dos brasileiros, que se aquietaram quanto às manifestações contrárias nas ruas, que eram frequentes há dois anos contra o desgoverno, em que pese a grande maioria da população considerar o governo do atual presidente “ruim” ou “péssimo”, pode ser entendida como um sinal de que o processo de recuperação econômica já é palpável e sentido pela população, que vê nisso ponto importante de tranquilização.
Essa constatação foi prestada pela pesquisa do Datafolha que, a par de ter aquilatada a impopularidade recorde do residente, também apurou aumento do porcentual da população que vislumbra segurança socioeconômica na permanência dele à frente da Presidência da República, de modo a se entender que isso se traduz em fator de estabilidade para o país e, por via de consequência, forma de proteção contra as ameaças de retrocessos econômicos.
Diante desse quadro de incerteza no presente e de esperança no futuro, os brasileiros percebem que não adianta promover movimentos de protestos para o afastamento do presidente do país, que vem, apesar da sua quase total rejeição, conseguindo dar novos contornos à economia, em comparação ao quadro caótico apresentado pelo governo anterior, onde os indicadores apontavam generalizados vetores negativos e descendentes, em escalada sempre de pessimismo jamais visto na história do país.
A verdade é que também de nada adianta se tentar substituir o presidente, mesmo diante da insatisfação popular, pela dificuldade de se prevê a escolha de outro mandatário que possa tranquilizar a população, quanto à sua capacidade administrativa e ao seu desempenho, à vista da proximidade da eleição, para a renovação do quadro político.
Em que pese o atual presidente não representar o perfil ideal e desejado da expressiva maioria dos brasileiros, mas parece que a calmaria na parte da economia justifica que ele continue no comando da nação, como forma de se assegurar de que a sua impopularidade é tolerável e não compensa se estrebuchar nas ruas, diante do temor de aparecer alguém ainda pior do que ele.
O bom termômetro emocional dos brasileiros parece não ser efetivamente pela preferência ao comodismo, mas sim pela percepção de que, mesmo em momento particularmente conturbado, diante das crises que ainda perturbam as pessoas, é preferível manter a calmaria das ruas, na expectativa de que logo em breve o quadro de dificuldades possa ganhar novos contornos, com a eleição do futuro presidente da República desejável pelos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 30 de outubro de 2017
(Com a publicação deste artigo, eu completo o meu 28º livro)

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