A calmaria das ruas tem causado verdadeiro paradoxo e ainda motivado a intriga dos
institutos de pesquisa e de expressiva parcela dos meios de comunicação e da
opinião pública.
Esse
importante segmento de avaliação do comportamento social demonstra inquietação
pelo fato de que o presidente do país, extremamente impopular como o atual, que
tem o governo avaliado como “bom” ou “ótimo” por, pasmem, apenas 5% dos
brasileiros, segundo a mais recente pesquisa do instituto Datafolha, não seja
motivo capaz de causar alvoroço social e mobilização de entidades sociais, na
forma a ensejar os protestos das pessoas, por meio de movimentos nas ruas, com
a finalidade da sua destituição do cargo, nos moldes do que foi feito nos
protestos a partir de 2013, que foram adensados nos anos seguintes, até o impeachment
da presidente afastada.
A
verdade é que a desastrada e perigosa gestão da petista, caracterizada
sobretudo pela incompetência, ineficiência, autoritarismo, prepotência, arrogância
e má-fé, sob a marca indelével da irresponsabilidade administrativa, com
destaque para os rombos nos orçamentos que contribuíram para levar o país ao
fundo do poço, à vista da pior recessão econômica desde 1948 – quando o Produto
Interno Bruto (PIB) passou a ser calculado pelo IBGE –, deram aos brasileiros as
razões objetivas para o descontentamento que transformou ruas do país em instrumento
importante para a manifestação da sua insatisfação e do seu repúdio ao
verdadeiro desgoverno de então.
Em
princípio, as manifestações surgidas em 2013, com o valor da indignação contra
o governo desastroso, ganharam relevância pela insurgência contra a fragilidade
na solução das graves crises geradas pelo governo inabilidade e incapacitado,
que se perdia diante da recessão econômica, da desindustrialização, do
desemprego, do rombo nas contas públicas, da péssima prestação dos serviços
públicos, entre tantas mazelas que afloravam juntamente com o desespero das
pessoas, diante da inflação, da perda do poder aquisitivo, do medo de perder as
conquistas sociais e econômicas.
Na
realidade, a aparente acomodação dos brasileiros, que se aquietaram quanto às
manifestações contrárias nas ruas, que eram frequentes há dois anos contra o
desgoverno, em que pese a grande maioria da população considerar o governo do
atual presidente “ruim” ou “péssimo”, pode ser entendida como um sinal de que o
processo de recuperação econômica já é palpável e sentido pela população, que
vê nisso ponto importante de tranquilização.
Essa
constatação foi prestada pela pesquisa do Datafolha que, a par de ter
aquilatada a impopularidade recorde do residente, também apurou aumento do
porcentual da população que vislumbra segurança socioeconômica na permanência dele
à frente da Presidência da República, de modo a se entender que isso se traduz
em fator de estabilidade para o país e, por via de consequência, forma de proteção
contra as ameaças de retrocessos econômicos.
Diante
desse quadro de incerteza no presente e de esperança no futuro, os brasileiros
percebem que não adianta promover movimentos de protestos para o afastamento do
presidente do país, que vem, apesar da sua quase total rejeição, conseguindo
dar novos contornos à economia, em comparação ao quadro caótico apresentado
pelo governo anterior, onde os indicadores apontavam generalizados vetores
negativos e descendentes, em escalada sempre de pessimismo jamais visto na
história do país.
A
verdade é que também de nada adianta se tentar substituir o presidente, mesmo
diante da insatisfação popular, pela dificuldade de se prevê a escolha de outro
mandatário que possa tranquilizar a população, quanto à sua capacidade
administrativa e ao seu desempenho, à vista da proximidade da eleição, para a
renovação do quadro político.
Em
que pese o atual presidente não representar o perfil ideal e desejado da
expressiva maioria dos brasileiros, mas parece que a calmaria na parte da
economia justifica que ele continue no comando da nação, como forma de se
assegurar de que a sua impopularidade é tolerável e não compensa se estrebuchar
nas ruas, diante do temor de aparecer alguém ainda pior do que ele.
O
bom termômetro emocional dos brasileiros parece não ser efetivamente pela
preferência ao comodismo, mas sim pela percepção de que, mesmo em momento
particularmente conturbado, diante das crises que ainda perturbam as pessoas, é
preferível manter a calmaria das ruas, na expectativa de que logo em breve o quadro
de dificuldades possa ganhar novos contornos, com a eleição do futuro
presidente da República desejável pelos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de outubro de 2017
(Com a publicação deste artigo, eu completo o meu 28º livro)
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