sábado, 28 de outubro de 2017

Ilações indevidas e injustas

O homem brasileiro considerado de maior projeção política qualificou de "absurda" a decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar o prosseguimento da denúncia formulada pela Procuradoria Geral da República contra o presidente da República, permitindo com isso que ele permaneça no comando do país.
O mais interessante é que o petista se referiu à decisão como uma demonstração de ineficiência da operação Lava-Jato no combate à corrupção.
O político afirmou, em tom de indignação, que "Depois dizem que a Lava-Jato está combatendo a corrupção. Depois dizem que a operação Lava-Jato está moralizando este país, que quer combater a corrupção. Se ela quisesse combater a corrupção, não tinha essa corrupção campeada no Congresso".
No seu discurso realizado na praça central de cidade mineira, o político afirmou que presidente do país gastou R$ 30 bilhões para garantir seu cargo, tendo ainda lembrado que ele também sofre forte rejeição popular.
Ainda no discurso, o político acusou o peemedebista de aplicar o golpe sobre a ex-presidente petista, de quem era vice.
Não há a menor dúvida de que a Operação Lava-Jato, no âmbito da primeira instância, vem combatendo com o devido rigor os atos de corrupção sob os casos que abrange a sua jurisdição, ou seja, os casos ligados aos desvios de dinheiro da Petrobras cujos envolvidos não sejam beneficiários do famigerado foro privilegiado, o que excluem os casos abrangidos pelos parlamentares e vale dizer que a ação implacável daquela operação vem combatendo com o devido rigor os demais corruptos que se envolveram com o recebimento de propinas da estatal, sendo que muitos já sentiram os efeitos das decisões daquele juízo, mas outros ainda estão podendo reclamar e estrebuchar em liberdade, fazendo ilações de extrema infelicidade, enquanto se aguarda a decisão da segunda instância sobre a validade ou não da sentença condenatória acerca da sua situação.
À toda evidência, qualquer cidadão, sem qualquer experiência política, sabe perfeitamente que o ato de irresponsabilidade de se evitar que o presidente do país e outras autoridades sejam investigados pela possível prática de crimes é de inteira incumbência, no caso, da Câmara, o que significa dizer que o rancor e a estupidez demonstrados pelo político não têm o menor cabimento, porque ela refoge à competência da Operação Lava-Jato que, como ele sabe muito bem, esta se incumbe exclusivamente das investigações pertinentes à roubalheira disseminada desde o governo dele e sobre isso ninguém tem dúvida, porque são fatos da maior transparência e sem novidade.
Embora a medida adotada pela Câmara tenha todos os ingredientes de irregularidades, corrupção, falta de ética, imoralidade, enfim da quebra do decoro parlamentar, que não condizem com os princípios republicanos, isso não tem a menor dúvida que são atitudes absolutamente reprováveis, recrimináveis e completamente inadmissíveis no Estado Democrático de Direito, em se tratando de contexto de República séria, civilizada e evoluída, em termos políticos e democráticos, mas como os fatos aconteceram no país tupiniquim tudo não passa das práticas que já se consolidaram e se tornaram corriqueiras desde remotas datas, inclusive de governos anteriores ao atual, que os digam os escândalos do mensalão e do petrolão, cujos estragos estão longe de ser elucidados e reparados, à vista, em especial, dos rombos financeiros causados por este último, que tem a marca indelével do governo desse político, segundo as delações e as investigações pertinentes, porque em cuja gestão aconteceu o aparelhamento da estatal com os executivos que cuidaram de promover a dilapidação do patrimônio da Petrobras, com o desvio de bilhões de reais de seus cofres.   
Não é de bom tom que político que precisa se explicar na Justiça, com vistas a limpar seu histórico de muitas ações sobre denúncias aceitas em juízo, ficar criticando a atuação de instituição que não tem nada a ver com os atos praticados por outrem, no caso da Câmara, que é que deve assumir seus atos, por ter sido protagonista dessa realmente absurda decisão de não autorizar que o presidente do país seja investigado pelo Supremo, pela suspeita pratica de corrupção.
É evidente que nenhuma culpa por omissão se pode atribuir à Lava-Jato nesse episódio, porque inexiste, à toda evidência, qualquer possibilidade legal sobre a sua atuação no caso, fato esse que se torne absolutamente inócua a cobrança desesperada de político que tem a obrigação de convencer seus eleitores apenas procurando mostrar a verdade sobre os acontecimentos, o que deixou de ser feito em pleno discurso pré-eleitoral, por ter havido distorção sobre a interpretação acerca da decisão da Câmara.  
Ao que tudo indica, o político tenta relacionar fatos degradantes da política com a Operação Lava-Jato, como forma de denigrir a imagem de quem já se tornou símbolo do trabalho eficiente e profícuo, que pretende realmente moralizar os atos da administração do país, na área da sua jurisdição, conforme mostram os resultados de suas investigações e de seus julgamentos, que são abrangentes e imparciais, não importando o nível da autoridade dos envolvidos, ante o princípio insculpido no regramento jurídico de que todos são iguais perante a lei e isso tem incomodado pessoas acostumadas com o conforto dos palácios e do poder e não se conformam em serem investigadas e julgadas por integrantes da supracitada operação, que têm sido implacáveis contra os corruptos que pensavam que jamais seriam alcançadas por ela.
Convém que os brasileiros continuem apoiando, de forma abrangente e irrestrita, os trabalhos da Operação Lava-Jato, de modo que os corruptos sejam devidamente investigados e julgados, nos termos da lei, como forma de possibilitar a responsabilização pelos crimes por eles praticados e a reparação dos danos causados ao patrimônio dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de outubro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário