quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A materialização do princípio da corrupção

O Plenário da Câmara dos Deputados decidiu rejeitar autorização para o Supremo Tribunal Federal processar, por crime comum, o presidente da República e os ministros da Casa Civil e da Secretaria Geral.
Com o apoio de 251 votos ao residente, contra 233 votos, a Câmara resolveu placitar o relatório aprovada por sua Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, da autoria de deputado do PSDB-MG, que havia concluído pelo indeferimento do pedido de autorização formulado pelo Supremo.
A denúncia da Procuradoria Geral da República acusa o presidente e os ministros pela prática dos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça, com a finalidade de arrecadar propinas, que tiveram a previsão do valor de R$ 587 milhões, a qual foi negada pelo Palácio do Planalto.
Diante dessa decisão, o presidente poderá responder sobre os crimes supracitados somente após deixar o mandato, evidentemente perante a primeira instância, em face da perda do foro privilegiado.
Esse é o retrato vivo e irretocável de políticos tupiniquins que são, por sobrevivência política, vendáveis e negociáveis, como verdadeira mercadoria, por se satisfazerem com verbas públicas, cargos públicos e outros galanteios vindos do Palácio do Planalto, em troca do seu voto, com as caras mais deslavadas a demostrarem nenhum pudor em rejeitar mais uma denúncia sobre o comando de organização criminosa atribuída, pasmem, ao mandatário do país, o príncipe da República, que tem o dever moral de dar o exemplo de honorabilidade e dignidade na vida pública, mas, ao contrário, simplesmente ganha o direito de continuar com o nariz empinado a comandar os destinos dos brasileiros, com se os fatos contundentes denunciados não passassem de injustiças protagonizadas por quem pretende apenas retirá-lo do governo, como se nada do que foi arrolado tivesse alguma pertinência.
A decisão da Câmara revela a verdadeira cara do Brasil, que é comandado justamente pela organização criminosa que existe, de fato e de direito, no seio da República, mas a sociedade ainda é absolutamente incapaz de se mobilizar e pô-la para fora dos palácios e dos plenários legislativos, por ainda não ter alcançado as necessárias evolução e maturidade políticas, cujos atos de materialização da corrupção simplesmente se afirmam e se universalizam desde o Poder Executivo e se ramificam com muita autoridade no Poder Legislativo, conforme mostra o resultado dessa pouca-vergonha que rejeita o pedido do Supremo para processar o mandatário da nação.
Aliás, impende sublinhar que a decisão da Câmara tem muita sintonia com o que aconteceu recentemente com o Supremo, que abriu mão da sua dignidade para dar a palavra final ao Congresso Nacional, com relação às punições aplicadas aos parlamentares, dando ensejo aos demais poderes de agirem também com a liberalidades que melhor agradam aos criminosos de colarinho branco, que sempre manobraram as decisões sob a égide se seu poder, que agora jamais será contrariado, diante da pacificação emanada por decisão do Poder Judiciário.
A forma obtusa e transversa adotada pela Câmara de se livrar o presidente do país de responder a processo criminal no Supremo e de torná-lo imune às investigações se harmoniza perfeitamente com os métodos adotados nas piores republiquetas, onde os princípios republicano e democrático são absolutamente desprezados e a sociedade é simplesmente desrespeitada, perdendo validade não somente a credibilidade das instituições públicas e das autoridades constituídas, mais principalmente a segurança jurídica, por dar a entender que a lei somente tem aplicabilidade contra aqueles que são desprovidos dos poderes da República.
Importe seja destacado o papel fundamental da imprensa, que tem sido implacável com a divulgação dos escândalos envolvendo as negociatas e os atos decorrentes, mostrando o mar de lama existente entre as autoridades da República que foram essenciais no desfecho desse processo de indignidade, com a compra da liberdade processual pelo presidente do país, mostrando para o mundo, com avidez, a verdadeira face dos descarados políticos tupiniquins.  
O resultado da votação que livrou, por enquanto, o presidente do país de mais um processo no Supremo já era mais do que esperado, diante dos desavergonhados agrados aos deputados, com verbas públicas, cargos públicos, concessões fiscais e outros atos presidenciais contrários aos princípios republicanos.
Em que pesem os esforços pela moralização da administração do país, a marca indelével da cumplicidade com a corrupção e a indignidade permanece viva no seio dos congressistas, que são maleáveis à influência do poder máximo da nação, por ele ter em suas mãos a chave do Tesouro e a caneta capazes de mudar a consciência dos homens públicos sob a índole do convencimento fácil e susceptíveis aos agrados próprios da indignidade consagrada e incontrolável no seio dos corruptos calejados e acostumados com esse ambiente da fragilidade humana, que não consegue resistir às afabilidades em troca de apoio pelo voto, a justificar o emprego do fim para se conseguir os meios, em clara e inafastável desmoralização dos salutares princípios da idoneidade e do caráter inerentes aos homens públicos honestos e dignos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 26 de outubro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário