segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A verdade é o melhor caminho

O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas resolveu pedir desfiliação do Partido dos Trabalhadores, em documento dirigido à presidente do partido, onde procura esclarecer, de forma minuciosa, os fatos delituosos que ele e o ex-presidente da República petista tiveram efetiva participação.
O citado pedido veio a propósito da decisão do PT de afastá-lo, por 60 dias, até que o diretório de Ribeirão Preto, cidade de origem de filiação dele, desse seguimento ao processo de desfiliação, sob o argumento da presidente do partido de que “Ele mentiu contra o partido, contra a liderança de Lula, comprometendo Lula”.
No documento, o ex-ministro se colocou à disposição do partido para os devidos esclarecimentos, mas somente após a conclusão das investigações a cargo do Ministério Público, tendo informado que, “De qualquer forma, quero adiantar que, sobre as informações prestadas em 06/09/2017, são fatos absolutamente verdadeiros. São situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo isso”.
Para não deixar dúvida quanto à sua posição de delator, ele disse que estava “Bastante tranquilo”, tendo ressaltado que “Falar a verdade é sempre o melhor caminho”.
Em um dos textos, o ex-ministro deixou claro que “Vocês sabem que procurei ajudar no projeto do PT e do presidente Lula em todos os momentos. Convivi com as dificuldades e os avanços. Sabia o quanto seria difícil passar por tantos desafios políticos sem qualquer desvio ético. Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo. (…) dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do ‘tudo pode’, do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares que pagarão a tudo e a todos”.
O ex-ministro não economizou críticas duríssimas ao seu ex-líder, tendo questionado ao partido sobre a “divindade” dele, ao indagado o seguinte: “Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’, enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!!) são atribuídos a Dona Marisa? Afinal, somos um partido sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”.
O ex-ministro disse que achou estranha a abertura de processo contra ele, não pela condenação que já recebeu na Lava-Jato, mas pelas declarações contra o ex-presidente e que "Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que levaram a tal condenação e minhas eventuais alegações. Mas nada recebi sobre isso".
Ele reafirma que o conteúdo do depoimento criticado pelo PT trata apenas da verdade sobre os fatos, embora evitasse entrar em detalhes acerca das irregularidades, porque ainda negocia acordo de delação premiada com a Justiça.
Chega a ser risível que ele acredita que, em breve, "o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer com o 'mensalão', quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições do Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os partidos".
Ele disse ter participado ativamente das realizações do partido e "Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumi minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política, nos melhores dos momentos do seu governo".
Também sobraram críticas do ex-ministro para as gestões petistas, tendo atacado a maneira como o PT conduziu as decisões governamentais, ao dizer que "Alguém já disse que quando a luta pelo poder se sobrepõe à luta pelas ideias, a corrupção prevalece. Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um mau governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados, sobrando poucas boas lembranças e desnudando toda uma rede de sustentação corrupta e alheia aos interesses do cidadão", em clara referência à ex-presidente.
Na sua opinião, o PT acabou deixando herança ruim ao país, ao dizer que "Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos".
Em conclusão, ele relembra a atuação política desde a fundação do PT e dos mandatos que recebeu, ao afirmar que "Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral. Assumo toda as minhas responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e nos erros, nos trabalhos honrados nos piores atos de ilicitudes nunca estive sozinho".
Em se tratando de falar a verdade, é evidente que o ex-ministro vai continuar falando sozinho, evidentemente porque ele se encontra nas amarguras do cárcere, tendo em vista que, estando solto e livre, ninguém nem ele iria se arriscar a assumir qualquer deslize, por mais pequeno que seja, sem citar que a verdade nunca fez parte do dicionário do partido, que nunca soube de nada, nunca viu nada de errado e também nunca foi de assumir seus erros na gestão da coisa pública
Exemplo claro dessa assertiva deflui da última campanha presidencial, quando a candidata do partido jurava que a situação econômica do país se encontrava às mil maravilhas, mas foi obrigada a adotar, em vão, logo que assumiu o segundo mandato, uma série de ajustes fiscal e econômico, para tentar cobrir os rombos das contas públicas, que só pioraram e afundaram seu governo.
No contexto geral, os fatos narrados por quem entende como ninguém as entranham do partido não poderiam ser tão reveladores e verossímeis, por haver menção a casos degradantes já relatados em delação premiada por executivos de empreiteiras, que foram confirmados pelo ex-ministro, dando aquele ar de veracidade que precisava para se confirmar o mar de lama presente nos governos petistas, com destaque para a gestão do líder-mor, que jamais terá dignidade para confirmar uma vírgula, embora o ex-ministro tenha esperança de que isso possa acontecer.
A verdade que a podridão se amplia como uma nuvem pesada de tarde chuvosa, à medida que as lideranças petistas colocaram nas suas cabeças que as gestões de seus governos foram extraordinárias e maravilhosamente no sentido da reafirmação da satisfação social e isso não poderia ser desfeito como um sopro, tão somente porque houve essa avalanche de denúncia de corrupção, que jamais deveria ter sido objeto de investigação, quanto mais por um prócer do próprio partido, que dá maior grau de autenticidade aos acontecimentos maléficos e prejudiciais à reputação de partido que já teve a pretensão de ser exemplo de ética e dignidade nas atividades político-administrativas.
Na verdade, em um país sério, civilizado e evoluído político e democraticamente, o peso do conteúdo da carta em comento seria mais do que suficiente para se concluir que o ex-ministro tem sido coerente, sincero e fala a verdade para o bem dele e do país e precisa deixar muito claro que os fatos realmente aconteceram, independentemente de que, na opinião dos petistas, um dos principais protagonistas seja endeusado e imunizado sobre qualquer suspeita.
É extremamente lamentável que ainda existe alguém que duvida da sinceridade e da autenticidade de quem quer contribuir exclusivamente com a verdade, mesmo que ela possa causar estragos aos planos políticos do partido e de seu principal político, que prefere se omitir e negar os fatos, mesmo ainda sendo considerado o político de maior importância do país, em que pese se imaginar que a maior destruição da honradez e da dignidade do homem público é ignorar e fechar os olhos para a verdade dos fatos, que de uma forma ou de outra ela virá à tona, com força avassaladora e inevitável. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 9 de outubro de 2017

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