domingo, 8 de outubro de 2017

A perda do senso moral

Pesquisa realizada por Datafolha explicita contradição das pessoas ouvidas, quando a maioria se manifestou em defesa da prisão do maior político brasileiro, em razão das investigações promovidas pela Operação Lava-Jato, mas, ao mesmo tempo, ele foi o candidato à corrida presidencial, no próximo ano, que recebeu o maior índice de preferência.
Outra observação interessante salta aos olhos, quando, com base na amostra, 54% dos entrevistados acham que o político deve ser preso, mas 66% têm dúvida que isso possa efetivamente acontecer.
Como é normal, a reprovação à prisão do político chegou a 81% entre os eleitores dele, mas 25% dos eleitores de outros candidatos disseram que são contra à prisão do político.
O quadro de avaliação mostra que a taxa de rejeição do petista foi a mais baixa com relação às anteriores, de 42% entre os entrevistados, fato esse que é possível a ilação de que ele, agora, chega a 58% das intenções de voto.
O conjunto destes dados, com percentuais que oscilam na média, mostra que a opinião pública está dividida, com relação à pessoa do ex-presidente.
Não obstante, nesse complexo da pesquisa, resta importante paradoxo de como o petista ainda consegue manter seu capital eleitoral, diante de acusações, denúncias e investigações sobre possíveis práticas de irregularidades, embora foi colhida a revelação de que 87% dos entrevistados preferem votar em candidato a presidente que jamais tenha se envolvido em caso de corrupção.
Esse fato demonstra outra contradição da pesquisa, quando o petista teve 35% da preferência dos entrevistados, mas a lógica, diante do contido no parágrafo anterior, não passaria de 13%, o que significasse afirmar a precariedade e a inconsistência da pesquisa, com vistas à avaliação segura e confiável do seu resultado.
Da análise conjunta de uma matriz com seis frases, quatro de correlação direta com o tema, percebe-se que essa taxa elevada de eleitores que condenam tal crime cai praticamente pela metade quando ele é associado a determinados fins.
No país como o Brasil, as pessoas preferem confiar mais nos políticos que “roubam, mas fazem”, do que condenar propriamente a corrupção, conforme mostra o resultado da pesquisa, que somente aproximadamente 40% dos entrevistados mantêm-se firmes em condená-la. A maior parte oscila em admitir ser contra a corrupção, mas sob condição, a depender das circunstâncias, da conveniência ou da finalidade.
No caso, os entrevistados que preferem votar no petista são eleitorado de menor renda e também de baixa escolaridade, no percentual bastante elevado, bem próximo de 80%. 
Diante desse perfil bem realista, pode-se compreender, com muita facilidade, o real motivo da assertiva: "a corrupção é até aceitável se ela servir para manter um governo que combata a pobreza".
Tem sido muito comum se ouvir expressões que relativizam junto ao eleitorado a criminalização da corrupção, como estas: "A corrupção é até aceitável no país se servir para gerar empregos e fazer a economia crescer" e "Se um governante administra bem um país não importa se ele é corrupto ou não", entre outras que se encaixam perfeitamente na cultura tupiniquim, em que sempre há de prevalecer a conveniência, o interesse pessoal.   
Infelizmente, a tolerância com a corrupção tem relação com a prioridade ao assistencialismo e às ações sociais, como forma de conquistar o eleitorado mais carente, que tem renda familiar de até dois salários mínimos e representa o universo próximo de 50%, que pode atingir a taxa de até 66%, se incluída a faixa de até três salários, fato esse que permite enorme vulnerabilidade quando se pretende batalhar contra a corrupção e a impunidade, justamente porque a tentativa de moralização se contrapõe à vontade de quase a maioria dos brasileiros.
Enfim, é fácil compreender que a maioria dos entrevistados concorda, mesmo que parcialmente, com a expressão: "Tanto as qualidades quanto os defeitos dos políticos brasileiros são um retrato da população do país".
Há muitos exemplos de políticos que roubam e têm a simpatia e a preferências dos eleitores sempre cativos e fiéis, a exemplo de um ex-prefeito de São Paulo e muitos outros que respondem a processos na Justiça e continuam se elegendo para cargos relevantes da República.
Fato é que expressiva parcela do eleitorado não demonstra o menor incômodo com a corrupção, principalmente pela aprovação dos governos petistas e pela transferência para o atual governo da responsabilidade do desastre econômico que grassa no país, fato que evidencia total injustiça, quando se sabe que o impeachment da petista ocorreu em razão da terrível situação econômica criada por pela má gestão dos recursos públicos.
Não se pode dizer que o maior índice de rejeição do atual presidente do país seja decorrente de corrupção, mas sim da conjuntura econômica herdada do governo anterior, mas a rejeição ao petista é decorrente da suspeita de corrupção, mesmo assim ele desponta na preferência do eleitorado, quando o normal seria o contrário, o que significa dizer que a corrupção tem pouco peso na avaliação política, ou seja, ela e tolerável, tendo região que ela é ainda bem menos incômoda.
Isso pode mostrar que não se trata de tolerância propriamente, mas da necessidade de sobrevivência, a exemplo de quem perdeu o emprego agora e passa por situação de dificuldade, provavelmente vai se reportar aos tempos bons do governo do petista e isso pode pesar na hora da avaliação do candidato, sem a menor preocupação com quem tenha se envolvido com casos de corrupção, porque isso é de somenos importância, tendo ainda o fato de que a maioria da população mais pobre e desinformada também não acredita no que a imprensa noticia nem na imparcialidade do Ministério Público e do Poder Judiciário, que podem cometer injustiça, como no caso do petista, que a todo instante fica apontando que ele vem sendo injustiçado justamente para não ser candidato, na próxima eleição, embora as investigações digam algo diferente.
É evidente que nada justifica a prática da corrupção, mas a pesquisa mostra, com absoluta clareza, a tristeza da preferência de parcela significativa da população por apoiar político que, no mínimo, encontra-se envolvido em acusações e denúncias sobre a prática de irregularidades com dinheiro púbico, possivelmente por acreditar no velho adágio de que quem "rouba, mas faz".
Na realidade, esse absurdo é o que se pode denominar de "a tragédia do populismo", que é capaz de cegar completamente o senso moral das pessoas carentes e contribui para consolidar o subdesenvolvimento no país, porque um homem público com as índoles corrupta e populista não tem condições de administrará com competência e eficiência a nação.
O líder da intenção de voto, à vista dos fatos escancarados à saciedade, somente tem apoio declarado do povo, nas pesquisas, exclusivamente em razão do assistencialismo e do distributivismo inconsequentes e insustentáveis, por terem sido promovidos maquiavelicamente pensados com o viés eleitoreiro, conforme mostraram os resultados das urnas nos locais de predominância do Bolsa Família.
Resta analisar o comportamento do líder das pesquisas nesse episódio, que apenas vem surfando na onda benéfica das preferências de voto, procurando demonstrar, em defesa da sua inocência, ser político apenas injustiçado e vitimizado pela imprensa, oposição e elite, que estariam tramando para que ele não se candidate, à vista de certeza do apoio da sua clientela, sempre fiel e igualmente acreditando nas injustiças preparadas contra ele, que simplesmente procura ignorar a realidade sobre os fatos denunciados e investigados, que evidenciam fortes indícios de sua ligação com as irregularidades havidas com o desvio de recursos da Petrobras, à luz das delações, dos depoimentos, das planilhas, dos demonstrativos e demais documentos que servem de prova material da corrupção.
          Em que pese o político se dizer que compreende como ninguém o sentido da pobreza e se cognominar o “pai dos pobres”, esse discurso vai por terra quando os principais grupos empresariais do pais se beneficiaram como nunca de dinheiro público, a exemplo de grandes bancos, JBS, Odebrecht, entre outros importantes segmentos empresariais, que prosperaram nos governos petistas, de forma extraordinária.
Logo no momento em que o país mais precisa da conscientização das mentes mais esclarecidas, fica bastante difícil a implementação de purificação das práticas políticas, enfim, da moralização do sistema político-administrativo, diante desse quadro deformado da dignidade, que tem sido a gênese do homem público, que conta com o beneplácito do povo ignorante, pouco informado e sem a necessária consciência sobre o senso da ético e da moral.
A entrevista, de certa forma, demonstra enorme tolerância aos atos de corrupção, que tem como implícita justificativa as ações sociais e os assistencialismos exacerbados, fruto do despreparo e da desinformação do eleitor.
Na verdade, em sã consciência, ninguém deveria compactuar com os atos de corrupção, mesmo que eles, pretensamente, possam criar algum benefício social, mas os fatos mostram que, em tais situações, os atos infracionais nascem, vicejam e progridem em campo fértil como qualquer câncer, que é capaz de matar o próprio paciente, que é a sociedade, que nem percebe que ela também é vítima do sistema.
A maturidade política fica prejudicada quando a sociedade tende a apoiar pessoas envolvidas na corrupção e não se esforça em contribuir para eliminar essa chaga na política, justamente porque não há interesse que seja alcançada a integridade moral.
Os brasileiros que ignoram os malefícios da corrupção e simplesmente se enganam quando acham correto tolerá-la, a pretexto de se beneficiar pelas ações assistencialistas enfeixadas nos programas políticos dos corruptos-mores, precisam se conscientizar de que a corrupção é um dos maiores cânceres da humanidade, tendo em vista os homens públicos com a índole corrupta serem a escória da nação, porque essa doença é capaz de esconder o que há de mais maligno neles e de contribuir, de forma efetiva, para a destruição, a ruina, não somente do Estado, mas em especial dos salutares princípios da moralidade, transparência, legalidade, dignidade, entre outros que sempre devem imperar na administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 8 de outubro de 2017

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