Pesquisa
realizada por Datafolha explicita contradição das pessoas ouvidas, quando a
maioria se manifestou em defesa da prisão do maior político brasileiro, em razão
das investigações promovidas pela Operação Lava-Jato, mas, ao mesmo tempo, ele
foi o candidato à corrida presidencial, no próximo ano, que recebeu o maior
índice de preferência.
Outra
observação interessante salta aos olhos, quando, com base na amostra, 54% dos
entrevistados acham que o político deve ser preso, mas 66% têm dúvida que isso
possa efetivamente acontecer.
Como
é normal, a reprovação à prisão do político chegou a 81% entre os eleitores
dele, mas 25% dos eleitores de outros candidatos disseram que são contra à
prisão do político.
O
quadro de avaliação mostra que a taxa de rejeição do petista foi a mais baixa
com relação às anteriores, de 42% entre os entrevistados, fato esse que é
possível a ilação de que ele, agora, chega a 58% das intenções de voto.
O
conjunto destes dados, com percentuais que oscilam na média, mostra que a
opinião pública está dividida, com relação à pessoa do ex-presidente.
Não
obstante, nesse complexo da pesquisa, resta importante paradoxo de como o
petista ainda consegue manter seu capital eleitoral, diante de acusações,
denúncias e investigações sobre possíveis práticas de irregularidades, embora
foi colhida a revelação de que 87% dos entrevistados preferem votar em
candidato a presidente que jamais tenha se envolvido em caso de corrupção.
Esse
fato demonstra outra contradição da pesquisa, quando o petista teve 35% da
preferência dos entrevistados, mas a lógica, diante do contido no parágrafo
anterior, não passaria de 13%, o que significasse afirmar a precariedade e a
inconsistência da pesquisa, com vistas à avaliação segura e confiável do seu
resultado.
Da
análise conjunta de uma matriz com seis frases, quatro de correlação direta com
o tema, percebe-se que essa taxa elevada de eleitores que condenam tal crime
cai praticamente pela metade quando ele é associado a determinados fins.
No
país como o Brasil, as pessoas preferem confiar mais nos políticos que “roubam,
mas fazem”, do que condenar propriamente a corrupção, conforme mostra o
resultado da pesquisa, que somente aproximadamente 40% dos entrevistados
mantêm-se firmes em condená-la. A maior parte oscila em admitir ser contra a
corrupção, mas sob condição, a depender das circunstâncias, da conveniência ou
da finalidade.
No
caso, os entrevistados que preferem votar no petista são eleitorado de menor
renda e também de baixa escolaridade, no percentual bastante elevado, bem
próximo de 80%.
Diante
desse perfil bem realista, pode-se compreender, com muita facilidade, o real motivo
da assertiva: "a corrupção é até
aceitável se ela servir para manter um governo que combata a pobreza".
Tem
sido muito comum se ouvir expressões que relativizam junto ao eleitorado a
criminalização da corrupção, como estas: "A corrupção é até aceitável no país se servir para gerar empregos e
fazer a economia crescer" e "Se
um governante administra bem um país não importa se ele é corrupto ou não",
entre outras que se encaixam perfeitamente na cultura tupiniquim, em que sempre
há de prevalecer a conveniência, o interesse pessoal.
Infelizmente,
a tolerância com a corrupção tem relação com a prioridade ao assistencialismo e
às ações sociais, como forma de conquistar o eleitorado mais carente, que tem
renda familiar de até dois salários mínimos e representa o universo próximo de
50%, que pode atingir a taxa de até 66%, se incluída a faixa de até três
salários, fato esse que permite enorme vulnerabilidade quando se pretende batalhar
contra a corrupção e a impunidade, justamente porque a tentativa de moralização
se contrapõe à vontade de quase a maioria dos brasileiros.
Enfim,
é fácil compreender que a maioria dos entrevistados concorda, mesmo que
parcialmente, com a expressão: "Tanto
as qualidades quanto os defeitos dos políticos brasileiros são um retrato da
população do país".
Há
muitos exemplos de políticos que roubam e têm a simpatia e a preferências dos
eleitores sempre cativos e fiéis, a exemplo de um ex-prefeito de São Paulo e
muitos outros que respondem a processos na Justiça e continuam se elegendo para
cargos relevantes da República.
Fato
é que expressiva parcela do eleitorado não demonstra o menor incômodo com a
corrupção, principalmente pela aprovação dos governos petistas e pela transferência
para o atual governo da responsabilidade do desastre econômico que grassa no
país, fato que evidencia total injustiça, quando se sabe que o impeachment da
petista ocorreu em razão da terrível situação econômica criada por pela má
gestão dos recursos públicos.
Não
se pode dizer que o maior índice de rejeição do atual presidente do país seja
decorrente de corrupção, mas sim da conjuntura econômica herdada do governo
anterior, mas a rejeição ao petista é decorrente da suspeita de corrupção,
mesmo assim ele desponta na preferência do eleitorado, quando o normal seria o
contrário, o que significa dizer que a corrupção tem pouco peso na avaliação
política, ou seja, ela e tolerável, tendo região que ela é ainda bem menos
incômoda.
Isso
pode mostrar que não se trata de tolerância propriamente, mas da necessidade de
sobrevivência, a exemplo de quem perdeu o emprego agora e passa por situação de
dificuldade, provavelmente vai se reportar aos tempos bons do governo do
petista e isso pode pesar na hora da avaliação do candidato, sem a menor
preocupação com quem tenha se envolvido com casos de corrupção, porque isso é
de somenos importância, tendo ainda o fato de que a maioria da população mais
pobre e desinformada também não acredita no que a imprensa noticia nem na
imparcialidade do Ministério Público e do Poder Judiciário, que podem cometer
injustiça, como no caso do petista, que a todo instante fica apontando que ele
vem sendo injustiçado justamente para não ser candidato, na próxima eleição,
embora as investigações digam algo diferente.
É
evidente que nada justifica a prática da corrupção, mas a pesquisa mostra, com
absoluta clareza, a tristeza da preferência de parcela significativa da
população por apoiar político que, no mínimo, encontra-se envolvido em
acusações e denúncias sobre a prática de irregularidades com dinheiro púbico,
possivelmente por acreditar no velho adágio de que quem "rouba, mas faz".
Na
realidade, esse absurdo é o que se pode denominar de "a tragédia do populismo", que é capaz de cegar completamente o
senso moral das pessoas carentes e contribui para consolidar o
subdesenvolvimento no país, porque um homem público com as índoles corrupta e
populista não tem condições de administrará com competência e eficiência a
nação.
O
líder da intenção de voto, à vista dos fatos escancarados à saciedade, somente tem
apoio declarado do povo, nas pesquisas, exclusivamente em razão do assistencialismo
e do distributivismo inconsequentes e insustentáveis, por terem sido promovidos
maquiavelicamente pensados com o viés eleitoreiro, conforme mostraram os
resultados das urnas nos locais de predominância do Bolsa Família.
Resta
analisar o comportamento do líder das pesquisas nesse episódio, que apenas vem
surfando na onda benéfica das preferências de voto, procurando demonstrar, em defesa
da sua inocência, ser político apenas injustiçado e vitimizado pela imprensa, oposição
e elite, que estariam tramando para que ele não se candidate, à vista de certeza
do apoio da sua clientela, sempre fiel e igualmente acreditando nas injustiças
preparadas contra ele, que simplesmente procura ignorar a realidade sobre os
fatos denunciados e investigados, que evidenciam fortes indícios de sua ligação
com as irregularidades havidas com o desvio de recursos da Petrobras, à luz das
delações, dos depoimentos, das planilhas, dos demonstrativos e demais
documentos que servem de prova material da corrupção.
Em que pese o político se dizer que
compreende como ninguém o sentido da pobreza e se cognominar o “pai dos pobres”,
esse discurso vai por terra quando os principais grupos empresariais do pais se
beneficiaram como nunca de dinheiro público, a exemplo de grandes bancos, JBS,
Odebrecht, entre outros importantes segmentos empresariais, que prosperaram nos
governos petistas, de forma extraordinária.
Logo
no momento em que o país mais precisa da conscientização das mentes mais
esclarecidas, fica bastante difícil a implementação de purificação das práticas
políticas, enfim, da moralização do sistema político-administrativo, diante
desse quadro deformado da dignidade, que tem sido a gênese do homem público,
que conta com o beneplácito do povo ignorante, pouco informado e sem a necessária
consciência sobre o senso da ético e da moral.
A
entrevista, de certa forma, demonstra enorme tolerância aos atos de corrupção,
que tem como implícita justificativa as ações sociais e os assistencialismos
exacerbados, fruto do despreparo e da desinformação do eleitor.
Na
verdade, em sã consciência, ninguém deveria compactuar com os atos de corrupção,
mesmo que eles, pretensamente, possam criar algum benefício social, mas os
fatos mostram que, em tais situações, os atos infracionais nascem, vicejam e progridem
em campo fértil como qualquer câncer, que é capaz de matar o próprio paciente,
que é a sociedade, que nem percebe que ela também é vítima do sistema.
A
maturidade política fica prejudicada quando a sociedade tende a apoiar pessoas
envolvidas na corrupção e não se esforça em contribuir para eliminar essa chaga
na política, justamente porque não há interesse que seja alcançada a
integridade moral.
Os
brasileiros que ignoram os malefícios da corrupção e simplesmente se enganam quando
acham correto tolerá-la, a pretexto de se beneficiar pelas ações
assistencialistas enfeixadas nos programas políticos dos corruptos-mores,
precisam se conscientizar de que a corrupção é um dos maiores cânceres da
humanidade, tendo em vista os homens públicos com a índole corrupta serem a
escória da nação, porque essa doença é capaz de esconder o que há de mais maligno
neles e de contribuir, de forma efetiva, para a destruição, a ruina, não
somente do Estado, mas em especial dos salutares princípios da moralidade,
transparência, legalidade, dignidade, entre outros que sempre devem imperar na administração
do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 8 de outubro de 2017
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