sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Inadmissível quebra de decoro

Dias atrás, o Partido dos Trabalhadores atacou a decisão da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal de afastar o senador tucano mineiro do exercício do mandato e determinar que ele permanecesse em recolhimento noturno.
Em nota, a legenda fez críticas duras e contundentes contra o tucano, mas disse que o novo afastamento dele foi "condenação esdrúxula, sem previsão constitucional", tendo defendido ainda que a medida "não pode ser aceita" pelo Senado.
Segundo a cúpula do partido, a forma de afastamento do mandato parlamentar, por determinação judicial, não existe e, por isso, "a decisão é mais um sintoma da hipertrofia do Judiciário, que vem se estabelecendo como um poder acima dos demais e, em alguns casos, até mesmo acima da Constituição. (...) O Senado Federal precisa repelir essa violação de sua autonomia, sob pena de fragilizar ainda mais as oriundas do voto popular".
A cúpula do PT afirma que o senador tucano é "um dos maiores responsáveis pela crise política e econômica do país e pela desestabilização da democracia brasileira" e "defronta-se hoje com o monstro que ajudou a criar", em referência ao que o partido chamou de "repetidas violações ao direito. Derrotado nas urnas, insurgiu-se contra a soberania popular e liderou o PSDB e as forças mais reacionárias da política e da mídia numa campanha de ódio e mentiras, que levou ao golpe do impeachment e à instalação de uma quadrilha no governo (do presidente do país).".
O PT foi incisivo quanto à cobrança de se levar, novamente, sob a alegação de "(...) ter desonrado o mandato e a instituição", o caso do senador tucano ao Conselho de Ética do Senado, que, de forma injustificável, já arquivou representação nesse sentido.
O PT negou que estivesse defendendo o tucano, ao declarar que "Não temos nenhuma razão para defender Aécio Neves, mas temos todos os motivos para defender a democracia e a Constituição".
No momento, com base na recente decisão do Supremo de se permitir que o Senado possa avaliar o mérito da decisão da 1ª Turma da corte, o PT já se posicionou que vai votar pela mantença da condenação do senador tucano, em sentido contrário da manifestação inicial, que condenava o afastamento do mandato dele, o que vale dizer que tem partido que age e atua conforme a sua conveniência, a depender das circunstâncias que melhores atendam seus interesses políticos.
No sob exame, causa enorme perplexidade a forma do discurso apresentado pelo PT, dando a entender que se trata de partido mais ético e moral como se comportou quando esteve no comando do país, como se ele não estivesse envolvido em nenhum ato de irregularidade e como se fosse exemplo de honorabilidade na vida pública, apesar do resultado das investigações, com base nas delações premiadas de executivos de empreiteiras, apontar para o lado mais obscuro das atividades políticas, em termos de moralidade e dignidade quanto ao zelo pela coisa pública.
A nota, em tom de repúdio, que parece, em princípio, de apoio do PT ao senador tucano contra a decisão do Supremo Tribunal Federal de afastá-lo do mandato e de determinar a prisão dele à noite, diante da possível falta de amparo legal para tanto, tem a dureza da revanche e da vingança, que caberia do parlamentar mineiro resposta à altura dos termos agressivos e desrespeitosos do PT, caso ele tenha a dignidade de recusar a "bondade" inexplicavelmente espontânea.
Não fica bem para o senador tucano em se calar diante de tamanha paulada desferida contra ele pelo PT, ao acusá-lo de ser culpado pelas crises que assolam o país, salvo se ele concordar com os termos grosseiros da mensagem muito bem pensada dessa agremiação, que aproveita o momento ensejo de dificuldades deles para mostrar a sua raiva e os seus rancor e desprezo ao senador.
Em nome da dignidade e da honorabilidade, seria o caso de o senador responder nos mesmos tom e nível as agressões, evidentemente caso ele assim entender, porque o seu silêncio compreende que as aceita com naturalidade.
Não obstante, não se tem conhecimento sobre a reação do senador tucano com relação à agressão sofrida, o que mostra que ele concorda com ela, na forma da ideia de quem cala, consente.
Quanto ao mérito do afastamento do senador tucano do mandato, realmente não fica bem que isso seja implementado por turma do Supremo Tribunal Federal, quando o correto, em termos de constitucionalidade, deveria ter sido pelo próprio Senado Federal, órgão a que integra, haja vista que a prática de ato de corrupção, tal qual como mostrada pelos meios de comunicação, em forma de áudios e vídeos, constitui vergonhosa e inadmissível quebra do decoro parlamentar jamais consentida sequer nas piores republiquetas, porque é ato de vileza indigna com a relevância do exercício do importante cargo de senador da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 13 de outubro de 2017

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