Dois
ministros do Supremo Tribunal Federal discutiram e trocaram ofensas, de forma
acirrada, na sessão da Corte, no momento do julgamento sobre a validade da decisão
que envolve a extinção de tribunais de contas de municípios do Estado do Ceará.
O
estopim para o início da briga ocorreu após um ministro criticar, sem a mínima
necessidade, a situação financeira do Rio de Janeiro, estado de origem do outro
magistrado.
O
ministro carioca questionou se, no Mato Grosso, estado do outro ministro “está tudo muito preso”, em referência
aos políticos presos no Rio de Janeiro e complementou dizendo: “Nós prendemos, tem gente que solta”.
Em
resposta, o ministro mato-grossense, que ficou célebre nos últimos tempos por
soltar vários presos pela Operação Lava-Jato, disse que o colega, ao chegar ao
Supremo, “soltou José Dirceu”,
ex-ministro do governo petista e condenado no escândalo do mensalão.
Em
resposta, o ministro carioca chamou o colega de mentiroso, ao afirmar que “É mentira. Aliás, normalmente, Vossa
Excelência não trabalha com a verdade. Então gostaria de dizer que José Dirceu
foi solto por indulto da Presidência da República”. Ele disse ainda
que o petista só está solto por causa de decisão da Segunda Turma do STF, da
qual integra o ministro mato-grossense.
A
troca de farpas continuou com o ministro carioca dizendo que o ministro
mato-grossense “não julga, não fala
coisas racionais e vive atacando
alguém. Vossa Excelência fica destilando ódio o tempo inteiro. Não julga, não
fala coisas racionais, articuladas. Sempre fala coisa contra alguém, está
sempre com ódio de alguém, está sempre com raiva de alguém. Use um argumento. Vossa
Excelência devia ouvir a última música do Chico Buarque: a raiva é filha do
medo e mãe da covardia”.
Em
seguida, os ministros foram interrompidos pela presidente da Corte, porém eles
continuaram discutindo, quando, ao tentar encerrar a discussão, a presidente lembrou
aos colegas que eles estavam “no plenário
de um Supremo Tribunal” e que ela gostaria de voltar ao caso em julgamento.
Tudo em Vão.
Na
parte mais acalorada do bate-boca, ao explicar as razões pelas quais concedeu
indulto ao ex-ministro petista, o ministro carioca acusou seu colega de ser
parcial em suas decisões, ao afirmar que “Não
transfira para mim essa parceria que Vossa Excelência tem com a leniência em
relação a criminalidade do colarinho branco”.
Ao
rebater as declarações do ministro carioca, o mato-grossense disse que “Tenho compromisso com direitos
fundamentais. Não sou advogado de bandidos internacionais”, em referência
ao trabalho daquele como defensor, evidentemente antes de ser nomeado para
ministro do Supremo, do ex-ativista italiano que está prestes a ser extraditado.
Agora
já na tréplica, o carioca disse ao mato-grossense que “Vossa Excelência vai mudando a jurisprudência de acordo com o réu. Isso
não é Estado de Direito, isso é Estado de compadrio. Juiz não pode ter
correligionário”.
Após
serenada a “sessão” bate-boca, o julgamento foi retomado e concluído, tendo sido
mantida a decisão da Assembleia Legislativa do Ceará, que extinguiu os
tribunais de contas dos municípios do estado.
A
discussão entre dois ministros do Supremo mostra exatamente que tem alguma
coisa errada e algo precisa ser implementado para a correção de rumos, visto
que a imagem da Corte foi extremamente arranhada nas expressões se seus
próprios integrantes, o que demonstra desvio de conduto por parte de quem
precisa dar exemplo de correção, acerto, justiça e dignidade, por se tratar da
instituição responsável pela melhor interpretação da Constituição e pela defesa
da boa e regular alicação do ordenamento jurídico do país, de modo que é
fundamental que seus integrantes se portem sob os princípios da lisura, do
decoro e dos ditames constitucionais, com embargo dos questionamentos que têm
aflorados com muita frequência nos últimos tempos, como esses que acabam de vir
à tona, para suscitar exatamente a necessidade de reflexão sobre a forma
correta de atuação dos ministros do Supremo, que têm a obrigação de ser
modelo de correção e dignidade, na vida pública.
O
duelo entre dois ministros do Supremo mostra o verdadeiro estado de ânimo
existente entre integrantes da Corte, onde ficou muito claro o sentimento de
adversidade e de intolerância entre eles, mostrando que o ambiente não é dos
melhores no plenário, diante da agressividade em que cada qual disse o que
sente um sobre o outro e vice-versa, em palavras duras e contundentes, ficando
a impressão de que ninguém está satisfeito nem se conforma com o desempenho
deles, em termos do atendimento do interesse público, que é a finalidade
precípua daquela Corte.
Na
verdade, essa forma de comportamento de ministros evidencia extremo desrespeito
à dignidade que precisa ser demonstrada não somente em plenário, mas sobretudo
no âmbito do Supremo, à vista da relevância dos cargos por eles ocupados, que
não podem ser confundidos com funções de somenos importância da República.
A
propósito, as acusações são gravíssimas a mostrarem, em princípio, as
fragilidades ínsitas deles, que não condizem com a dignidade do cargo,
notadamente no caso de favorecimento de criminosos e, em especial, no
questionamento sobre as decisões adotadas por ministro, dando a entender que
eles foram tomadas sob encomenda e de acordo com a aproximação com os
interessados, o que demonstra o nível a que se transformou a lamentável
discussão, que somente contribui para acentuar a divisão e o distanciamento
entre ministros da Excelsa Corte de Justiça, que certamente funcionaria com melhor
aproveitamento para o interesse público se eles se comportassem pelo menos em
harmonia com os princípios de civilidade e respeito mútuo.
Diante
da dureza das palavras, consideradas precisas e acertadas por muitas pessoas, houve
quem dissesse que um dos ministros teve como reação o sorriso amarelo diante da
verdade que foi mostrada com a coragem do necessário enfrentamento, que até pode
contribuir para mostrar que ninguém tem o direito de se colocar acima de absolutamente
nada.
É
induvidoso que o bate-boca não devia fazer parte do figurino de excelência que
se espera da Excelsa Corte de Justiça do país, mas diplomacia e educação à parte,
até que certos ministros precisam ouvir algumas verdades sobre as suas injustificáveis
e indevidas arrogância, petulância, prepotência, hipocrisia e onipotência, principalmente
para mostrar a eles que a importância da instituição depende exclusivamente da
competência e da eficiência resultantes do desempenho de cada ministro, tão
somente no exato cumprimento da missão institucional daquela Corte, na defesa
das melhores interpretação e aplicação do ordenamento jurídico do país. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de outubro de 2017
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