O
político com maior destaque no país, condenado a nove anos e seis meses de
prisão, em primeira instância, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, voltou a ameaçar e a desafiar seus acusadores a verem o que poderá acontecer
no país se o impedirem de ser candidato à Presidência da República, em 2018.
Ele
ressaltou, sem citar nomes, que “Eles
agem todo santo dia para me tirar da disputa. Juntam meia dúzia de juiz e
votam. Não me deixam ser candidato e pronto. Se eles acham que, me tirando da
disputa, está resolvido o problema deles, façam e vamos ver o que acontece no país.
Se acham que não vou ter força para ser cabo eleitoral, testem”.
O
político reconheceu que está “lascado”,
mas que espera pedido de desculpas do juiz da Lava-Jato, ao afirmar que “Não quero nem que o Moro me absolva, só
quero que peça desculpas.”, tendo sido muito aplaudido pela plateia, como
quem o incentivando a prosseguir seu discurso em ofensiva e agressão contra a
Lava-Jato.
No
longo discurso de quase 40 minutos, em defesa das universidades, ele ressuscitou
o rebatido e surrado lema do “nós contra
eles” e ressaltou que não pode mais aceitar tantas “mentiras” (também sem citá-las) e afirmou não ter medo da Lava-Jato.
Ele disse que, se o objetivo dela é não o permitir ser candidato, os
investigadores não deveriam deixar “o
povo sofrer” por causa disso.
Agora
não deixa de parecer paradoxo e estranho o fato de o político ter sido condenado
à prisão, no caso do triplex do Guarujá, ser réu em seis ações penais e estar
denunciado em outros dois casos, despontar soberano nas pesquisas de intenção
de voto para presidente do país, como se esses fatos relacionados à indignidade
da corrupção não representassem absolutamente nada, em termos de moralização e decência
dos brasileiros.
Ao
contrário disso, os brasileiros, no âmbito do seu dever cívico e moral, deveriam
repudiar esse quadro indiscutivelmente espúrio e recriminável e demonstrar o
mínimo de decoro para exigir que o político condenado pela Justiça e
respondendo a vários processos, com denúncias sobre suspeita da prática de crimes
graves, prove a sua tão decantada inocência, não com falácias, que não servem
para nada, mas com elementos juridicamente válidos, ao invés de ficar pondo sob
suspeita os trabalhos nunca realizados antes na República, com destemor,
seriedade, competência, eficiência e responsabilidade.
Ao pedir que o juiz da Lava-Jato apresente
desculpas, o político demonstra não somente desconhecimento e desrespeito à
soberana competência atribuída constitucionalmente ao Poder Judiciário, mas
também algo de prepotência ao dizer implicitamente, à vista da atitude de insinuar
que ele merece não punição senão desculpas, quem é esse “juizeco” para
julgá-lo, porque o político ainda se considera com a áurea do endeusamento
atribuída pela militância petista, mas, na sua opinião, o magistrado
simplesmente ignora esse fato consagrado no âmbito da idolatria jamais
conquistada por um político tupiniquim.
Vale lembrar que, por dever de ofício, nenhum
juiz seria incapaz e irresponsável de julgar ação penal e condenar o réu à
prisão e a outras sanções, se não constassem nos autos provas materiais
suficientemente capazes para respaldar a sua sentença, que certamente teve por
base as investigações promovidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público
Federal, como é o caso questionado pelo principal envolvido no episódio em
comento, que exige, pasmem, desculpas do magistrado, por se considerar um “lascado”
Os menos esclarecidos precisam saber que o juiz
pode ser responsabilizado penal e administrativamente, pelo crime de
prevaricação, que pode variar entre censura, suspensão e até mesmo a perda do
cargo, conforme a gravidade da sua falha, caso não existam provas substanciais
nos autos onde tenha sido prolatada a sentença condenatória.
Ademais, seria de extrema temeridade que o juiz
do quilate do que comanda a Lava-Jato condenasse à prisão um ex-presidente da
República, diante da sua relevância como autoridade pública, sem que o processo
não estivesse devidamente instruído com os elementos e as provas pertinentes ao
objeto dos fatos denunciados, em absoluta harmonia com o ritual legalmente
exigido.
É evidente que essa forma de apelo por parte de
quem já foi condenado objetiva nada mais do que tentar mostrar para seus
admiradores e idólatras, como se vê nos aplausos, que ainda se cometem
injustiças no país, inclusive contra as autoridades da República, como no caso
dele, tendo em vista que essa forma de comunicação se endereça justamente
àquelas pessoas, que não têm a menor noção de que o juiz julga tão somente com
base nas provas constantes dos autos, por que em harmonia com o exato atendimento
das exigências do ordenamento jurídico, que submete os brasileiros ao seu
império, cabendo a eles, se for o caso, recorrer das sentenças, evidentemente
na tentativa de provar a sua inocência, por meio de provas juridicamente
válidas e capazes de modificar o entendimento haurido dos autos pelo juiz.
Os
brasileiros, inclusive os de menores instrução e informação sobre a realidade
dos fatos, precisam se conscientizar de que a competência e a eficiência, por
enquanto tem sobressaído da parte de onde somente mostra a verdade e a
autenticidade sobre os fatos nos autos, que é o local legalmente determinado
para o debate, a análise e o desfecho dos assuntos objeto das investigações e
dos julgamentos sobre as acusações e as denúncias cuja autoria vem sendo
atribuída ao político, que agride a ética em discutir em público questões processuais,
como quem pretende envolver o povo nos casos que são de inteira
responsabilidade pessoal. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de outubro de 2017
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