quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O poder pelo simples poder?

Um senador do PT carioca disse, com entusiasmo, que "Não tem mais plano B", em garantia de que não é mais necessária candidatura alternativa à do ex-presidente da República, na corrida presidencial de 2018, porque, segundo ele: "Discutíamos isso, mas sem nenhum ânimo. Agora estamos convencidos de que é Lula mesmo".
Em entrevista a uma célebre colunista política, o senador afirma ainda que crê que o ex-presidente conseguirá ir até o fim da campanha, com base em parecer técnico-jurídico, que já foi entregue ao líder-mor, onde é afirmado que ele poderá disputar as eleições presidenciais em 2018, mesmo se condenado em segunda instância.
Segundo o documento, há fundamento que o líder-mor pode ser candidato mesmo que o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal não concedam liminar para suspender a inelegibilidade que viria com essa sentença.
Esse assunto precisa ser tratado com seriedade, em termos de interesse público, e não meramente em defesa político-partidária, como parece que vem sendo direcionado pelas lideranças políticas, ao demonstrarem extrema e arraigada disputa pelo poder, sem ao menos sopesarem outros aspectos senão somente o jurídico, que nem sempre será como eles estão projetando que seja.
Nas circunstâncias, diante da fragilidade demonstrada pelo Supremo Tribunal Federal, que, recentemente, até abriu mão de seu poder constitucional de dar a palavra final sobre aplicação de sanções aos congressistas, como foi visto com a sua total subserviência às pressões formadas em torno do caso do senador tucano mineiro, até pode ser possível que candidato condenado à prisão, em razão da prática de graves crimes contra a dignidade na vida pública, como corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não sofra algum empecilho, mesmo que a sentença seja confirmada, mas resta se buscar justificativa, evidentemente também por meio de parecer, para as questões ética e moral que impactaram esse rumoroso caso perante a opinião pública nacional e internacional.
Trata-se de candidato implicado na Justiça, já tendo sido condenado à prisão e ainda responde a processos, igualmente em face da suspeita da prática de crimes contra os princípios da dignidade e da moralidade, em cujo caso se exige, nos termos da Constituição Federal, a presença da idoneidade e da conduta moral exemplares, que certamente não se sustentariam simplesmente em nome da suprema ambição da conquista do poder, diante da militância que ainda vive das lembranças do passado.
É até possível que esse passado possa ter sido bom para eles, mas certamente pode não ter sido o mesmo para o resto dos brasileiros, que herdaram o Brasil falido, em termos econômicos, com recessão causando desempregos, juros nas alturas, inflação de dois dígitos, dívidas públicas impagáveis, rombos nas contas públicas, quase nenhuma obra importante concluída, salvo a transposição das águas do Rio São Francisco, que ainda continua em construção, depois de já terem sido gastos recursos quatro vezes mais que o previsto, além de não haver qualquer reforma das conjuntura e estrutura do Estado, que tem sua máquina pública inchada, onerosa e emperrada pelo uso de sistemas obsoletos e arcaicos, que têm sido modelo e causa de estrangulamento do desenvolvimento socioeconômico.
Os brasileiros precisam, com a devida urgência, avaliar os reais motivos pelos quais há tanto interesse da retomada do poder, diante de situações que precisam e exigem que os homens públicos conduzam o respetivo processo com a devida parcimônia e sensatez, capazes de justificar para a sociedade tanta ganância pelo poder, antes mesmo que o principal envolvido nessa questão demonstre sua inculpabilidade quanto às suspeitas da prática de atos contrários aos princípios republicano e democrático, quanto à lisura e à idoneidade na vida pública, que são pré-requisitos exigidos para o exercício de funções e cargos públicos, como assim preceitua a Lei Política do país.
O povo precisa ser respeitado quanto aos seus sentimentos de civilidade, patriotismo e brasilidade, não aceitando que político rejeitado pela Ficha Limpa possa se lançar candidato, porque isso não passa de afronta aos comezinhos princípios da dignidade, legalidade e moralidade, fato esse que se reduziria o Brasil a mera republiqueta de quinta categoria, diante do desprezo aos conceitos essenciais do ordenamento jurídico, que seriam sepultados, em privilégio da sanha descontrolada pela reconquista do poder, apenas como justificativa para a absoluta dominação das classes política e social e da simples retomada do poder, em cristalina demonstração de bestialidade que se justificaria na idade média, diante da ferrenha disputa entre classes sociais.
Os tempos modernos exigem que os homens públicos tenham mentalidade arejada de verdadeiros estadistas, de modo que suas ações contemplem exclusivamente a satisfação do interesse público, com embargo das causas pessoais e partidárias, como parece que é o desejo de se impor candidatura de político implicado com a Justiça, porque isso não condiz com as regras de moralidade, legalidade, dignidade, entre outras que precisam ser observadas nas atividades político-partidárias sérias, responsáveis e evoluídas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 25 de outubro de 2017

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