O
jornal o Estado de São Paulo publicou
reportagem afirmando que dirigentes do PT e interlocutores de seu maior líder procuraram
a família do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas, na
tentativa de obter informações se ele pretendia fechar acordo de delação
premiada, tendo ainda tentado descobrir se ele estaria disposto a mudar de
ideia quanto à colaboração à Justiça.
Segundo
oito fontes muito ligadas ao ex-presidente, PT e ex-ministro ouvidas pelo Estado, dirigentes do partido em Ribeirão
Preto e líderes nacionais da legenda procuraram o pediatra irmão mais velho do
ex-ministro, em busca de informações sobre a possível delação.
Conforme
as referidas fontes, a partir de maio, quando o ex-ministro contratou advogado
especializado em delações, seu irmão deixou de receber os petistas, por terem interpretado
que as negativas de contato indicavam que o irmão estaria incentivando a
delação.
A
reportagem diz que as relações financeiras e societárias do ex-ministro com seu
irmão são objeto de investigações da Lava-Jato, que apura também o sumiço de
livros de registro de transferências de ações do Hospital São Lucas, em
Ribeirão Preto, pertencente ao médico pediátrico.
Antes
de o ex-ministro decidir em colaborar com Justiça, com o fornecimento de
valiosas informações, um ex-prefeito de São Bernardo do Campo, presidente do
diretório estadual do PT e um dos mais próximos aliados do líder-mor, se
encontrou com a mãe do ex-ministro. Fala-se que esse encontro foi realizado por
iniciativa dela, que teria dito que não acreditava que o filho faria delação.
Já
no andamento das negociações entre o ex-ministro e a força-tarefa da Lava-Jato
e isso se tornara público, um deputado federal vice-presidente nacional do PT
se encontrou com a mãe do ex-ministro em uma reunião do partido na cidade onde
ela mora, não tendo, segundo ele, tocado no assunto de delação.
A
mãe do ex-ministro, que é fundadora do partido e membra suplente do diretório
municipal de Ribeirão Preto, sempre foi pessoa muito ativa na militância do
partido, na cidade.
Não obstante, depois que a metralhadora giratória do filho atingiu
em cheio os planos políticos do líder-mor e do PT, a mãe do ex-ministro se
afastou completamente das atividades partidárias, dividida entre a tristeza
pela prisão de seu filho caçula e a fidelidade às suas convicções políticas.
Pessoas
da intimidade do petista disseram que, após as acusações do ex-ministro, quando
ele disse que o ex-presidente teria feito "pacto de sangue" com o empreiteiro dono da Odebrecht, a mãe do
delator mandou mensagem de solidariedade ao seu ídolo, em demonstração de contrariedade
com a opção do filho.
Por
ocasião do depoimento ao juiz da Lava-Jato, o petista fez menção ao referido
assunto, ao afirmar que "Eu fico
pensando como é que está pensando a mãe dele agora, que é militante do PT e
fundadora do PT".
Diante
da enorme decepção com a contundência das acusações, o ex-presidente não
esconde que já esperava a delação de seu ex-escudeiro, mas não se conforma com
o que ele classificou de "mentiras".
O
petista se defende da alegação de assédio, com acusação, ao afirmar que nunca
pediria a alguém que já foi demitido por ele para manusear dinheiro sujo para o
PT ou o Instituto Lula, tendo reforçado sua versão com o relato de história ocorrida
no seu governo, segundo a qual ele disse que o então ministro arrumasse “história convincente” para o episódio do
caseiro, que teve como resposta dele que a história era a publicada nos jornais,
que teria recebido a sentença: "Então
está demitido".
O
Instituto Lula e o PT nacional não comentaram os contatos com a família do
ex-ministro, mas aproveitaram o ensejo para reafirmar que ele mente.
O
dirigente do partido em Ribeirão Preto afirma que, se houve algum contato de petistas
com a família do ex-ministro, foi por iniciativa pessoal e não por decisão
partidária, dando a entender que os contatos realmente aconteceram.
Causa
espécie que as delações contra o PT e seus integrantes têm o condão de causar
tremendo reboliço nas suas bases, a ponto de haver tentativas como essa de se
evitar que elas sejam efetivadas e possam ter reflexo devastador nos seus
planos político-partidários.
Trata-se
de temor que causa perplexidade diante dos fatos denunciados, por terem o poder
de desorganizar e intranquilizar complemente as estruturas do partido e
principalmente as de suas lideranças, em que pesem as reiteradas declarações de
que tudo a que se refere ao funcionamento e às atividades da agremiação tem por
base os princípios da legalidade e da decência, evidentemente em harmonia com o
ordenamento jurídico pátrio.
Nessa
mesma linha também não há justificativa para a preocupação do líder-mor com as
acusações, notadamente porque ele não se cansa de afirmar, com a maior
serenidade, que é a pessoa mais honesta que se possa imaginar na face da Terra,
levando a se acreditar que não basta somente se dizer que as acusações são
fruto de mentiras, porque, se houver provas com relação a elas, há necessidade
da devida contestação e comprovações do contraditório, sabendo que isso se
torna muito fácil, em se tratando que os fatos, nas interpretações dos
acusados, são fruto da invenção que pode implicar na responsabilização criminal
dos delatores, caso eles não consigam provar suas acusações.
Nesse
lamentável episódio, esquecem os petistas, em especial o líder-mor, que a
delação premiada, se devidamente comprovados os fatos informados, podem
contribuir para a antecipação da liberdade do ex-ministro, que morreria na
prisão caso não confessasse os pecados seus, dos ex-amigos e do próprio
partido, porque todos estavam no mesmo barco, quando os crimes foram cometidos.
Veja-se
a que ponto chega a falta de solidariedade entre os petistas, ao se indignarem
com as delações do ex-ministros, que se encontra preso e ficaria eternamente
trancafiado se deixasse no segredo do seu cofre os podres já revelados,
enquanto os comparsas poderiam permanecer soltos, livres, continuando com o
juramento da maior honestidade, ou seja, o silêncio do ex-ministro contribuiria
para ele continuar preso para sempre, em benefício da liberdade de criminoso
igualmente envolvido com a malversação de recursos públicos, que não tem
dignidade para assumir seus deslizes na vida pública.
Os
brasileiros esperam e acreditam que os fatos denunciados sejam devidamente
esclarecidos e justificados, no âmbito da seara jurídica, onde os acusados
precisam demonstrar, não com palavras vazias e destituídas de plausibilidade,
mas com provas convincentes e consistentes, a sua real inocência sobre as
acusações, que se agigantam em gravidade por envolveram autoridades da maior
relevância do país, que sequer deveriam ser citadas em casos de corrupção,
diante do fato de que, ao contrário disso, elas deveriam servir de modelo de
dignidade, lisura, idoneidade, entre outros princípios ínsitos dos homens
públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de outubro de 2017
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