terça-feira, 10 de outubro de 2017

Uma chance à verdade

O jornal o Estado de São Paulo publicou reportagem afirmando que dirigentes do PT e interlocutores de seu maior líder procuraram a família do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos petistas, na tentativa de obter informações se ele pretendia fechar acordo de delação premiada, tendo ainda tentado descobrir se ele estaria disposto a mudar de ideia quanto à colaboração à Justiça.
Segundo oito fontes muito ligadas ao ex-presidente, PT e ex-ministro ouvidas pelo Estado, dirigentes do partido em Ribeirão Preto e líderes nacionais da legenda procuraram o pediatra irmão mais velho do ex-ministro, em busca de informações sobre a possível delação.
Conforme as referidas fontes, a partir de maio, quando o ex-ministro contratou advogado especializado em delações, seu irmão deixou de receber os petistas, por terem interpretado que as negativas de contato indicavam que o irmão estaria incentivando a delação.
A reportagem diz que as relações financeiras e societárias do ex-ministro com seu irmão são objeto de investigações da Lava-Jato, que apura também o sumiço de livros de registro de transferências de ações do Hospital São Lucas, em Ribeirão Preto, pertencente ao médico pediátrico.
Antes de o ex-ministro decidir em colaborar com Justiça, com o fornecimento de valiosas informações, um ex-prefeito de São Bernardo do Campo, presidente do diretório estadual do PT e um dos mais próximos aliados do líder-mor, se encontrou com a mãe do ex-ministro. Fala-se que esse encontro foi realizado por iniciativa dela, que teria dito que não acreditava que o filho faria delação.
Já no andamento das negociações entre o ex-ministro e a força-tarefa da Lava-Jato e isso se tornara público, um deputado federal vice-presidente nacional do PT se encontrou com a mãe do ex-ministro em uma reunião do partido na cidade onde ela mora, não tendo, segundo ele, tocado no assunto de delação.
A mãe do ex-ministro, que é fundadora do partido e membra suplente do diretório municipal de Ribeirão Preto, sempre foi pessoa muito ativa na militância do partido, na cidade.
Não obstante, depois que a metralhadora giratória do filho atingiu em cheio os planos políticos do líder-mor e do PT, a mãe do ex-ministro se afastou completamente das atividades partidárias, dividida entre a tristeza pela prisão de seu filho caçula e a fidelidade às suas convicções políticas.
Pessoas da intimidade do petista disseram que, após as acusações do ex-ministro, quando ele disse que o ex-presidente teria feito "pacto de sangue" com o empreiteiro dono da Odebrecht, a mãe do delator mandou mensagem de solidariedade ao seu ídolo, em demonstração de contrariedade com a opção do filho.
Por ocasião do depoimento ao juiz da Lava-Jato, o petista fez menção ao referido assunto, ao afirmar que "Eu fico pensando como é que está pensando a mãe dele agora, que é militante do PT e fundadora do PT".
Diante da enorme decepção com a contundência das acusações, o ex-presidente não esconde que já esperava a delação de seu ex-escudeiro, mas não se conforma com o que ele classificou de "mentiras".
O petista se defende da alegação de assédio, com acusação, ao afirmar que nunca pediria a alguém que já foi demitido por ele para manusear dinheiro sujo para o PT ou o Instituto Lula, tendo reforçado sua versão com o relato de história ocorrida no seu governo, segundo a qual ele disse que o então ministro arrumasse “história convincente” para o episódio do caseiro, que teve como resposta dele que a história era a publicada nos jornais, que teria recebido a sentença: "Então está demitido".
O Instituto Lula e o PT nacional não comentaram os contatos com a família do ex-ministro, mas aproveitaram o ensejo para reafirmar que ele mente.
O dirigente do partido em Ribeirão Preto afirma que, se houve algum contato de petistas com a família do ex-ministro, foi por iniciativa pessoal e não por decisão partidária, dando a entender que os contatos realmente aconteceram.
Causa espécie que as delações contra o PT e seus integrantes têm o condão de causar tremendo reboliço nas suas bases, a ponto de haver tentativas como essa de se evitar que elas sejam efetivadas e possam ter reflexo devastador nos seus planos político-partidários.
Trata-se de temor que causa perplexidade diante dos fatos denunciados, por terem o poder de desorganizar e intranquilizar complemente as estruturas do partido e principalmente as de suas lideranças, em que pesem as reiteradas declarações de que tudo a que se refere ao funcionamento e às atividades da agremiação tem por base os princípios da legalidade e da decência, evidentemente em harmonia com o ordenamento jurídico pátrio.
Nessa mesma linha também não há justificativa para a preocupação do líder-mor com as acusações, notadamente porque ele não se cansa de afirmar, com a maior serenidade, que é a pessoa mais honesta que se possa imaginar na face da Terra, levando a se acreditar que não basta somente se dizer que as acusações são fruto de mentiras, porque, se houver provas com relação a elas, há necessidade da devida contestação e comprovações do contraditório, sabendo que isso se torna muito fácil, em se tratando que os fatos, nas interpretações dos acusados, são fruto da invenção que pode implicar na responsabilização criminal dos delatores, caso eles não consigam provar suas acusações.
Nesse lamentável episódio, esquecem os petistas, em especial o líder-mor, que a delação premiada, se devidamente comprovados os fatos informados, podem contribuir para a antecipação da liberdade do ex-ministro, que morreria na prisão caso não confessasse os pecados seus, dos ex-amigos e do próprio partido, porque todos estavam no mesmo barco, quando os crimes foram cometidos.
Veja-se a que ponto chega a falta de solidariedade entre os petistas, ao se indignarem com as delações do ex-ministros, que se encontra preso e ficaria eternamente trancafiado se deixasse no segredo do seu cofre os podres já revelados, enquanto os comparsas poderiam permanecer soltos, livres, continuando com o juramento da maior honestidade, ou seja, o silêncio do ex-ministro contribuiria para ele continuar preso para sempre, em benefício da liberdade de criminoso igualmente envolvido com a malversação de recursos públicos, que não tem dignidade para assumir seus deslizes na vida pública.   
Os brasileiros esperam e acreditam que os fatos denunciados sejam devidamente esclarecidos e justificados, no âmbito da seara jurídica, onde os acusados precisam demonstrar, não com palavras vazias e destituídas de plausibilidade, mas com provas convincentes e consistentes, a sua real inocência sobre as acusações, que se agigantam em gravidade por envolveram autoridades da maior relevância do país, que sequer deveriam ser citadas em casos de corrupção, diante do fato de que, ao contrário disso, elas deveriam servir de modelo de dignidade, lisura, idoneidade, entre outros princípios ínsitos dos homens públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 10 de outubro de 2017

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