segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A cegueira do povo

O presidente da Venezuela proclamou a vitória de seu partido nas eleições regionais realizadas no último domingo, com a vitória de 17 estados por candidatos do governo, embora os resultados não foram reconhecidos e estão sendo contestados pela oposição, que, segundo o Conselho Eleitoral, teria vencido em apenas cinco estados.
O presidente disse que se trata de “Vitória clara. O chavismo arrasou nas eleições”, que foi muito celebrada por ele, enquanto se espera o anúncio sobre a conquista do estado de Bolívar, o único que ainda está em disputa, do total de 23.
Em seguida ao anúncio do presidente, o líder da campanha da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) declarou que “neste momento, não reconhecemos nenhum dos resultados. Estamos diante de um momento muito grave para o país”, tendo pedido auditoria geral referente ao processo eleitoral.
O referido líder afirmou que o governo “sabe que não é maioria” e para vencer ele precisou recorrer a “violações de leis e condições abusivas em um processo eleitoral desigual, desequilibrado e cujos resultados não refletem a realidade. Exigimos auditar todo o processo, seu sistema, as digitais (dos eleitores), todo o processo”.
O líder também pediu aos candidatos que organizem “diversas atividades nas ruas em apoio” à MUD, tendo exortado “... o povo venezuelano a lutar para mudar este sistema eleitoral que não é confiável”.
Como o chavismo tinha 20 governos estaduais, a queda para 17 é considerada vitória da situação, à vista de as pesquisas apontarem o favoritismo da oposição, que tinha a possibilidade de vencer em até 18 disputas em caso de alta participação do eleitorado.
O presidente bolivariano já havia criticado o líder da oposição, por advertir, antes da divulgação dos números oficiais, que a oposição tinha “sérias suspeitas, dúvidas, sobre os resultados que serão anunciados”.
O presidente disse que “Alguns dirigentes saíram a cantar fraude (…) Pelo amor de Deus, acatem os resultados transparentes”.
Em um reduto de oposição ao chavismo, as ruas estavam desoladas e em silêncio, sem os habituais “panelaços” de protesto, enquanto grupo de chavistas celebrava na praça ao centro da capital.
Exultante, o presidente festejava afirmando que “O chavismo está vivo, está nas ruas e está triunfante”, embora a sua impopularidade se situe em índice próximo de 80%, segundo o instituto Datanálisis.
Desde a eleição da Constituinte, em 30 de julho, os protestos cessaram, mas o país continua sendo verdadeira panela de pressão, por se encontrar mergulhado em hiperinflação, com severa escassez de alimentos e remédios, além de vertiginosa queda do PIB que, segundo o FMI, será de 12% este ano.
À toda evidência, o resultado da votação na Venezuela não pode ser sério e muito menos refletir o real estado de degradação da administração daquele país, que atravessa gravíssimas crises moral, social, política, econômica, administrativa, entre outras que simplesmente sinalizam para o coas, a completa desestruturação gerencial, em termos socioeconômicos, e a esmagadora vitória do chavismo não passa de indiscutível afronta à dignidade humana, por contradizer o real sentido das condições humanas de seu povo, que enfrenta enformes dificuldades com as privações não somente de alimentos e remédios, mas também das liberdades individuais, mais especificamente dos direitos humanos e dos princípios democráticos.
Não há a menor dúvida de que o resultado das urnas não passa de gigantesca fraude eleitoral, porque o partido comandado pelo presidente que tem quase 80% de rejeição jamais teria condições de sair vitorioso, de forma acachapante, com a vitória em 80% dos estados, a se considerar que os candidatos eleitos da situação foram indicados pelo mandatário desprestigiado e refutado pela expressiva parcela da população, que vem sofrendo barbaridade sob os efeitos da incompetência governamental, à vista do desabastecimento de alimentos, remédios e produtos de primeira necessidade, fato esse que vem causando sérios transtornos à vida dos venezuelanos.
De qualquer modo, caso o resultado das urnas seja confirmado como verdadeiro, tem-se que parabenizar, de forma com efusiva, as extremas ignorância e burrice dos venezuelanos, exatamente por respaldar, de forma voluntária, a continuidade de seu brutal martírio, tendo em vista que essa eleição teria sido excelente oportunidade para o povo mostrar a sua indignação e o seu repúdio à tirania de governo cruel e desumano.
Por sua vez, caso seja verdadeiro e lícito o resultado anunciado das urnas, pelo próprio presidente, apenas se confirma o sábio, porém surrado ditado de que "o povo tem o governo que merece".
Não obstante, em se tratando de governo com viés socialista, não se poderia imaginar que houvesse resultado diferente, considerando que o totalitarismo estatal jamais aceitaria ser derrotado, à vista do seu absoluto poder de manipulação, que é própria dos regimes socialistas/comunistas, que é o caso da Venezuela.
Pobre povo desse país, que mesmo sendo submetido aos rigores da amargura e da dor, em razão dos maus-tratos pelo governo tirânico e desumano, ainda tem a magnanimidade de apoiar os candidatos indicados por ele, em cristalina demonstração de extrema subserviência, absolutamente inadmissível, na sociedade moderna. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 16 de outubro de 2017

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