Decidido
a resolver sua situação perante o partido que tem seu nome na ata de criação, o
ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil e homem forte dos governos do PT, enviou
à presidente da legenda carta oferecendo sua desfiliação, sem antes fazer duríssimo
relato pessoal, em tom emotivo, sobre o “acúmulo
de eventos de corrupção” que teria ocorrido nos aludidos governos.
Ele
foi capaz de causar verdadeiro “hecatombe” no seio do partido, ao dizer algo
inacreditável, com a maior frieza, que viu “Lula
dissociou-se definitivamente do menino retirante para navegar no terreno
pantanoso do sucesso sem crítica, do tudo pode, do poder sem limites, onde a
corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam são apenas detalhes no
cenário entorpecido dos petrodólares”.
O
ex-ministro disse que o partido se confunde com uma seita, ao indagar: “Afinal, somos
um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou uma seita
guiada por uma pretensa divindade?”. O ex-ministro também perguntou até
quando o partido acreditaria no discurso do ex-presidente de que é “o homem mais honesto do país”, como
assim ele se autoproclama.
Os
supostos pedidos de propinas à Odebrecht foram narrados com riqueza de
detalhes, inclusive com relação ao caso que aconteceu na biblioteca do Palácio
da Alvorada, tendo ressaltado que o político tenta transferir a
responsabilidade por ilegalidades, que é dele, à ex-primeira-dama, morta no
início do ano, a par de ter dito que a ex-presidente conseguiu destruir
programas sociais e a economia e que o PT precisa fazer acordo de leniência, se
pretender se reconstruir.
O
ex-ministro também acusa o PT de punir somente quem ataca o partido e seu líder
máximo e de ignorar denúncias de corrupção, jogando-as para debaixo do tapete,
dando a entender que não interessa conhecer a verdade sobre elas.
Finalizando
a carta, o ex-ministro deposita nas mãos da presidente do partido a decisão
sobre sua desfiliação da agremiação, que o teria suspendido por 60 dias,
enquanto aguarda a decisão da expulsão dele por conta do diretório do PT de
Ribeirão Preto (SP).
A
defesa do político disse que o acusador voltou a dizer “mentiras” contra o ex-presidente, com o objetivo de fechar
colaboração à Justiça.
A
presidente do partido respondeu com dureza as acusações feitas ao líder-mor, ao
afirmar que o ex-ministro mente para se livrar da condenação de prisão por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tendo dito que “Política e moralmente, Palocci já está fora do PT”.
É
risível que a presidente do PT chega a questionar, somente agora, a
credibilidade do delator, sob a alegação de que ele diz o contrário do que
dizia à Justiça, pouco tempo atrás, tendo mudado de ideia com o objetivo de
fechar delação e indaga: “Em qual Palocci
se deve acreditar: no que diz ter mentido antes ou no que mudou de versão agora
para se salvar?”.
Como
a carta faz fortes e graves acusações ao líder-mor, a presidente do partido
afirma que o ex-ministro age com “fraqueza
de caráter”, tendo dito que a mensagem “não
se destina ao PT, mas aos procuradores da Lava-Jato. É a mensagem de um
condenado que desistiu de se defender e quer fechar negócio com o MPF,
oferecendo mentiras em troca de benefícios penais e financeiros.”.
A
ex-presidente da República petista reafirmou que o ex-ministro “falta com a verdade” quando aponta sua
participação em “supostas reuniões para
tratar de facilidades” à Odebrecht.
Fica
bem evidente que as tratativas e as manobras destinadas à expulsão do
ex-ministro do partido propiciaram vastíssimos campos para ele usasse a sua
verve de bom estrategista para destilar o que de pior pode existir para os
petistas, qual seja, a verdade, que tem sido incômoda para os planos do partido
e de seu maior líder.
Não
há a menor dúvida de que as tentativas de punições internas ao ex-ministro funcionaram
como verdadeiro “tiro no pé”, pelo fato de se oferecer-lhe azo para ele expor
os malfeitos do político maior e do partido.
Pouco
adianta a cúpula petista se esforçar na alegação de que tudo não passa de
mentiras, se o ex-ministro conseguir provar, com elementos contundentes e
robustos, os fatos por ele alegados, que é condição sine qua non para que ele possa realmente se beneficiar da redução
de pena, justamente por ter colaborado com a Justiça, com vistas à realização
de novas investigações ou a confirmação de fatos já do conhecimento dela.
Como
corolário, o que significaria para o ex-ministro, em termos de benefício, na
forma de redução de pena, se os fatos por ele denunciados não tivessem como comprovar
que eles realmente ocorreram? É evidente que o ex-ministro não é ingênuo de
provocar seu ex-ídolo com vara curta, porque não faria o menor sentido que ele
apenas revelasse os podres pelo simples fato de expor as ilicitudes e irregularidades
praticadas por ambos, sem qualquer recompensa, senão visando benefício em termos
de antecipação da liberdade, que seria praticamente impossível de outra forma, ante
a pletora de quantidade de crimes cuja autoria lhe é atribuída.
A
avaliação que se pode fazer dos termos da carta em epígrafe é a de que, se comparados
e sopesados os fatos vindos à baila, não resta a menor dúvida de que se trata
de elemento complicador a dificultar sobremodo a participação do petista-mor na
próxima corrida presidencial, por ser ataque direto e certeiro nos planos
políticos dele, exatamente porque o petardo se origina de pessoa da intimidade
ambientada nas cozinhas do político e do partido, ficando muito difícil
contestação somente por meio de argumentos que não conseguiram convencer o juiz
da Lava-Jato, no processo do tríplex.
Diante
da complexa confusão envolvendo a decência com relação às
atividades do principal líder petista e da própria agremiação, com a revelação
de fatos irregulares com forte poder de verossimilhança capaz de destruir as estruturas
éticas e morais dos envolvidos, é estranhíssimo que o partido não cogite em
sequer saber, por meio de investigações, se as acusações contundentes e demolidoras
são verdadeiras ou não, dando veracidade à alegação do delator de que a
agremiação ignora as “denúncias de
corrupção”, fato este que depõe contra os princípios da dignidade e da
moralidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 4 de outubro de 2017
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