domingo, 15 de outubro de 2017

A perda da decência

Um juiz da Justiça Federal de Brasília concedeu liminar que impede a votação secreta, no Senado Federal, com relação ao caso do afastamento do mandato do senador tucano mineiro, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal.
A determinação causou irritação ao comando da Mesa Diretora do Senado Federal, que já fala em sequer receber a notificação sobre a decisão do juiz, porque parlamentares acusaram o Poder Judiciário de mais uma vez interferir nas competências do Poder Legislativo e criticaram o fato de juiz de primeira instância "palpitar" sobre questões internas do Parlamento.
Acontece que aliados do senador mineiro defendem que a votação em apreço seja sigilosa, obviamente para facilitar resultado favorável ao tucano e se evitar o desgaste natural perante a opinião pública, quando se sabe que o resultado dela pode salvar a pele de corrupto que tem a rejeição da sociedade.
Se for mantida a decisão judicial, ela tende a dificultar os planos do senador mineiro e contribuir para desequilibrar a balança, que pendia em favor dele, caso a votação seja secreta, porque os senadores não têm dignidade para mostrar como age na vida pública, salvo aqueles que já respondem na justiça como réus e precisam da solidariedade daqueles que estão no mesmo barco.
Um senador mostrou sua irritação, ao saber da decisão do juiz, ao afirmar que “Desde quando juiz de primeira instância decide sobre o Poder Legislativo? Todos nós devemos respeitar a independência entre os poderes e a Constituição. Não vamos nem receber (a decisão do juiz)”.
Na decisão, o juiz afirma que "Tenho que efetivamente a adoção de votação sigilosa configuraria ato lesivo à moralidade administrativa, razão pela qual defiro a liminar para determinar que o Senado Federal se abstenha de adotar sigilo nas votações referentes à apreciação das medidas cautelares aplicadas ao Senador Aécio Neves".
Interlocutores do senador mineiro afirmaram que, nos últimos dias, ele tem mostrado muito pessimismo, diante da possibilidade de resultado negativo, em razão de as últimas votações no Senado e decisões do Supremo não terem sido favoráveis aos seus pleitos.
A situação do tucano ficou fragilizada com a decisão do PT de fechar questão contra seu retorno ao mandato, quando antes ele se declarou em apoio à liberdade dele.
A esperança dos aliados do senador mineiro é pela votação secreta, que poderia até contar com o apoio de senadores da oposição, mas com o recuo petista, a situação se complicou com a perda significativa de pelo menos nove votos, fato esse que ainda contribui para convencer votos da oposição contrários às pretensões do senador.
A situação do senador afastado poderá se complicar se ele não conseguir o apoio de pelo menos 41 votos a seu favor, com o que a suspensão das medidas cautelares da Primeira Turma do Supremo continua tendo validade e ele poderá ficar afastado do mandato por tempo indeterminado, sem embargo de ainda ter que responder a representação no Conselho de Ética do Senado, conforme processo aberto pelo PT, por quebra de decoro, que pode, aí sim, resultar na cassação de seu mandato, que seria a medida mais compatível com a situação de quem pratica grave ato de corrupção, que constitui crime pela quebra do decoro parlamentar.
O exame da situação do senador mineiro se apresenta como excelente teste para os senadores mostrarem ao país que o Senado tem também homens honrados e não compactuam com ato de desonestidade e indignidade, como o que fez o tucano, que perdeu o direito de integrar importante instituição da República e de representar o povo, justamente por ter menosprezado os princípios republicano e democrático da decência e da honradez.  
Os senadores precisam se conscientizar de que será grande erro não enxergar que a pratica da quebra do decoro parlamentar não condiz com a dignidade da Câmara Alta, além de ficar consignado a índole corporativista por parte daqueles que votarem em apoio à permanência de corrupto no seio da instituição que precisa urgentemente de limpeza ética e moral, diante da quantidade inadmissível de senadores já implicados na Justiça, também sob suspeita da pratica de corrupção. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 15 de outubro de 2017

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