quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Ardilosa armação?

Após superado o afastamento do mandato pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, por suspeita da prática do crime de corrupção passiva, o senador tucano mineiro retomou ao Senado Federal, depois de ter sido reintegrado às atividades legislativas, por força do resultado da votação favorável de 44 senadores, sendo que 19 destes estão implicados na Justiça, também sob suspeita de envolvimento com atos de corrupção.
Sem citar nomes, o senador mineiro acusou os donos do grupo J&F, ao afirmar que eles se enriquecerem “às custas do dinheiro público” e que “não tiveram qualquer constrangimento em acusar pessoas de bem na busca de um benefício de um inaceitável acordo de delação. O que é mais grave, contribuíram para essa trama homens de Estado, alguns tinham assento até muito pouco tempo na PGR”.
O senador afirmou que, aos poucos, considera que “parte da verdade está vindo à tona” e que “novos depoimentos, gravações que haviam sido omitidas, vão dando contorno claro às razões que levaram a essa construção criminosa. Irei trabalhar a cada dia, a cada instante, para provar a minha inocência.”.
O tucano disse que “Venho acompanhado da serenidade de homens de bem. Minha história é digna de dedicação, ao longo de 40 anos, aos mineiros e ao Brasil. Estarei pronto para o debate franco e da minha parte sempre de forma respeitosa”.
Ele declarou que "Será no exercício do meu mandato que irei me defender das acusações absurdas e falsas que tenho sido alvo. Vítima de uma ardilosa armação, uma criminosa armação".
É estarrecedor que político que exerce relevante cargo de senador da República tenha a indignidade de se envolver em caso suspeito de irregularidade, mediante o recebimento, às claras, de propina, seja afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal, em razão desse fato vergonhoso, e consiga retomar o mandato por meio de medida extremamente questionável, por envolver o desprezível corporativismo, que funcionou ativamente no caso dele, mas ainda tem o despautério de se achar vitimo de "empresários inescrupulosos", que aprontaram ardilosa e criminosa armação, quando foi o próprio parlamentar que se beneficiou ao receber mala recheada de dinheiro sujo, sob a fajuta e deprimente justificativa de empréstimo de dinheiro, exatamente concedido por pessoas sem escrúpulos, dando a entender que ele é pessoa honrada e digna, nesse imbróglio.
Trata-se de político que demonstra ausência de sensatez e caráter, por se envolver em situação nebulosa, escandalosa, mas, ao invés de reconhecer e assumir seus gravíssimos erros, como é dever dos homens honrados, dignos e de bem, prefere acusar justamente aqueles que lhe beneficiaram com o dinheiro da propina, como se eles o obrigassem a recebê-la e, por via de consequência, a participar da “ardilosa armação”.
À roda evidência, o que o tucano chama de “ardilosa armação” jamais teria existido se ele e a irmã não tivessem procurado o empresário da JBS, à procura de “empréstimo” fácil, em forma de propina repassada por meio de mala filmada pela Polícia Federal, com destinação a um senador da República.
É inacreditável como o homem público não tem o mínimo pudor para perceber o grau da desmoralização causada pela divulgação, de forma reiterada, nos meios de comunicação, de vídeos e áudios mostrando, em detalhes, as negociatas e o dinheiro enlameado da mala, que tanta repugnância causaram às pessoas honradas e dignas.
O posicionamento firmado pelo político mineiro, de se julgar de vítima, como se ele fosse o bom-moço e inocente, apenas deixa patente o nível dos homens públicos tupiniquins, que, à unanimidade, negam a autoria de atos visivelmente irregulares e incompatíveis com o exercício de cargos públicos eletivos, justamente porque somente seus pares acreditam na sua inocência, a exemplo da demonstração de apoio dada ele pela maioria dos senadores que restabeleceram o mandato dele, que havia sido suspenso pela 1ª Turma do Supremo.
A grandeza do  Brasil não merece políticos dessa estirpe, que não tem o mínimo pudor nem sensibilidade para reconhecer a gravidade de falha como a que foi praticada pelo senador mineiro, à vista da comprovação material dos fatos, que são absolutamente injustificáveis e imperdoáveis, nas circunstâncias, a ensejarem não somente o afastamento, em definitivo, dele do importante cargo de senador da República, mas também da vida pública, para que esse episódio sirva de especial lição para as atuais e futuras gerações se espelharem nele para procederem exatamente de forma contrária ao que ele fez de indiscutível desprezo aos salutares princípios republicanos da ética, da moral, do decoro, da dignidade, da honorabilidade e de tudo mais que se harmonize com a decência e a idoneidade na vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de outubro de 2017

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