terça-feira, 24 de outubro de 2017

Bem bolada estratégia

O líder-mor do PT, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, disse que os eleitores da ex-presidente afastada teriam considerado que ela os traiu, ao promover o ajuste fiscal, por se tratar de medida contrária à promessa feita por ela, na última campanha presidencial, de manter as despesas.
No entender do ex-presidente, esse foi o segundo erro da então presidente, que já teria praticado falha maior, com a desastrada política de desoneração das folhas de pagamento das empresas, quando, no dizer dele: "Começamos a perder credibilidade. O ano de 2015 foi muito semelhante ao de 1999, quando FHC teve uma popularidade de 8% e o Brasil quebrou três vezes. Mas o presidente da Câmara era Michel Temer e ele o ajudou. Nós tivemos o Eduardo Cunha.".
Na entrevista, publicada no último domingo, o petista disse ter certeza de que, assim como ele, a ex-presidente pensa que ele deveria ter concorrido em seu lugar, nas eleições de 2014.
Ao responder se estava arrependido por não ter disputado, o político disse que não, porque foi leal à ex-presidente e que "Ela tinha direito de ser reeleita. Mas eu pensei nisso muitas vezes e eu sei que Dilma também. O que acontece é que eu não sou o tipo de pessoa que se arrepende".
Ao ser questionado sobre a hipótese de não concorrer na próxima eleição, o petista disse que espera disputar a Presidência, mas que "ninguém é imprescindível. Existem milhares de Lulas.".
O ex-presidente falou ainda sobre o seu ex-ministro da Fazenda, que negocia acordo de delação premiada com a Lava-Jato e afirmou, em depoimento ao juiz de Curitiba, que o ex-presidente avalizou "pacto de sangue" com a Odebrecht, por supostas propinas repassadas ao PT.
O petista afirmou que o ex-ministro teria feito delação premiada sob pressão e que a única verdade em seu depoimento foi a de ter reconhecido que ele buscava o benefício da lei.
Assiste plena razão ao petista, ao afirmar que o ex-ministro busca, sob pressão ou não, o benefício da lei, quanto à possível redução de penas, mas isso somente se torna possível, por óbvio, se os fatos revelados conterem fundo de verdade, que parece que seja o caso, diante do estrebucho não somente, em especial, do líder-mor, mas também das lideranças do partido, que procuraram desacreditar as delações do ex-ministro, o tachando de mentiroso e outras desqualificações improváveis ainda enquanto ele se mantinha de boca fechada, em preservação da integridade de todos, quando era tido como o homem de ouro do partido.
Já em plena campanha política à Presidência da República, o petista, muito espertamente, saca essa brilhante estratégia de se atribuir exclusivamente à sua pupila a culpa por graves erros na gestão dela, que tem fortes impacto e implicação com o próprio partido e com ele, por ser a fiadora e herdeira eleitoral dele, que deveria ter evitado causar imperdoável destruição da economia brasileira.
Ao afirmar que a ex-presidente teria sido considerada traidora pelos eleitores dela, o político dá golpe certeiro em prol de suas pretensões políticas, na tentativa de se desvencilhar das lambanças da sua afilhada política, que chegou a ser tachada a pior presidente da história republicana, cujo título foi repassado para outro fracassado, o atual mandatário do país, que teve a sorte de reverter a tragédia econômica atribuída à petista.
Não obstante, muitos especialistas político-econômicos entendem que a ex-presidente não só traiu seus eleitores, fato esse agora lembrado pelo líder maior do partido, como também foi capaz de aplicar verdadeiro calote eleitoral neles, por ter assegurado, na ocasião, que as contas públicas se encontravam sadias e o país estaria preparado para a retomada do crescimento.
Ao contrário disso, o que se viu mesmo foi o colapso total, representado pelos rombo dos orçamentos públicos, crescimento incontrolável do desemprego, juros altos, aumento vertiginoso das dívidas públicas, pelas falta de investimentos em obras públicas, recessão econômica, queda da arrecadação, inflação de dois dígitos, desindustrialização, perda do grau de investimento do Brasil, pelas agências de classificação de risco, entre outras mazelas que contribuíram para a opinião pública desacreditar completamente no governo petista, cuja ápice do desgoverno resultou na defenestrada da presidente pelas portas do fundo do Palácio do Planalto.
Não há dúvida de que essa revelação inoportuna contra a ex-presidente tem a marca da estratégia da raposa política, dando claro aceno de que trabalha pelo distanciamento dela sua campanha eleitoral ao Palácio do Planalto, para que ninguém alegue que ele estava por trás do governo símbolo da incompetência e das precariedades, evidentemente como forma de mostrar que ela estaria fora de seu possível governo.
Os brasileiros precisam avaliar a personalidade dos homens públicos e suas ideologias, principalmente na proximidade das eleições, porque muitos são capazes de ignorar as velhas amizades, na tentativa de tirar proveito político, a exemplo da afirmação em comento, que não passa de bem bolada estratégia para afastar de seu caminho pessoa indesejável, cuja companhia poderia atrapalhar seus planos político-eleitorais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 24 de outubro de 2017

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