terça-feira, 19 de setembro de 2023

Somente argumentação?

 

Conforme vídeo que circula na internet, um parlamentar discursa entusiasmado em defesa do governo anterior ao atual, afirmando que o mandatário teria acertado nas medidas adotadas no combate à Covid-19, à luz de decisões adotadas, agora, por outros países, conquanto à época não existiam estudos acerca de muitos fatos, como têm agora e isso ajuda à definição de situações que eram tratadas apenas sob formas intuitivas e sem a devida segurança.

É sempre muito perigoso se levar emocionalmente por discursos tendenciosos, visivelmente destinados normalmente a tentar justificar o injustificável, como o que aconteceu no combate à Covid-19, no Brasil, em que preponderava a improvisação.

Conforme se percebe no discurso do deputado visto no vídeo, ele tenta mostrar os acertos do posicionamento do governo brasileiro, no combate à pandemia do coronavírus, que foram rechaçados, à época, pela comunidade científica e parte da sociedade, exatamente por terem por base apenas o desejo de contribuição para resolver a crise.

O parlamentar aponta o reconhecimento de outros governos estrangeiros por erros causados por meio da imunização da população, com o emprego das vacinas.

Ele também aproveita o ensejo para condenar a imprensa e a oposição, que tanto recriminaram as atitudes do governo, tendo inclusive o classificado de genocida e negacionista.

A verdade precisa ser realmente analisada à luz dos fatos e estes são muito claros, no sentido de se permitir ampla avaliação do desempenho do governo brasileiro perante o combate à Covid-19, quando o ex-presidente, sem nenhum conhecimento de medicina nem de sanitarismo, ou veja, sem qualquer especialização em saúde pública, simplesmente se arvorou a receitar a aplicação de medicamento para a cura da doença, a negar a existência desta, recriminando as pessoas que ficavam em casa, inclusive qualificando-as de maricas, por terem medo de “gripezinha”, além de negar, com insistência, a eficácia das vacinas, tanto que sequer ele a tomou, contrariando as orientações oficiais do próprio governo.

Ou seja, tem-se aí um somatório de atividades absolutamente contrárias à liturgia do verdadeiro estadista, que jamais poderia ter liderado tantos procedimentos à margem da competência do órgão próprio do governo, incumbido da execução das políticas de saúde pública.

Além dessas arbitrariedades, evidentemente praticadas por pessoa leiga, o combate à Covid-19 se deu exatamente na maneira minimamente aceitável e recomendável, não faltando o que era considerado necessário para as despesas e as medidas pertinentes.

Não obstante, a pandemia exigia medidas revolucionárias, como se o Brasil estivesse em estado de guerra para a salvação de vidas, que morreram aos montes, em razão da insensibilidade, da insensatez, da incompetência, da desumanidade e da irresponsabilidade, exatamente porque havia o prazer mórbido de se pretender contrariar as práticas e as orientações técnico-científicas, com a intromissão autoritária e ditatorial de querer ditar normas de conduta e desrespeitar outras tantas aplicáveis à espécie.

A boa lição do administrador público tem como primado o bom senso e a razoabilidade em todos os atos visando tão somente à satisfação do interesse público.

Com base nesse princípio, competia ao então presidente do país, diante da gravíssima crise da saúde pública, conduzir apenas as medidas que estivessem sob o seu alcance como estadista, no sentido de prestar completo apoio ao principal órgão do governo com competência constitucional para a execução das políticas de saúde pública, determinar a urgência de estudos técnico-científicos sobre a recomendação de medidas necessárias ao combate à doença e também sobre o emprego de medicamentos, além de outras providências necessárias ao combate à Covid-19.

Tudo isso é para dizer que o mais grave erro do ex-presidente foi ele ter se metido onde a sua participação deu tudo desencontrado, somente causando os piores transtornos, não havendo absolutamente nada que possa ser atribuído à sua contribuição como sendo benéfica ao combate à pandemia do coronavírus.

Enfim, convém se afirmar que não há qualquer cabimento se invocar exemplos de medidas praticadas com sucesso em outros países, para servirem de modelo para justificar as possíveis irracionalidades e grosserias implantadas no Brasil, as quais certamente contribuíram de forma expressiva para a inadmissível quantidade de mortes, que, com certeza, não seriam tantas se tivessem sido observados, mesmo que minimamente, os elementares princípios da sensibilidade, da sensatez, do humanismo, da competência e da responsabilidade.

A verdade salta aos olhos, quando se faz o balanço do combate à pandemia do coronavírus, em que a figura do ex-presidente do país sobressai como o mais importante vilão, quando, ao contrário, ele teria todos os requisitos para se tornar herói nacional, caso ele tivesse tido desempenho ao mínimo de sensibilidade e humanidade, no combate à Covid-19, que estaria na sua obrigação, em sintonia com a liturgia do verdadeiro estadista.

Enfim, é extremamente lamentável que a ideologia somente consiga enxergar os fatos que lhe interessa e procuram servir de justificativa para os deploráveis desvios de conduta, quando eles são visíveis e contribuíram para aumentar a mortalidade de brasileiros, infelizmente.

Brasília, em 19 de setembro de 2023

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