sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Apenas delírio?

O engenheiro da Odebrecht, responsável pelas obras do sítio em Atibaia, atribuído pelo Ministério Público ao ex-presidente da República petista, fez entrega ao juiz responsável pela Operação Lava-Jato de planilhas pertinentes aos pagamentos do departamento de propinas da empreiteira, no valor de R$ 700 mil, para custear as questionadas reformas no imóvel.
Um dos 77 delatores da construtora alegou que, para pedir os valores destinados à reforma do referido imóvel, mantinha contato com a secretária do setor de operações estruturadas – departamento de propinas. A secretária passava ao engenheiro a senha que deveria ser dita ao entregador do dinheiro.
Em delação premiada, o engenheiro disse que “Eu liguei para ela e pedi os 500 mil. Como eu nunca tinha manejado em uma obra uma soma dessa natureza, eu comprei um cofre especificamente e coloquei dentro de um armário na minha sala, dentro do meu escritório”.
Após acessar o Drousys, sistema do departamento de propinas da Odebrecht, a defesa do engenheiro relatou ao juiz responsável pela Lava-Jato que encontrou registros de pagamentos do valor de R$ 700 mil, para o sítio.
Segundo os advogados, “a entrega dos valores foi realizada no escritório do Aquapolo, obra de saneamento localizada na Região do ABC Paulista, onde o colaborador à época trabalhava”.
Além das planilhas, o engenheiro ainda entregou à Operação Lava-Jato notas fiscais referentes aos gastos que ele teve para implementar as obras do sítio.
O Ministério Público Federal sustenta, com base nas investigações realizadas, que as reformas bancadas pela Odebrecht e a OAS atingiram o valor de R$ 1 milhão, cujas despesas foram pagas com dinheiro de propinas.
O advogado de defesa do ex-presidente disse que “O delírio acusatório do MPF chegou ao absurdo de querer usar uma planilha sem nenhuma referência ao ex-Presidente Lula, mas sim a um projeto chamado ‘Aquapolo’, envolvendo a Sabesp – empresa ligada ao Governo do Estado de São Paulo -, como ‘prova’ do pagamento de valores da Odebrecht para obras em um sítio localizado em Atibaia (SP). Ou seja, não há qualquer conexão entre a planilha e o ex-Presidente Lula e o sítio de Atibaia. O documento, além de não ter qualquer valor probatório contra Lula, reforça que os fatos discutidos na ação não têm relação com os 7 contratos da Petrobras fundamentam a acusação, e, consequentemente, com a Operação Lava Jato. Reforça, ainda, que essa acusação não se baseia em provas, mas sim no mau uso da lei para fins de perseguição política contra Lula, prática conhecida como ‘lawfare’. Lula não é e jamais foi proprietário de um sítio em Atibaia e também jamais recebeu qualquer valor proveniente de atos ilícitos envolvendo a Odebrecht e a Petrobras.”.
Como é difícil deixar de não acreditar que as reformas do sítio em questão não estejam relacionadas a alguém tão importante no cenário nacional, não somente diante das evidências representadas pelas planilhas, delações e testemunhas, mas por materiais, roupas e objetos pessoais encontrados no sítio objeto das reformas.
O exemplo mais marcante é a adega transferida do Palácio da Alvorada, em Brasília, para o sítio, entre outras provas incontestáveis, que são capazes de materializar a relação das empreiteiras com o maior político brasileiro, que até teria sido informado pelo dono da Odebrecht, em tom de "surpresa", que as obras daquele imóvel estariam prontas, na forma combinada.
Há, nos fatos, muita contundência sobre a promiscuidade entre os empresários responsáveis pelas obras, realizadas sob o ônus deles, e alguém que tinha, à época, plenos poder e influência na estrutura do governo, inclusive com relação a contratos celebrados pela Petrobras, de onde se originaram os questionados recursos patrocinadores das malsinadas reformas, que, a bem da verdade, jamais serias feitas simplesmente para agradar pessoa sem qualquer importância para os empresários, no caso, o real proprietário do sítio, que ia lá esporadicamente, apenas como convidado, eis que, segundo registros informados pela Presidência da República, os seguranças do ex-presidente do país foram lá mais de cem vezes, antes do escândalo vir à tona, o que pode demonstrar a estreita relação do acusado com o imóvel.
Realmente, trata-se de delírio não acreditar que as empreiteiras tivessem gasto tanto dinheiro em reforma de sítio, perdido no meio do mato, sem que elas não tivessem interessadas em se beneficiar por custa desse "gracioso" investimento, totalmente a fundo perdido, conforme consta das investigações, quanto mais como se sabe da verdadeira índole de seus proprietários, que sempre visavam à recompensa sobre as suas doações aos políticos e partidos, justamente em forma de contratos com a administração pública, conforme o exemplo clássico do escândalo conhecido como o petrolão.
Os brasileiros esperam, com a maior ansiedade, que os fatos relacionados com o sítio em causa sejam devidamente esclarecidos, de modo que o principal alvo das investigações consiga provar a sua inocência, evidentemente por meio de elementos juridicamente válidos, uma vez que a mera negação de que nada prova a sua participação no caso, apenas por dizer que não é proprietário do imóvel ou outras afirmações sem plausibilidade, não têm o condão de provar absolutamente nada na Justiça, que julga com base em provas materiais e outras legalmente válidas, quando se sabe que fatos ilícitos não deixam rastro e muito menos registros sobre a sua existência ou a participação dos interessados nas transações sob suspeitas, como pode ser o caso em comento. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 1º de dezembro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário