segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O nojo à classe política

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) reuniu-se em Brasília para oficializar o nome do governador de São Paulo como presidente da sigla, pelo próximo biênio.
No discurso, o novo presidente reforçou amplo apoio às reformas política, tributária e da previdência, dizendo que "Já passou a hora de tirar o peso desse estado ineficiente das costas dos trabalhadores e dos empreendedores".
Em outro trecho do discurso, o governador atacou o PT e o seu possível concorrente, o ex-presidente da República petista, o candidato da esquerda, tendo afirmado que está "superpreparado: Vai ser um bom tira-teima. Nós os derrotaremos nas urnas. Lula será condenado nas urnas pela maior recessão da história.".
A crítica ao PT teve o endosso do ex-presidente tucano, que admitiu o desencantamento da população com os políticos tradicionais, dizendo que "Eles estão enojados e irritados com todos nós".
O ex-presidente argumentou, ainda, que o PSDB errou por omissão diante das crises e que tem o dever de "ouvir o povo", tendo afirmado, sobre o ex-presidente petista, que prefere não o ver na prisão: "Eu venci o Lula duas vezes. Prefiro combatê-lo na urna a vê-lo na cadeia".
Um senador tucano disse que é preciso mudar a política de maneira geral, porque, na sua ótica, "A população está reprovando tudo que está aí e nós temos que mudar".
Não há a menor dúvida de que o povo exige mudanças drásticas na política, que se encontra falida nos seus princípios fundamentais, mas a verdade é que esse sentimento de mudanças fica restrito às convenções e aos congressos dos partidos, conquanto, na prática, ninguém se apresenta com propostas passíveis de transformação em realidade, no sentido de atender aos anseios da sociedade, que permanece em total distanciamento da discussão sobre os temas pertinentes às pretendidas mudanças que levem à modernidade político-eleitoral.
É preciso se atentar a degradante situação política tem origem, na sua essência, no âmbito da classe política, que transformou as salutares atividades e os princípios políticos em instrumentos em seu exclusivo benefício, em detrimento do interesse do Estado e da população.
Por seu turno, parece muito estranho e ridículo homem público preferir enfrentar, nas urnas, alguém condenado à prisão, por crimes afrontosos aos princípios da administração pública.
Enquanto a sentença condenatória não for tornada inócua pela Justiça, evidenciando a inculpabilidade do envolvido, é absolutamente inconcebível não se propugnar pela prisão o quanto antes, porque não faz sentido que político condenado possa sequer se apresentar como possível representante do povo, que, como foi dito, há verdadeiro nojo, em razão da sujeira impregnada nos políticos que ainda defendem a possibilidade de condenado à prisão puder se candidatar.
Trata-se de cristalina inversão dos princípios republicanos, que exigem que o homem público precisa mostrar idoneidade, conduta moral exemplar e muita dignidade, em termos de compatibilização com o princípio da Ficha Limpa, para representar, à altura, o povo, que não aceita mais que homens públicos maculados sequer por suspeita da prática de atos irregulares, quanto mais ainda podendo se candidatar antes de provar a sua inculpabilidade sobre as denúncias cuja autoria dos fatos inquinados lhe é atribuída.
Que país é esse que a velharia política ainda se mantém presa aos ranços das políticas ultrapassadas, retrógradas, quando deveria ter bom senso e sensatez para propugnar por mudanças capazes de contribuir para o aperfeiçoamento e a modernização do já falido sistema político-eleitoral?
Convém que haja a aprovação de mecanismos atualizados de moralização, especialmente no sentido de que seja obrigado que ninguém terá direito de sequer imaginar em representar a vontade do povo se tiver, no seu histórico político, a mínima suspeita sobre a prática de irregularidade na vida pública e muito mais se já estiver implicado com a Justiça, em termos de condenação e denúncias referentes à prática de irregularidades, porque isso é absolutamente incompatível com os princípios morais e de dignidade da República e da democracia representativa.
O povo realmente tem nojo da classe política, principalmente dos homens públicos que continuam concitando pessoa condenada à prisão puder concorrer a cargo público eletivo, quando deveriam propugnar por que ela tivesse a dignidade de, antes, provar a sua inocência, como forma primacial de prestação de contas à sociedade com relação às suas atividades públicas, à vista da exigência que se impõe sobre a observância das regras básicas de conduta pública, entre as quais a de que é absolutamente impensável que alguém possa permanecer na vida pública enquanto estiver sendo suspeito de envolvimento na prática de atos irregulares, ficando liberado para tanto somente depois de ficar comprovada, pelos meios juridicamente válidos, a sua inculpabilidade atestada pela Justiça. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 18 de dezembro de 2017

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