domingo, 3 de dezembro de 2017

A evidência da insensibilidade

Segundo anúncio feito por seu vice-presidente, o presidente de Venezuela tentará a reeleição no próximo ano, nestes termos: “vamos ter, se Deus e o povo quiserem, a reeleição de nosso irmão Nicolás Maduro como presidente da República”.
Sob os aplausos de simpatizantes do presidente, o vice disse que a eventual reeleição será a resposta ao “golpismo” da oposição e à “perseguição financeira e às sanções” dos Estados Unidos da América, tendo concluído que “Já estamos preparados para obter uma grande vitória”.
Ele ressaltou que o segundo mandato do presidente fortalecerá as vitórias do chavismo em 2017, em referência à eleição da Assembleia Constituinte - que rege com poderes absolutos desde agosto e foi objeto de contestação pela oposição e por países civilizados - e as eleições regionais, ganhas em 18 de 23 governos, no mês de outubro último.
O vice-presidente previu que, agora, “vamos ter a grande maioria das prefeituras”, nas votações de 10 de dezembro próximo, nas quais os principais partidos opositores não participarão, o que é natural nas ditaduras, diante da imposição de condições antidemocráticas.
A candidatura em apreço é anunciada a dois dias do início de diálogo entre governo e oposição, na República Dominicana, na tentativa de se obter entendimento para a solução das graves crises social, moral, política, econômica, administrativas, entre outras, que levaram o país ao completo abismo e à bancarrota, a exemplo da moratória declarada pelo governo, diante da falta de recursos para pagar seus credores.
O anúncio em tela mereceu severas críticas da oposição, à vista do que foi dito por um líder, que “Se Maduro quer que a crise econômica seja resolvida em 2018, a única coisa que deve fazer é ir embora e permitir que a Venezuela eleja um governo honesto e eficiente”.
Causa espécie que o mandatário do país, com baixíssima popularidade, algo em torno de apenas 15% a 20% da preferência da população, que deve ser aquela que usufrui das benesses do regime totalitário, o que demonstra, de forma incontestável, a sua rejeição para representar a vontade do povo, ainda tenha a indignidade de querer continuar comandando a nação, ante a alta desaprovação da sua presença no governo.
Alega-se que, com violenta queda dos preços do petróleo, em 2014, o governo venezuelano reduziu, de forma drástica, as importações que o país é historicamente dependente, fato que implicou em seríssima escassez de alimentos e medicamentos.
O certo é que a grave crise econômica obrigou a Venezuela a declarar, em data recente, moratória por um grupo de credores e agências de classificação de risco, após o atraso no pagamento de juros da dívida.
O governo venezuelano tenta renegociar o passivo, estimado no valor de 150 bilhões de dólares, cuja dívida é reflexo de quatro anos consecutivos de recessão e de má gestão, a exemplo da inflação que, segundo o FMI, poderá atingir o pico de 2.300%, no corrente ano.
A situação econômica da Venezuela é tão crítica e preocupante que especialistas em finanças asseguram que o presidente poderá optar por calote seletivo, para financiar sua campanha, por meio da projeção de imagem falsa de recuperação, o que exporia o país a embargos e processos judiciais, com resultados perigosos para a economia, que tende a se declinar ainda mais.
Por amor à imbecilidade e à burrice pueris, não somente os brasileiros, mas os latinos se encontram onde estão mergulhados em dificuldades, sendo apenas assistidos por alguma forma de benefício do Estado, sem a devida prestação dos serviços dignos de saúde, educação, saneamento básico, infraestrutura, segurança pública, entre outros, por terem acreditado nas promessas de fácil transformação social, como se a igualdade social se operasse por meio de regime já superado e obsoleto, em contraposição às conquistas da humanidade, com o aproveitamento dos avanços da ciência e da tecnologia.
Na verdade, o aval do povo aos socialistas não passa de cheque em branco para a prática de atos contrários aos direitos humanos e aos princípios democráticos, os quais depois passam a executar atos próprios da tirania e do despotismo, a exemplo do que acontece na Venezuela, que seria, não muito longe, acompanhada pelo país tupiniquim, ante a sintonia de pensamento e de ideologia intrínsecas do governo, em boa hora, afastado do cargo pelo crime de responsabilidade fiscal, mais precisamente pelos rombos causados nas contas públicas.
É evidente que a renovação do mandato do presidente, na forma deletéria como ele vem conduzindo - não é nem governando - a Venezuela, parece brutal despropósito, em especial, por parte das autoridades constituídas, que permitem que pessoa absolutamente desqualificada passa comandar importante país, detentor que é da quarta reserva petrolífera do mundo, mas se encontra mergulhado em profundas e gigantescas crises de natureza diversa, além de ter conduzido o povo aos frangalhos da civilidade, com a imposição do famigerado regime socialista, em que a igualdade social nada mais é do que a vida em martírio decorrente do brutal e generalizado desabastecimento, em especial de alimentos e remédios.   
Em segundo plano, verifica-se que o povo só pode estar dopado, em completo estado de letargia, por aceitar a submissão ao penoso, cruel, maléfico e retrógrado sistema socialista, conforme mostram a truculência e a insensibilidade nos casos em que o povo tentou demonstrar o seu inconformismo contra os métodos violentos e desumanos adotados pelo governo.
Em termos de bom senso e razoabilidade, é absolutamente inconcebível se apoiar à recondução de presidente que conseguiu levar o país e seu povo à miséria e às piores e mais graves crises, entre outras, social, moral, política, econômica e administrativa, com destaque para o terrível desabastecimento de alimentos e remédios, em escala extremamente alarmante, sobretudo porque o país é dependente de importação, por não produzir o suficiente para o consumo interno.
Essa precariedade pode se complicar ainda mais com a economia reconhecidamente em farrapos e o governo já até deixou de pagar seus credores, o que implica maior dificuldade para a importação dos produtos necessários ao abastecimento do país.
De seu turno, é incompreensível que presidente totalitário e desumano, que lidera o país com mão-de-ferro, em completo desprezo aos direitos humanos e princípios democráticos, a par da clara degeneração gerencial e administrativa, ainda tenha a insensatez e a insensibilidade de pretender continuar o comandando, em evidente situação adversa, visivelmente incompatível com a grandeza do povo da Venezuela, diante da possibilidade de se contribuir para arrasar ainda mais a sua já péssima situação socioeconômica. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 3 de dezembro de 2017

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