quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A sonhada moralização do país

O maior político brasileiro disse que o juiz federal responsável pela Operação Lava-Jato, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal mentem e são "dignos de pena".
Diante de cartazes com protestos contra eventual prisão dele, o petista declarou que percebe que as pessoas estavam sentindo "um pouco de dó" dele.
Em seguida, ele disse: "Olha, comecem a ter dó do Moro, comecem a ter dó do Ministério Público Federal e comecem a ter dó da Polícia Federal. Eu quero saber como é que eles vão viver e passar para a história a mentira que eles inventaram".
O político participou de debate sobre educação, ciência e tecnologia promovido pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), na companhia de outros importantes petistas.
Na ocasião, ele disse que não precisa provar sua inocência, porque "Eles que me acusaram, eles que provem minha culpa. Eles têm até o dia 24 de janeiro para provar minha culpa. Têm que mostrar um documento que o apartamento é meu".
Ainda no citado evento, o político atribuiu mentiras à imprensa, ao afirmou que "A imprensa conta uma mentira. A Polícia Federal pega essa mentira e faz um inquérito. O inquérito é mentiroso. Aí vai pro Ministério Público, pega o inquérito mentiroso e faz uma denúncia mentirosa".
O discurso do petista precisou ser interrompido por várias vezes, em razão dos aplausos, por meio de palmas e gritos de apoio às palavras proferidas por ele, que está convencido de que o juiz federal de Curitiba poderia rejeitar as denúncias, mas não o fez, porque "Ele reconhece que o apartamento não é meu".
O Tribunal Federal Regional da 4ª Região marcou, para o dia 24 de janeiro vindouro, o julgamento do político, com relação ao caso do tríplex, onde ele foi condenado à prisão, por nove anos e seis meses, sob o enquadramento nos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em razão dos benefícios recebidos da empreiteira OAS, em troca de influência política.
Depois da referida decisão, o político afirmou que lutará "até as últimas consequências" para voltar ao Palácio do Planalto e que, "sendo candidato ou não, eles vão ter que nos engolir em 2018".
O tribunal de segunda instância, que fica em Porto Alegre (RS), é responsável por confirmar, alterar ou reverter a aludida sentença proferida pela primeira instância.
Se a condenação for ratificada pelo tribunal de apelação, o político será enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que implica a impossibilidade de ele disputar as eleições presidenciais, embora já se vislumbra a cogitação de múltiplos recursos, com vistas a se permitir que a sua candidatura não sofra solução de continuidade.
Outra possibilidade palpável, diante das circunstâncias, é a imediata prisão do político, eis que podem ser esgotadas as chances de recurso, em liberdade, contra eventual decisão desfavorável da corte de apelação.
A defesa do político estranhou a celeridade na tramitação da ação em causa, tendo afirmado que agora também é preciso debater o caso "sob a perspectiva da violação da isonomia de tratamento, que é uma garantia fundamental de qualquer cidadão. Esperamos que a explicação para essa tramitação recorde seja a facilidade de constatar a nulidade do processo e a inocência de Lula".
Não obstante, o próprio interessado disse que não podia "reclamar de pressa", porque sempre criticou a lentidão da Justiça, embora isso não passe da boca para fora, porque a presidente do PT afirmou que o político teria cobrado tratamento isonômico do Judiciário.
Quanto ao mérito, a defesa nega, de forma veemente, que o político tenha cometido crimes.
Ainda bem que esse imbróglio do tríplex se encaminha rapidamente para desfecho, com o possível pronunciamento do tribunal de apelação, caso um dos desembargadores não peça vista dos autos, o que empurraria a decisão para mais distante e isso é tudo que a sociedade não aceita mais, diante da extrema necessidade de se saber se o petista mente, ao afirmar que é o mais inocente dos mortais.
Na tentativa de se passar por o suprassumo da pureza moral, o petista incita a militância petista a ter dó dos integrantes da Lava-Jato, porque eles são mentirosos e dignos de pena, por terem concluído pela culpabilidade dele, somente porque não foi possível provar que o apartamento em questão não está registrado em nome dele, quando não é preciso que o imóvel esteja em nome de alguém para se provar a culpa pela prática de crimes, eis que existe a figura jurídica de ocultação de patrimônio.
Isso significa exatamente forma obtusa de não mostrar a existência de bens adquiridos por meios escusos, que não podem parecer que eles são seus, de direito, mas os são de fato, que pode ser o caso em comento, ante as evidências levantadas pelas investigações, à vista das delações, das testemunhas, das planilhas, dos demonstrativos, e das demais provas juridicamente válidas, inclusive da declaração explícita do ex-proprietário da OAS, que disse que o tríplex sempre pertenceu ao petista, não deixando dúvida quanto à propriedade do imóvel.  
Diante disso, parece não passar de ingenuidade que o petista exija a apresentação de um documento provando que o tríplex é dele, porque existem montanhas de provas de que as reformas realizadas no imóvel têm as características das exigências dele e da sua família, não deixando a menor dúvida de que o dono do imóvel tem muito bom gosto e somente o seu poder e a sua influência seriam capazes de convencer o então dono da OAS a gastar tanto dinheiro, desviado de contratos com a Petrobras, para a efetivação de requintadas reformas.
Como não precisa provar a sua inocência, se o acusado de ter recebido benefícios por meio de propinas é o petista, que não conseguiu contestar os fatos objeto da denúncia, tendo sido, por causa disso, condenado à prisão, dando a entender, ao contrário, que ele é vítima e os culpados pelas irregularidades apontadas são os integrantes da Operação Lava-Jato, em total demonstração de inversão dos fatos, por que na tentativa de iludir aqueles que ainda acreditam nessa farsa, que não se sustenta diante das evidências?    
A sociedade anseia por que o processo referente ao questionado tríplex seja julgado e o seu resultado reflita exatamente a realidade sobre os fatos levantados pela Operação Lava-Jato, que tem sido exemplo de imparcialidade, seriedade, competência e eficiência, mostrando que a corrupção precisa ser atacada pela raiz, não importando a relevância dos envolvidos, e a impunidade dos criminosos de colarinho branco seja exterminada para sempre, como forma da consecução da tão sonhada moralização da administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de dezembro de 2017

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